Cantora prioriza o material do último disco dela, Recanto, que traz sonoridades ousadas e que pouco funcionaram em um ambiente aberto, para o grande público
Pedro Antunes Publicado em 19/05/2013, às 01h45 - Atualizado às 18h29
Gal Costa segue na turnê de Recanto, disco todo criado por Caetano Veloso especialmente para a voz dela. Canta em casas lotadas pelo país, com um repertório moderno, cheio de reverbs, loops e batidas eletrônicas. Nada disso, contudo, combina com um evento como a Virada Cultural: gratuito e ao ar livre.
Por isso, Gal Costa pecou. Pecou porque não entendeu que a sonoridade difícil de Recanto não funciona para uma apresentação como esta, realizada na noite deste sábado, 18, no palco Júlio Prestes. A Avenida Duque de Caxias, que deu para o lugar do show, estava cheia de fãs da cantora, gente que não têm a oportunidade de ouvir o canto da Gal, aquela que é considerada, por muitos, uma das melhores cantoras do país.
Domenico Lancellotti (bateria), Pedro Baby (guitarra e violão) e Bruno di Lullo (baixo), a banda jovem de Gal, trabalharam com excelência e timbres perfeitos. Ainda assim, apresentação, quase toda, soou anticlimática. Pelo menos no início, quando ela se apresentou sentada.
“Da Maior Importância”, do disco Índia, de 1973, foi escolhida para abrir o show. Um clássico da intérprete, mas com uma roupagem minimalista que pegou um público acostumado com a Gal clássica desprevenido. Foi como no disco Recanto Ao Vivo, registro ao vivo lançado recentemente. Roteiro seguido à risca: “Tudo Dói”, “Recanto Escuro” e “Divino Maravilhoso”, vieram na sequência. A última, um clássico do cancioneiro da cantora, ganhou algum esboço de aprovação da plateia, mas era pouco para alguém da magnitude de Gal.
Gal não parecia estar contente. Em outro momento, pediu para que os fotógrafos que estavam próximos do palco parassem com os flashes, pois atrapalhavam quem estava no palco.
Foi somente depois de “Neguinho”, outra de Recanto e 11ª do show, que Gal enfileirou os hits e a apresentação engatou a segunda, terceira e quarta marchas. “O Amor”, “Baby”, “Vapor Barato”, “Um Dia de Domingo” vieram a seguir e mostraram o grande potencial do repertório de Gal, deixado de lado para dar lugar ao novo trabalho.
O questionamento, em si, não é sobre o furor artístico de mostrar a sonoridade atual, mas o seu funcionamento em um palco gigante, para um público visivelmente não adaptado a isso. Quando Gal cantou a funkeada “Miami Maculelê”, que encerrava a primeira parte da apresentação, parte do público já se retirava.
Perderam um bis poderoso, com “Força Estranha”, “Meu Bem, Meu Mal” e “Gabriela”, mas quem pode culpá-los, depois de uma primeira impressão difícil?
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