Filipe Albuquerque Publicado em 17/07/2014, às 11h55 - Atualizado em 21/07/2014, às 10h16
Alterada em 18 de julho, às 11h57
Como qualquer artista orgulhoso de sua obra, Pitty comemora a chegada do novo disco dela, SETEVIDAS (Deck), às prateleiras das lojas. Mas, mais que isso, ela celebra o lançamento do álbum em vinil. “Acho maravilhosa essa coisa de lado A e lado B, de poder contar a história desse jeito”, diz a cantora. Pitty não pensa assim apenas por ser artista: hoje, o vinil não é só um artefato para ardorosos fãs de música, mas um objeto que tem atraído cada vez mais consumidores. Além disso, tem se estabelecido como uma peça que eleva a mídia musical ao posto de obra de arte visual.
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Nos Estados Unidos e na Inglaterra, os números das vendas de LPs não param de crescer. No país norte-americano, em 2013, foram 6 milhões de bolachas vendidas, mais de 30% de crescimento em relação ao ano anterior. No Reino Unido, o aumento do mercado foi praticamente igual: 30% maior em 2013, com 780 mil discos adquiridos.
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Por aqui, a perspectiva também é, no geral, animadora.No ano passado, a Polysom, única fábrica de vinis em larga escala da América Latina, sediada no Rio de Janeiro, prensou quase 59 mil LPs – 23.017 unidades a mais que em 2012, um impressionante crescimento de 63%. A fábrica foi reativada em 2010 após ser comprada por João Augusto, proprietário da Deck, e, desde então, colocou no mercado 135.657 LPs.
“A demanda pela fabricação cresceu junto ao interesse pelo vinil, fato que já está fazendo a turma lá na Polysom se mexer para aumentar a capacidade de produção, como estão fazendo todas as fábricas estrangeiras, lotadas de pedidos”, diz Augusto, hoje consultor da empresa. Para se ter uma ideia, a United Record Pressing, maior fábrica de vinis dos Estados Unidos, deve acrescentar mais 16 prensas às 30 máquinas que tem hoje.
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“A gente nunca teve um momento tão bom em relação ao vinil”, comemora João Paulo Bueno, analista sênior de música da Livraria Cultura, que também importa títulos internacionais para o mercado brasileiro. Segundo o representante, embora houvesse o temor de que as vendas em algum momento estagnassem (ou pior, caíssem), o crescimento é generalizado, independentemente do estilo musical. “É a volta ao mais legal do vinil, que é transformar a paixão pela música em algo tátil”, reforça Bueno.
Mas não são apenas gigantes como a Livraria Cultura que se beneficiam neste panorama. A Locomotiva Discos e a Espaço Cultural Antena Zero (Ecaz), misto de loja de discos e rádio alternativa, revelam que há brecha para o retorno de lojas nos moldes antigos: relativamente pequenas e dedicadas exclusivamente (ou quase) ao mercado musical – o tipo de loja que foi, em larga escala, fadada ao fracasso com o crescimento da música digital e da pirataria.
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Desde 2011 os irmãos Márcio e Gilberto Custódio dirigem a Locomotiva. A loja não nasceu apenas para vender vinis, mas vê hoje o formato responder por 70% das vendas das três unidades que mantém em São Paulo. Ainda assim, para os donos das pequenas redes, o momento não é tão romântico quanto parece. “Evitamos perder nosso tempo com essa ideia poética de loja de disco. Nosso lance é comercializar discos legais”, define Gilberto.
O vinil fabricado lá fora, sem similar nacional, recolhe atualmente 60% de impostos de importação, mais ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços), que varia conforme o estado, mais US$ 10 de taxa alfandegária, pagos no valor do câmbio do dia. As regras afetam diretamente o preço dos vinis. Na Livraria Cultura, o preço médio do vinil é de R$ 100. No caso dos importados, além de toda taxação, o frete também influencia o preço, já que, por ser maior e mais frágil, o vinil exige proteção especial.
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Para as bandas brasileiras, os gastos para lançar um disco no formato não são exatamente baixos – mas são, mesmo para os grupos independentes, muitas vezes possíveis. A banda paulistana Huey decidiu prensar 300 cópias do disco Ace, gravado na Califórnia e lançado em maio deste ano. Fabricada na A to Z, em Nova York, em 140 gramas, a tiragem custou US$ 2 mil, pagos pelo próprio grupo. Para o quinteto, o resultado foi empolgante. “Posso te dizer que o investimento foi barato perto do valor que tem a concretização de uma obra que saiu exatamente como a gente queria”, diz Vina, guitarrista da banda. “É aquela coisa, sonho não tem preço, né?”
Se é um “sonho” para o artista, o vinil é, para o público, um retorno a uma maneira mais íntima e completa de se relacionar com a música. Em entrevista à Rolling Stone Brasil durante a passagem por São Paulo para show no Lollapalooza, no último mês de abril, Trent Reznor, vocalista do Nine Inch Nails, resumiu esse sentimento. “Quando eu era jovem, as pessoas investiam em discos. E os discos que você comprava obrigatoriamente escutava, porque você não tinha 10 mil discos [como agora é possível ter, virtualmente] – você tinha 20, 50, 100”, afirmou o músico. “Nesse processo, aprendi muito. Houve muitos álbuns que eu comprei que não entendi de primeira – Remain in Light, do Talking Heads, e Sandinista!, do The Clash, por exemplo. A primeira vez que ouvi esses discos, pensei: ‘Não estou entendendo’. Mas depois de escutar algumas vezes, fiquei intrigado; depois de escutar dez vezes, meu cérebro cresceu. Aprendi por meio desses discos. Hoje, ouvir música é algo menos prioritário, é algo que você faz enquanto checa seus e-mails.” Com o vinil, é diferente. “O vinil tem também o ritual, a coisa física, a interação. Exige ação e não apenas passividade”, complementa Pitty.
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O processo de fabricação do vinil também pode ser manual, tal qual o trabalho de um artesão: é o que propõe a empresa Vinyl Lab, criada pelos sócios Arthur Joly e Niggas. Neste mês, eles devem dar início, em São Paulo, ao método de produção lathe cut, no qual discos de PVC são cortados um a um. Por ser um trabalho quase manual, a iniciativa é destinada apenas a projetos especiais, com pequenas tiragens. Um disco de 12 polegadas deve sair por volta de R$ 200. Já um de 7 polegadas custará cerca de R$ 150. Hoje, o PVC, já cortado no formato do LP, vem da França, o que inflaciona o preço. “A gente conseguiria baratear se a matéria prima estivesse disponível no Brasil”, informa Joly.
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