Terceiro e último dia do evento que marcou o retorno do Centro Cultural Martin Cererê mostrou as várias facetas do rock goiano
Pedro Antunes, de Goiânia Publicado em 17/11/2013, às 16h15 - Atualizado às 17h41
Se estivesse no Centro Cultural Martin Cererê, em Goiânia, no último sábado, 16, a atriz Christiane Torloni estaria feliz. Era dia de rock no festival de música independente Vaca Amarela. A terceira e última noite do evento que chegou trouxe a união de hardcore (e seus muitos gêneros) e boas pitadas de rock stoner local.
Goiânia é conhecida nas outras praças de música independente por ser uma grande provedora de bandas de rock pesado, garageiro, batidas lentas e riffs viscerais. Foi assim com MQN e, depois, com o Black Drawing Chalks – mais recentes crias desta safra. Agora, é a vez do Hellbenders, banda que começou ainda menor de idade. Eles atingiram a maturidade e, com ela, veio o poderoso disco de estreia, Brand New Fear, lançado em setembro, produzido por Carlos Eduardo Miranda.
O quarteto foi gestado nos festivais independentes da efervescente cena da capital de Goiás e a apresentação no Vaca deste ano, em horário nobre (antes apenas do headliner Dead Fish), evidenciou o poder que a banda tem em fazer as cabeleiras do público se agitar insanamente.
Baixo, guitarra, bateria e a voz rouca de Diogo Fleury são como um soco no estômago, uma pancada sonora atrás da outra. A sonoridade se posiciona bem entre o stoner e o garage, entre Kyuss (para quem eles já fizeram show de abertura) e Mastodon. O grupo, que canta em inglês, se prepara para viajar para o festival SWSX, em Austin, no Texas, no ano que vem.
No palco do Vaca, as constantes alterações de velocidade criam uma atmosfera capaz de cativar até os menos chegados. Hellbenders parece ser a trilha sonora certa para uma viagem de carro através de um deserto árido e seco. A banda passeou com velocidade pelas músicas do disco, como “Smashing Cars, Chasing Stars”, “Brande New Fear”, “Outbust” e “Hurricane”. Na última, aliás, banda e público fizeram uma festa de banho de cerveja – impossível sair se molhar um pouco, ou se atordoar com a pancada do Hellbenders.
Modelos para uma geração hardcore
Do lado das bandas de hardcore, a adoração ao Dead Fish, atração que fecharia o Vaca Amarela 2013, era evidente. Isso seja nas canções ou nos discursos dos vocalistas, como foi o caso do líder do Vero HC. A banda capixaba, com mais de 20 anos de estrada (ela começou em 1991), garantiu a presença de uma legião de seguidores em Goiânia.
A programação deu conta as muitas facetas do rock goiano, desde às 18h, quando deu espaço para a banda iniciante Criatura Nuclear, que fazia o segundo show, segundo disse o vocalista entre as palavras de ordem gritadas ao microfone.
Red Light House reduziu as batidas, enquanto Missa de Corpo Presente inaugurou o hardcore mais veloz e extremo, sonoridade também aderida pela banda Entre os Dentes.
A programação alternava os palcos dos dois teatros, Pygua e Ygua, o que é uma estratégia interessante, porque além de fazer o público circular pelo icônico Martin Cererê, ninguém é obrigado a ouvir todos os shows. Do lado de fora, é possível comer um cachorro-quente, beber uma cerveja ou participar da ativação da marca Ray-Ban, patrocinadora do evento.
As rodas de pogo (aquela em que jovem formam um círculo e começam a trocar pancadinhas leves entre si) foram crescendo aos poucos durante o terceiro dia do Vaca Amarela. A OFF 1984, que subiu ao palco às 20h, já conseguiu angariar cerca de 20 pessoas para a brincadeira. O número que foi crescendo exponencialmente ao longo das apresentações de Coletivo Sui Generis (que une hip-hop e versos falados ao hardcore), Cherry Devil, Lost in Hate, Kamura e Aurora Rules, dona de uma grande quantidade de fieis seguidores, que tornara o teatro em uma espécie de arena.
Don Fernando, uma banda australiana de stoner rock, foi a única atração estrangeira da terceira e última noite do festival. Eles se surgiram diante de um público visivelmente curioso e receptivo no palco Pygua – depois deles, no mesmo local, tocaria o Hellbenders. E, gritos de “muito obrigado”, em português, e “motherfuckers!” (não precisar traduzir, certo?), a banda garantiu seu espaço entre os destaques do dia.
Encerramento do festival
Nenhuma outra banda do dia, contudo, conseguiu criar comoção igual ao que o Dead Fish fez ao subir no palco do Vaca Amarela. Gritos ensurdecedores só conseguiram ser abafados quando o quarteto soltou as primeiras notas de “Autonomia”. A banda de Vitória, no Espírito Santo, também cresceu na cena independente e, por isso, sabe muito bem como se portar em um festival como este – a energia precisa fluir do palco para o público.
Rodrigo Lima, vocalista de 40 anos, é uma atração à parte do grupo. Ele salta, grita, canta, chuta, chega bem próximo do público a ponto de fazer a grade que separa fãs e banda envergar com o peso das pessoas querendo se aproximar dele.
A apresentação do Dead Fish no Martin Cererê trouxe dois shows em um. O primeiro acontece no palco, com Rodrigo e o restante da banda – Alyand (baixo), Marcos Melloni (bateria) e Rick Mastria (guitarra) –, o outro é o próprio público. Para todos os lados que se olhasse era possível ver alguns sujeitos tentando surfar nas mãos da plateia, enquanto algumas garotas subiam nas costas dos namorados para enxergarem melhor e a roda de pogo fervia. Na grade, os fãs equilibravam-se para ficar o mais próximo da banda possível.
A banda também não decepcionou no palco. O guitarrista Rick fez apenas o quarto show como integrante do Dead Fish (ele substituiu Phillipe Fargnoli, que deixou a banda em setembro) e mostrou qualidade e velocidade no instrumento, ainda que seja difícil entrar em harmonia com um grupo que possui 22 anos de estrada.
O hardcore do Dead Fish foge das firulas e é entregue na velocidade máxima. As músicas fulminantes começam e acabam em questões de minutos e, logo, começa uma outra. “Vamos rápido para tocar tudo”, disse Rodrigo, ao microfone. E eles foram.
“Contra Todos”, “Viver”, “Venceremos”, “Zero e Um”, “Mulheres Negras”, “Queda Livre” e os hits “Bem Vindo ao Clube” e “Sonho Médio” apareceram a longo da performance do grupo, com pouco mais de mais de 60 minutos de duração, e foram cantadas à exaustão pela plateia alucinada.
O teatro do Martin Cererê, conhecidamente quente, ferveu. Cerca de uma hora depois do Dead Fish ter deixado o local, o calor e umidade ainda se mantinham ali, como herança da noite.
O último acorde do festival, contudo, não foi da banda capixaba. O músico Daniel Belezza, mítica figura da cena paulistana, subiu ao palco com uma guitarra pronta e executou “Detalhes”, clássico de Roberto Carlos, para as pouco mais de 10 pessoas que ainda estavam presentes no teatro, de sorriso no rosto – certamente foi um dia agitado. O verso final, “não adianta nem tentar me esquecer”, soou poético para encerrar o festival que voltou para casa, o Martin Cererê, depois de dois anos distante.
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