Evento chega à décima edição estabelecido como importante ação para fazer com que o público circule pela região
Pedro Antunes Publicado em 18/05/2014, às 06h02 - Atualizado às 13h36
Como paulistano e morador do centro da cidade há quase 20 anos, é difícil se perder por entre as ruelas e vias escuras do coração da capital. A pé, desviando dos palcos da Virada Cultural, contudo, isso pode acontecer. E, nessa hora, não resta muito a fazer a não ser apressar o passo ou voltar por onde veio. Não deixa de ser melancólica uma situação como essa, experimentada pela reportagem da Rolling Stone Brasil ao longo da noite deste sábado, 17, e início de domingo, na décima edição da Virada, na qual a fragilidade da região central, os perigos e anseios daqueles que passam por lá, dividem espaço com a festa.
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Propusemos, neste ano, um roteiro para as 24 horas de evento, com o melhor das atrações e, claro, um tempo para o descanso merecido – é possível acessá-lo no link acima. A ideia era seguir à risca, mas foram necessárias algumas mudanças de última hora. A pífia qualidade de som no palco São João durante o show do Uriah Heep foi uma delas. Durante as três primeiras músicas, era praticamente impossível ouvir o que era cantado e o rock pré-histórico da banda foi trocado pelo samba de Martinho da Vila na voz do pernambucano Otto.
O saldo do primeiro dia, contudo, foi extremamente positivo, muito graças à força dos artistas escolhidos, que fizeram justiça ao destaque. Na Júlio Prestes, Ira! e Baby do Brasil encararam públicos bastante diferentes, mas com igual dedicação. O lugar escolhido para o palco, o maior de toda a Virada, já é especial por si. Caminhando pela Avenida Duque de Caxias em direção à estação Luz, a imponente estação Júlio Prestes se agiganta ainda mais, completamente iluminada. O relógio no topo da torre, assim como celulares e câmeras fotográficas apontados para o palco, indicam que o tempo ainda seguiu o seu implacável curso adiante, mas não é difícil se imaginar como o personagem de Christopher Reeve no filme Em Algum Lugar do Passado (1980), vivenciando uma época que já não existe mais.
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Entre os shows de Ira! e Baby, propusemos uma espiada na apresentação de Stanley Jordan & Dudu Lima Trio, realizada no palco República, a 1,7 quilômetro dali. O trajeto, que levaria 20 minutos, chegou a meia hora graças a desvios e a opção por caminhar nas avenidas mais movimentadas – sempre mais seguro. Ali, um público mais sereno acompanhava as invencionices sonoras do guitarrista, com um jazz baseado em músicas da nossa MPB. O retorno à Júlio Prestes, já quase às 21h, foi ainda mais conturbado pelo excesso de pessoas na rua.
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A placa com a frase “o segundo melhor pastel de São Paulo” chama a atenção durante a caminhada na Avenida Duque de Caxias. A fome, que nessa hora já começava a dar o ar da graça, é saciada por R$ 5. A cerveja, ainda que não pudesse ser vendida na rua, era encontrada com facilidade surpreendente. O valor variava entre R$ 4 e R$ 7, dependendo da marca ou do tamanho da lata.
O capixaba SILVA tocaria no palco Libero Badaró às 22h. Ainda que fora do roteiro, o mais recente disco dele, Vista Pro Mar, faria valer a pernada. Seguimos pela Rua dos Andradas, um erro grande. Logo adiante, quando a reportagem cruzou com a Rua dos Gusmões, policiais chegaram em motocicletas e duas viaturas e abordaram um grupo de 16 homens com armas em punho. Mostramos a credencial de imprensa e perguntamos o que houve: “Vaza, vaza”, é a resposta. Vazamos.
Para chegar até a Rua Libero Badaró, a melhor opção acabou se tornando o metrô – o palco é ao lado da estação São Bento, a três paradas da Luz. Apesar do sistema estar operando, a lentidão cria enormes aglomerações devido ao grande fluxo de público usando o transporte. O trajeto era lento, mas só não foi pior porque SILVA atrasou quase meia hora para subir ao palco. A falta de pontualidade em alguns palcos, aliás, foi outro grande incômodo da Virada deste ano, principalmente para quem se programou para assistir a muitos shows.
A nova jornada pelo metrô e caminhada até o palco São João, desta vez para ver o Uriah Heep, foi uma pernada desnecessária, já que era praticamente impossível ouvir o que Bernie Shaw cantava. Seguimos pela Rua General Osório em direção a Avenida Rio Branco, para assistir ao show de Otto. A tradicional via do centro é atualmente tomada por lojas com equipamentos e peças para motocicleta durante o dia e desértica à noite. Neste sábado, contudo, ela renasceu ao som do funk tocado nos alto-falantes posicionados na entrada de dois botecos cheios de gente. O palco Rio Branco fica localizado depois do cruzamento com a Avenida Ipiranga, no sentido Anhangabaú – na esquina, uma franquia da rede Habbib’s parecia faturar mais do que em todas as outras noites do ano, tamanho era o movimento.
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O local já era bastante próximo do palco do último show da noite no nosso roteiro, com Guilherme Arantes, novamente na Rua Líbero Badaró. A caminhada mostrou o Vale do Anhangabaú tomado por barracas vendendo comida. Algumas ruas bastante vazias inspiram certa apreensão por ali, mas nada que não mude logo quando se chega próximo ao palco. O público que foi assistir ao músico paulistano era bastante heterogêneo: casais jovens, mais velhos e crianças se reuniam no início da rua, próximo ao icônico Largo São Bento. Hits oitentistas, e algumas música do mais recente disco dele embalaram o quase-fim da maratona enquanto a lua se escondia entre as nuvens.
A última parada seria um filme de terror no Cine Sesc, na Rua Augusta, nos Jardins. O caminho pelo metrô repetiu a cena: vagões que demoravam para chegar, público se amontoando e numerosos grupos de jovens barulhentos, gritando e curtindo a noite. Rapazes e moças vestindo abadás coloridos destacavam-se no meio da multidão, voltando de outra noite agitada, mas longe do centro da cidade. O longa-metragem escolhido foi Cemitério Maldito, na sessão das 2h. Na fila para a entrada, uma cantora vestida como uma espécie de bruxa-vampira gótica cantava hits da banda Evanescence. E a volta para casa, após o filme cheio de sustos e risadas do público que não chegou a lotar a sala, foi de taxi. As pernas não aguentariam muito mais.
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A noite de sábado é sempre a mais tumultuada. Desta vez, o foco mais tenso foi nas proximidades do palco 25 de Março. Segundo a polícia militar, até as 2h30, eram mais de 50 detidos por furto ou arrastão. O roteiro da Rolling Stone Brasil, contudo, não teve grandes sustos. E o público parecia feliz por estar no centro de novo. Talvez fosse a nostalgia de ver artistas como aqueles na ativa após mais de 30 anos de estrada e outros, jovens e produzindo música de qualidade. Mas não é a nostalgia que move a Virada Cultural? Não é justamente a saudade de um centro vivo e pulsante que faz destas 24 horas tão especiais ao longo do ano todo? É preciso ser cuidadoso, mas a resposta, como foi dada pelo público, venceu o receio mais uma vez.
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