Nadéah - Divulgação

Virada Cultural: Feliz para sempre

A ex-Nouvelle Vague Nadéah lança no Brasil o disco Venus Gets Even e faz duas apresentações no Brasil - uma no Cine Joia nesta sexta, 4, ao lado do Ludov, e outra na Virada Cultural

Stella Rodrigues Publicado em 04/05/2012, às 13h46 - Atualizado às 14h40

A história dela começa como um conto de fadas do show business. Jovem, bonita e talentosa, a australiana Nadéah foi morar na sua amada Paris e, como manda o clichê dos aspirantes a artistas que vão a uma capital em busca de oportunidade, foi trabalhar em um café como recepcionista e garçonete. Um caso de lugar certo na hora certa fez com que um dia ela pendurasse o casaco do maestro italiano Nicola Tescari. Eles se conheceram, conversaram (“você é músico? Eu também”) e o conto de fadas teve o final “felizes para sempre” que deveria. Depois disso, ela integrou o grupo Nouvelle Vague e agora chega ao Brasil pelo selo Inker seu primeiro disco solo, Venus Gets Even, álbum com temáticas muito mais vivas e histórias bem mais impressionantes e cheias de matizes do que as de qualquer princesa da Disney.

Falando por telefone com a Rolling Stone Brasil Nadéah tinha acabado de ficar sabendo que estavam confirmados seus dois shows no país. Um acontece esta sexta, 4, no Cine Joia, onde ela dividirá o palco com o Ludov, e o outro na Virada Cultural (veja mais informações abaixo). “Não sei absolutamente nada sobre eles ainda”, conta sobre os integrantes da banda com quem toca esta noite. “Acabei de ter a confirmação de que vai rolar mesmo. Estou feliz que deu certo e agora posso entrar em contato com eles e veremos o que fazer. Os meninos são bonitos?”, pergunta entre risos.

A cantora estava igualmente no escuro a respeito da proposta da Virada Cultural, conceito que tende a chocar atrações internacionais. “Uau! Nunca fiz nada parecido. Em Paris temos a Fête de la Musique, que é um dia todo, mas é só música. Esses eventos são meus preferidos. Toda vez que toco em um festival, esqueço de comer, de dormir, só fico vendo as outras bandas”, diz empolgada.

Apesar de sua temporada na Nouvelle Vague, banda francesa que interpreta músicas da new wave e do rock em estilo bossa nova, Nadéah se afirma uma completa ignorante no que diz respeito à música brasileira. “Na Austrália tinha bem pouco contato. Só sei dizer que é muito autêntica, vem do coração, é muito colorida e cheia de energia. Estou indo para aí de ouvidos abertos, esperando um curso completo de vocês. Sempre volto dos países com uma lista grande de música para procurar.”

Foi esse jeito interessado e curioso da franco-australiana que a colocou nessa carreira. Nadéah nunca fez aulas de música, aprendeu a tocar e cantar sozinha. “Não é difícil, você só tem que arrumar namorados que toquem violão, depois outros que toquem piano. Tem que se cercar de pessoas talentosas que vai aprender bastante”, brinca.

O disco Venus Gets Even esbarra nessa questão de ser mulher, ser bonita e ter que batalhar para conquistar as coisas sem usar desses atributos - tema que transparece até no título, "Vênus se vinga". “Aprendi a ser mais feminina na Nouvelle Vague. A integrar o poder de ser mulher, não tentar imitar os homens. Na banda, trabalhei ao lado de Mélanie Pain, que para mim é a epítome do feminino, mas que ela usa de um jeito... ela pode simplesmente olhar para as pessoas, mover um pouco a mão e terá 40 mil pessoas berrando e pulando em cima dela. Precisei de muita coragem para assumir esse lugar, sempre achei que mulheres que flertam para conquistar o público fossem vendidas e patéticas, mas é divertido, no fim das contas.”

Além da feminilidade, dois outros aspectos do disco chamam a atenção. O grau de bizarrice nas histórias contadas nas letras (todas reais, ela garante) e o quanto Paris transparece. “Escrevi ‘Odile’ no caderninho de pedidos dos restaurantes, lavando menus e pendurando casacos. Compunha olhando para a arquitetura, tudo isso foi me influenciando nesse disco, não tinha como fugir da cidade.”

Quanto aos causos relatados, ela afirma “Tive muitas experiências horríveis, minhas amigas também. Acho que a dor é o ingrediente de arte de qualidade. Transformei tudo em algo bonito.” A faixa que encerra o disco, “Even Quadriplegics Get the Blues”, narra como seu ex-namorado foi atropelado e ficou tetraplégico, fato que fez com que ela deixasse a Inglaterra - onde morava à custa de um visto obtido em um casamento fake. A saída do país levou a uma expulsão de lá e a subsequente mudança para a França. Outra faixa conta a trama de um amigo que passou o reveillon em um hospício e, ainda no clima de festas de fim de ano (ou de antifesta), há um protesto ao consumismo no Natal. “Odeio o fato que as pessoas compram presentes porque elas acham que devem, é ridículo. Natal é para cristãos. E aposto que Jesus não incentivava o consumismo. Para cristãos o presente é Jesus e para o resto deveria ser a família, a vida, qualquer coisa assim.”

O público que for ver Nadéah ao vivo testemunhará a forma sedutora e interpretativa dela de cantar, que lembra uma performer de cabaré. “Os temas que escolhi são muito teatrais, por isso tem essa pegada cabaré”, explica. “Falo de cowboys pegando fogo no aeroporto, alcoolismo... acaba parecendo tudo irreal. As pessoas sempre me falam que tenho uma ótima imaginação, mas não! Os temas são todos em cima de casos que aconteceram de verdade. A realidade, pelo menos a minha e aquelas com as quais eu cruzo, é tão rica que não me faz ter que inventar muitos contos.”

Nadéah no Brasil

Nadéah e Ludov

4 de maio, às 22h

Cine Joia - Praça Carlos Gomes, 82 - Centro

Ingressos: R$ 80 (há meia entrada)

Vendas online e informações: www.facebook.com/cinejoia na aba “Compre seu Ingresso” ou cinejoia.tv/ingressos

Nadéah na Virada Cultural

5 de maio, às 23h

Grátis

Palco XV de Novembro

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