- The Last Kingdom, Vikings e Assassin's Creed Valhalla (fofo: reprodução/ Netflix / History Channel / Ubisoft)

Viking é pop? Séries, filmes e até games: por que e como o povo escandinavo se tornou o novo queridinho da cultura pop? [ANÁLISE]

As lendas e histórias reais do povo guerreiro são um terreno fértil para produtos audiovisuais

Vinicius Santos Publicado em 05/08/2020, às 07h00

O Viking é pop. Não tem como duvidar. Mais e mais, narrativas protagonizadas pelo povo guerreiro da Escandinávia (região que atualmente corresponde a Noruega, Dinamarca e Suécia), ou pelos deuses que eles adoravam, invadem o entretenimento. Listaremos vários exemplos de obras com Vikings abaixo, não se sinta pressionado a conhecer todos, apesar de você certamente ter ouvido falar da maioria.

No cinema, mais popular atualmente é a trilogia de longa-metragens animados Como Treinar o seu Dragão. Mesmo sendo completamente fantasiosa, a aventura de Soluço e os habitantes da ilha de Berg pega inspirações estéticas e culturais das nações Vikings. É impossível não citar o Thor de Chris Hemsworthtrazendo mitologia ao universo lúdico do MCU.

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Já na televisão, universo onde os pagãos germânicos são mais dominantes, temos as séries Vikings, que busca adaptar histórias reais do povo pagão, O Último Reino, da Netflix, que conta as guerras dos Vikings contra os Saxãos na Inglaterra. Até tem paródias e sátiras, como a comédia Norsemen, que faz piada com o estilo de vida dele e Ragnarok, que tenta recontar a mitologia nórdica na Noruega moderna.

Nos games, o jogo do ano de 2018, God Of War, mostra o protagonista Kratos se aventurando no mundo nórdico de Midgard e enfrentando os deuses dos Vikings, enquanto o novo Assassin's Creed Valhalla, que será lançado dia 17 de novembro, tenta dar vida as invasões e assentamentos do povo na Inglaterra.

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E a lista não para por aí. Literatura, música, teatro, todas essas áreas artísticas foram tomadas de assalto por símbolos e personagens dessa etnia? Mas por que esses guerreiros que viveram e lutaram em algumas das regiões mais inóspitas o mundo encanta tantas audiências até hoje? É isso que iremos desvendar.

Após uma sutil, mas relevante reintrodução de personagens do paganismo germânico no final do século XIX, os Vikings tiveram uma jornada fascinante para conquistar, como fizeram no passado, um lugar sólido no imaginário popular de todo o mundo.


Sim, agradeça as óperas (e a J.R.R. Tolkien)

O Anel do Nibelungo (gravura feita por Josef Hoffman, 1876)

 

Essa será a parte mais histórica e categórica dessa análise. Será um pouco parecida com as apostilas de escola, mas garantimos que vai valer a pena. No século XIX, teve início um processo de valorização da cultura Viking na Europa. Coleções de antiquários como o do tradutor britânico George Webbe Dasent  fascinavam membros da alta sociedade.

Tornou-se unanime a noção de que, sendo o último povo germânico a ser cristianizado, o legado Viking confira um patrimônio histórico muito importante como principal fonte de memória do paganismo. Não demorou muito para que a arte abraçasse essa memória.

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Sagas do povo nórdico foram traduzidas para o inglês pela primeira vez em 1876, com a História de Sigurd e a Queda dos Nibelungos, um poema épico com personagens famosos da mitologia, como o herói Siegfried e a guerreira Brunhild. Na Alemanha, o grande compositor Richard Wagner fez a ópera O Anel do Nibelungo, uma obra livre, ainda que baseada em personagens do imaginário Viking.

Depois disso, sabe quem foi inspirado pela história do povo dos semideuses Nibelungos? Com histórias de amor, heroísmo e um anel do poder? Ele mesmo, J.R.R. Tolkien em O Senhor dos Anéis.

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Apesar de se tratar de um mundo completamente novo, a Terra Média de Tolkien respira elementos estéticos e mitológicos Vikings. Exemplo mais claro desse contato é colocar a casa de um Hobbit do lado de uma casa nórdica antiga. É sério! Veja:

O sucesso sem precedentes de obras com inspirações nórdicas (não só Tolkien mas até a Disney olhou para o paganismo por histórias como a da Branca de Neve e os Sete Anões, oriunda de uma lenda da deusa Freya) colocou a cultura Viking no mapa do entretimento. Vikings dão dinheiro e (spoiler da próxima parte) Stan Lee notou isso enquanto estava na Marvel.


O Thor mitológico não é loiro, e daí?

Os quadrinhos foram uma parte importante no processo de transformar o mito em algo palpável e atrativo para novos públicos. Stan Lee e Jack Kirby foram protagonistas nessa parte ao criar o Thor da Marvel nos anos 1960, era de prata das HQs. 

Transformar o reino divino de Asgard em um planeta super tecnológico, o Rei dos deuses Odin em um pai e mentor para Thor e colocar as aventuras do Deus do Trovão na nossa Terra moderna tornaram a mitologia nórdica muito mais acessível. Você não precisava mais saber falar Islandês ou ver ópera para apreciar um super-herói com um martelo que solta raios.

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E isso não tira valor da HQ clássica. Foram mudanças interessantes, parte de um processo natural de migrar símbolos religiosos e culturais para o formato de produto audiovisual, que ajuda a manter a história Viking viva e constantemente revisitada.

O resto é história bem conhecida. Através de diversos quadrinhos, europeus e estadunidenses, muito além da Marvel, figuras da mitologia nórdica saíram do completamente do espectro religioso hoje batem carteirinha na ficção e fantasia. Veja alguns exemplos clássicos:

Lembra do Máskara? O acessório sobrenatural que dava poder ao personagem de Jim Carrey era criado pelo próprio Deus da Mentira, Loki:

Para os amantes do metal, os discos da clássica banda Manowar são um prato cheio de mitologia nórdica, especialmente Gods of War (2007):

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A série Deuses Americanos, da Amazon, atualiza a figura de Odin com o sarcástico Mr. Wednesday, de Ian McShane:

E por aí vai. Seja em mito ou drama histórico, os Vikings já deixaram uma marca sólida na indústria do entretenimento e não mostram sinais de desânimo, muito pelo contrário.

O fascínio popular por esse povo segue impulsionando todo tipo de expressão cultural focada neles. O curioso é que aspectos das sociedades nórdicas como a união da comunidade tribal para sobreviver, a igualdade de gêneros sem paralelos na mesma época, com mulheres liderando e batalhando juntamente dos homens e descobertas científicas, como a navegação e a forja, deixam importantes lições até para nossa sociedade moderna. 


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