Na primeira turnê pelo Brasil, o grupo de Nova York mostrou quase todo seu repertório na Via Funchal
Por Stella Rodrigues Publicado em 02/02/2011, às 17h05
Dificilmente alguém saiu do show do Vampire Weekend na noite desta terça, 1, em São Paulo, reclamando que "faltou a minha preferida". A soma de uma jovem carreira e um repertório composto de canções curtas garantiu que a banda tocasse quase todas as músicas de seus dois discos na apresentação de pouco mais de uma hora, realizada na Via Funchal. Do trabalho de estreia, que leva o nome da banda, apenas a faixa que o encerra, "The Kids Don't Stand a Chance", ficou de fora. Do recente Contra, eleito pela Rolling Stone Brasil como o segundo melhor álbum internacional de 2010, faltou a sonífera "Taxi Cab".
Se a primeira impressão ao entrar na casa de shows paulistana era de que a noite poderia cair no desânimo, já que os espaços vazios na plateia eram bastante perceptíveis (segundo informações da assessoria de imprensa da Via Funchal, quatro mil pessoas estavam presentes), os fãs de Vampire Weekend mostraram que a pecha de público blasé que muitas vezes é associada ao indie não caberia em nenhum momento na performance do grupo, carregada de sons que visitam África, Irlanda e outros lugares, misturados ao bom e velho rock.
Apesar de ter mostrado boa parte de suas canções dos álbuns completos - vale lembrar que o grupo também colocou alguns EPs no mercado - o set list foi muito bem pensado, fugindo da sensação de que aquela era apenas uma playlist dos discos do grupo tocada no modo shuffle. Equilibrando bem singles com faixas menos conhecidas, trechos mais animados com outros mais calmos, os quatro garotos de Nova York com cara de comportados garantiram que todo mundo dançasse até o fim, fazendo com que que o público se dispersasse apenas em algumas poucas ocasiões (embora algumas falhas no som propiciassem algum afastamento da plateia).
O começo foi com "Holiday", que também entrou para a lista da Rolling Stone Brasil como a sexta melhor música internacional de 2010: assim que subiu ao palco, às 22h45, o quarteto deu início aos primeiros acordes da faixa. Na sequência veio "White Sky", mais animada, com o público já aquecido e começando a acompanhar os muitos "oh oh ohs" que fazem parte das letras do Vampire Weekend. "Cape Cod Kwassa Kwassa", a seguir, levantou, em definitivo, os poucos que ainda estavam meio alheios ao show, sem dançar ou cantar.
Foi durante a sequência de "Cousins", "Run" e "A-Punk", todos singles, que a noite atingiu seu ápice e o pula-pula tomou conta do lugar. Mais tarde, a dançante "Giving Up the Gun", acompanhada de uma apropriada luz estroboscópica, levou a banda que se consagrou com seu afro-pop-indie ao universo da música eletrônica, mudança muito bem-vinda ao ritmo do show.
Vestidos com camisas de manga longa em pleno verão brasileiro, os arrumadinhos ex-estudantes da Universidade de Columbia, escola da elite (financeira e intelectual) dos Estados Unidos, demonstraram simpatia e animação o tempo todo. Agradeceram diversas vezes a presença das pessoas em seu primeiro show em São Paulo - com direito a promessas de que irão voltar - e puxaram a cantoria e as palmas ritmadas nos vários momentos de interação. Antes de "One (Blake's Got a New Face)", o vocalista e guitarrista Ezra Koenig ensinou como a performance da música costuma acontecer - o refrão precisa da ajuda da plateia, conforme ele explicou, em um esquema de "pergunta e resposta". Animadamente, a plateia que ocupava a Via Funchal colaborou e foi elogiada pelo cantor.
Com os acordes finais de "Oxford Comma", encerrou-se a primeira parte da apresentação, cerca de uma hora depois de ter começado, e a banda deixou o palco sob uma chuva de gritos. Após uma curta pausa, Ezra, o baixista Chris Baio, o baterista Chris Tomson e o multi-instrumentista Rostam Batmanglij retornaram. O bis começou com "Horchata", que se provou uma das favoritas do público. Com ela, os anfitriões conseguiram retomar a festa do ponto em que ela tinha parado. Então, foi a vez de "Mansard Roof" entrar em cena. O frontman, antes de dar início, checou o nível de cansaço dos fãs e pediu braços para cima durante toda a execução da faixa, já que ela é a mais curta da banda. O pedido não foi um problema: o mar de estampas xadrez que ocupava o gargarejo (e o palco, já que essa também foi a escolha de figurino do vocalista) ainda mostrava pique e acompanhou tanto esta canção, como a que encerrou a noite de vez, "Walcott", terminando o que pode ser chamada de uma balada nada mal para uma terça à noite.
Se havia algum desavisado na Via Funchal, que compareceu sem estar familiarizado com as batidas tribais do Vampire Weekend, a melodia fácil de ser dançada se encarregou de tornar o show uma experiência agradável, mesmo para quem, por acaso, não soubesse cantar um refrão sequer.
A próxima parada do Vampire Weekend em sua primeira passagem pelo Brasil é no Rio de Janeiro. A banda, que já passou pelo Meca Festival, no Rio Grande do Sul, antes de desembarcar em São Paulo, faz sua terceira e última apresentação da excursão brasileira nesta quinta, 3, no Circo Voador.
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