A noite da última sexta, 11, contou ainda com as batidas de Jaloo e MC Linn da Quebrada e o rock experimental e dançante de Aldo, the Band
Gabriel Nunes, de Ilhabela Publicado em 11/06/2016, às 13h22 - Atualizado em 21/09/2016, às 20h00
Com um repertório oscilando entre antigos sucessos e canções mais recentes, o trio curitibano Bonde do Rolê foi parar no meio do público em uma apresentação enérgica, repleta de letras ambíguas e animadas. No entanto, quem mais chamou atenção na noite de sexta, 10, e embalou os que estavam reunidos no palco principal na Praia do Perequê, em Ilhabela, foi a banda paulistana As Bahias e A Cozinha Mineira, que faz parte do "supergrupo" Salada das Frutas. O projeto ainda reuniu no palco, em uma apresentação catártica e surpreendente, os músicos Rico Dalasam e Liniker.
Também se apresentaram durante o segundo dos quatro dias de Vento Festival 2016 Aldo, The Band, o cantor paraense Jaloo e MC Linn da Quebrada. No geral, a noite foi permeada por incontáveis protestos políticos, canções politizadas e irreverentes e muita interação dos artistas com a plateia – já mais numerosa que a do dia anterior –, que também se mostrou mais receptiva e empolgada, mesmo com o frio persistente.
Som bruto e dançante
O grupo oriundo de São Paulo Aldo, The Band inaugurou a segunda noite de shows com uma das apresentações mais vigorosas de todo o line-up. Misturando as guitarras rasgadas do No Wave dos primeiros álbuns do Sonic Youth às batidas sampleadas do LCD Soundsystem, o quarteto executou um repertório dançante e agressivo, com canções cantadas exclusivamente em inglês.
Embora a baixa temperatura tenha sido uma constante desde o primeiro dia de evento, o frio não foi um problema para o vocalista e guitarrista André Faria e para o irmão dele, o tecladista Murilo Faria, que tiraram as camisetas e tocaram de peito de fora durante quase toda a performance do grupo.
Ao final da apresentação, após uma extensa e ruidosa jam session de noise rock, o frontman da banda paulistana reproduziu o clássico e destrutivo gesto efetuado anteriormente pelos guitarristas Jimi Hendrix e Pete Townshend, do The Who, e atirou a guitarra dele para o alto, deixando-a se espatifar contra o chão do palco. Contudo, a atitude foi recebida com certa passividade pelo reduzido número de pessoas que acompanhava a performance.
Insight
O show do cantor e compositor Jaime Melo, mais conhecido pelo nome artístico Jaloo, reuniu uma quantidade maior de pessoas do que a apresentação do quarteto paulistano. Magnetizado, o público recebeu o músico, que escondia o rosto debaixo de um capuz, sob gritos agudos e intermináveis ovações.
Às 20h10, como que convidando a plateia à própria apresentação, o paraense abriu o show com a faixa “Vem”, do disco de estreia #1. Na sequência, entre agradecimentos sinceros e espontâneos, Jaloo emendou o instantâneo hit “Insight”, faixa que condensa e resume o espírito do show do músico.
Não escapando à regra que se estabeleceu desde o primeiro dia, o apresentação de Jaloo também foi marcada por inúmeros protestos ao governo interino de Michel Temer. Aos gritos de “Fora Temer!” da plateia – alguns empunhavam placas com a frase –, Jaloo assentiu com um sorriso e disse: “Primeiramente, fora Temer! Segundamente, vamos dançar mais!”.
O paraense de Castanhal chegou ao ápice com a eclética canção “A Cidade”, faixa que representa uma espécie de convergência e sincretismo das batidas sintéticas do pop da canadense Grimes – de quem o músico é fã auto-declarado – e dos ritmos tipicamente brasileiros, como o samba e o carimbó.
Além do show, Jaloo ainda participa de uma mesa redonda, que acontece neste sábado, 11, às 15h no espaço Oca. Ao lado de Rico Dalasam, Liniker, Assucena Assucena, Raquel Virgínia e Luciana Rabassallo, ele discute questões de gênero e sexualidade na música. “Era produtor e agora virei palestrante”, brincou o músico em entrevista à Rolling Stone Brasil logo após a performance dele.
Salada das Frutas
A cantora e compositora paulista Liniker subiu ao palco por volta das 21h trajando um longo vestido preto. Pedindo para que toda a iluminação do show fosse apagada, cantou com o típico timbre rouco o blues lento de “Zero”, do EP de estreia Cru.
Ela ainda aproveitou a ocasião para prestar uma pequena homenagem ao cantor norte-americano Stevie Wonder. Improvisando ao lado da banda Caramelows, a cantora araraquarense executou um pequeno trecho da clássica “Isn't She Lovely”.
Com um repertório constituído tanto por canções inéditas quanto pelas já familiares composições de Cru, Liniker fez o show mais cheio da noite. “Vocês estão sentindo esse estado maravilhoso percorrendo o corpo de cada um de vocês?”, disse antes de entoar a faixa “Louise du Brésil”.
Após a sucinta apresentação de Liniker, subiu ao palco principal do Vento Festival 2016 o rapper Rico Dalasam. Um pouco mais reservado que o resto da Salada das Frutas, o músico abriu com a faixa “Não Posso Esperar”, do disco Modo Diverso (2015).
Na sequência, interpretou a crítica e altamente irônica “Riquíssima”, em que dialoga com o conceito do complexo de vira-lata criado pelo dramaturgo Nelson Rodrigues nos anos 1950. “É você que dá o peso da sua existência!”, declarou o músico antes de tocar “Aceite-C”.
Depois de Dalasam, o grupo As Bahias e A Cozinha Mineira realizou a apresentação mais intensa e arrebatadora de toda a noite. Em sintonia impecável, as carismáticas Raquel Virgínia e Assucena Assucena cativaram o público como ninguém com a poética “Ó Lua”.
Com um repertório constituído pelas canções que fazem parte do disco de estreia, Mulher, as vocalistas conciliaram lindamente a sonoridade das composições, assim como as temáticas abordadas (desilusão amorosa, fé, preconceito), às expressões corporais em um vistoso espetáculo musical e teatral.
Da balada romântica de “Uma Canção Para Você (Jaqueta Amarela)” à brasileiríssima “Comida Forte”, As Bahias e A Cozinha Mineira colocou o receptivo público que compareceu ao segundo dia de festival em estado catártico.
Ao final do show, juntaram-se à banda paulista Dalasam e Liniker, para encerrar o projeto Salada das Frutas. “Vocês estão preparados para essa chuva de lacre?”, perguntou a cantora araraquarense. Valendo-se de canções altamente politizadas e empoderadoras, os músicos realizaram uma ode à pluralidade étnica e sexual. “Ainda existe uma marginalização muito grande da comunidade negra e LGBT em festivais. Eventos como esse são muito bons para dar visibilidade a pessoas como nós”, disse Raquel Virgínia à Rolling Stone Brasil.
Confusão e irreverência
Como última atração da noite no palco principal, os integrantes do Bonde do Rolê se apresentaram fantasiados e ao lado de um João Bobo com a imagem de Jesus Cristo crucificado. “A gente só usa essas roupas quando tocamos na Europa, então aproveitamos que estava frio e as vestimos”, disse Rodrigo Gorky em entrevista após o show.
Em determinado momento, os músicos quebraram a quarta parede e levaram o público para dançar com eles sobre o palco. A atitude do trio curitibano não foi bem recebida pela produção do festival, que exigiu a retirada das pessoas de lá de cima.
Com uma performance dissonante do resto do line-up do dia, o grupo intercalou antigos sucessos, como “Solta o Frango”, do disco de estreia With Lasers, com canções mais recentes, como a politicamente incorreta “Rainha dos Darks”. O Bonde ainda mostrou um remix da faixa “Bateu uma Onda Forte”, da carioca MC Carol. “Nós acreditamos em uma universalização da cultura. Falta qualidade no funk, nós queremos torná-lo uma produção mais acessível e de alto nível”, declarou Pedro D’Eyrot à Rolling Stone Brasil. A apresentação da banda teve ainda uma ponta do paraense Jaloo, que foi ao palco dançar com os músicos durante a cover de MC Carol. Além do hit da carioca, o grupo também parodiou – sob violentas luzes estroboscópicas e com danças escrachadas e insinuantes – “Como é Bom Ser Vida Loka”, canção que tornou célebre MC Rodolfinho.
Pouco perto do fim, Gorky convidou a plateia para retornar ao palco, o que foi recebido novamente com ressalvas pela produção do evento. Dando de ombros e com um meio sorriso nos lábios, Gorky ironizou a situação: “Não pode, né, gente.” Contornando a saia justa, os músicos decidiram, então, se embrenhar no meio da multidão, que se empurrava contra as grades. Rindo e dançando, D’Eyrot se entregou à plateia, que o recebeu com intenso entusiasmo e euforia.
O segundo dia de shows do Vento Festival 2016 terminou no espaço Oca com a performance espontânea da MC Linn da Quebrada. Ao contrário do que aconteceu no dia anterior – que contou com os vocais etéreos e intimistas de Serge Erege nesse palco menor – a MC paulistana conseguiu lotar o diminuto local e as cercanias. Enquanto algumas pessoas dançavam intrepidamente ao som das irreverentes composições da simpática cantora, outras, um pouco mais distantes do ambiente, se aqueciam ao redor de uma fogueira, mas sem deixar de contemplar a inusitada performance.
O Vento Festival 2016 continua neste sábado, 11, veja a programação completa abaixo.
11 de junho, sábado
19h – Filipe Catto (Palco Vento)
20h30 – Karina Buhr (Palco Vento)
22h – Aláfia (Palco Vento)
23h30 – Johnny Hooker (Palco Vento)
00h30 – Lay (Oca)
01h30 – Free Beats (Oca)
12 de junho, domingo
15h – Dom Pescoço (Palco Vento)
17h – O Grande Grupo (Palco Vento)
18h – Bruno Morais (Palco Vento)
Palestras
11 de junho, sábado
Sexualidade e Gênero na música
Às 15h, com Jaloo, Rico Dalasam, Liniker, Assucena Assucena, Raquel Virgínia, Luciana Rabassallo
Eu na política e facilitação para o diálogo. "Não a polarização".
Às 16h, com: Caio Trendolini
O que é a Cultura Maker? Uma economia compartilhada, com fim da grandes instituições?
Às 17h, com: Rodrigo Guima, Oswaldo Oliveira.
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