Um exagero de homenagem

Em Speed Racer, que estréia nesta sexta, excessos não estragam a experiência

Artur Tavares

Publicado em 09/05/2008, às 08h43 - Atualizado às 08h55
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<i>Speed Racer</i>: exagerado, mas honesto com os fãs - Divulgação

O esforço dos irmãos Wachowski em levar para as telonas as psicodélicas cores e as mais improváveis pistas e engenhocas para carros de corrida futuristas em Speed Racer é memorável, mas ultrapassa o tênue limite entre o aceitável e o exagerado.

No filme, que estréia nesta sexta-feira, 9, os diretores (os mesmos da trilogia Matrix) foram fiéis a cada um dos cinquenta e dois capítulos de uma das maiores animações japonesas de todos os tempos, com episódios exibidos por mais de vinte anos em todo o mundo.

A obsessão dos Wachowski com o aspecto visual de sua produção atrapalha pela mistura excessiva de cores fortes, como roxo, rosa, azul, verde. Agradáveis mesmo só as cenas de Speed (Emily Hirsch) e Trixie (Christina Ricci) namorando no Mach 5 em um morro repleto de grandes e brilhantes rosas vermelhas, que contrastam direitinho com o branco e rubro do carro do protagonista e o curioso pequeno rosto de Ricci.

Outro exagero aparece no percurso dos circuitos, que chegam a se estender por "5 mil quilômetros!" - palavras do locutor das corridas - de infinitos loopings, caminhos estreitos e muito altos, desertos com dunas gigantes e uma selva com uma vasta vegetação.

Se por um lado existe um exagero visual, por outro o espectador se depara com uma história muito concisa, construída como uma síntese de toda a história da série animada, na qual o garoto Speed perde, ainda muito jovem, o seu irmão Rex, morto em um acidente de carro em um dos mais perigosos rallys do mundo. Decide então se tornar piloto e enfrentar a máfia que controla o resultado das provas.

Speed acaba conhecendo um poderoso aliado, o misterioro Corredor X, que disfarça sua identidade com um uniforme todo preto, exceto por um "X" branco em sua cabeça e óculos escuros. Porém, qualquer um que assistiu a pelo menos um capítulo do seriado Lost não tem como não acertar: o velocista é ninguém menos que Jack Sheppard. Não Matthew Fox, ator que interpreta o herói da ilha misteriosa, e sim o próprio médico/guerrilheiro/amor-da-vida-da-Kate. Fox não conseguiu se desprender de um personagem para interpretar outro, nem pareceu interessado por sua atuação, marcada por trejeitos canastrões e frases de efeito.

Para o resto do elenco, elogios. Ricci, em seu primeiro blockbuster desde A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, de 1999, não parece ter mais do que 18 anos como a namorada de Speed. Seu tamanho e corte de cabelo retrô garantem o caráter juvenil da personagem (a atriz tem vinte anos a mais do que ela). Hirsch, que esteve no indicado ao Oscar Na Natureza Selvagem, acompanha a evolução de seu personagem de maneira natural. No apoio, cinco pérolas: John Goodman como Pops (pai de Speed), Susan Sarandon como Mom (mãe de Speed), Paulie Litt (Gorducho, irmão mais novo de Speed) e os macacos Willie e Kenzie, que interpretam Zequinha. São eles que garantem as cenas de comédia do filme.

Para os fãs mais aficionados, é bom esperar pelo pior. Speed vai mesmo substituir seu carro por uma versão mais adequada aos devaneios lisérgicos dos Wachowski, o Mach 6, que vem com capô à prova de balas, escudo nas quatro rodas, steps automáticos e três turbinas em sua traseira, tudo isso operável por somente um botão.

E mesmo com o excesso visual e esta natural evolução do carro na adaptação - convenhamos, não é a primeira vez que um filme muda características de um personagem, a clássica armadura com mamilos do Batman que o diga -, Speed Racer se mantém uma homenagem fiel, honesta e respeitosa daquele que é um dos mais cultuados desenhos animados do mundo.

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