Sistema racista e segregação racial jogam dúvidas sobre a culpa do músico - mas o estupro de uma garota de 14 anos ainda poderia ser real
Redação Publicado em 23/12/2019, às 19h30
No dia 23 de dezembro de 1959 - nesta segunda, exatos 60 anos atrás - Chuck Berry foi preso por Tráfico de Pessoas Brancas após atravessar barreiras de estados dos EUA com uma prostituta infantil, uma garota de 14 anos.
O fato mudaria Berry para sempre, e ajudaria a moldar a carreira do jeito que foi. Mas, acima de tudo, despontaria uma discussão sobre racismo no sistema de justiça dos EUA que duraria décadas. Além disso, criou a pergunta: Chuck Berry e a prisão - ele foi vítima ou predador?
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Em 1959, os Estados Unidos passavam por um momento confuso. A Segregação Racial acabará há apenas quatro anos (embora sua dissolução tenha ocorrido durante quase 15 anos depois do decreto final) e homens brancos e negros eram vistos com olhos diferentes.
Naquele ano, Chuck Berry, o astro do blues, mágico das cordas, inventor do rock n’ roll, apresentava a música do gueto para o resto do país. Viajava para lá e para cá com sua guitarra e sua voz.
Foi nessas andanças que Berry conheceu Janice Norine Escalanti, uma garota de 14 anos que trabalhava como garçonete, mas havia sido demitida recentemente. Berry, compadecido, convidou a garota para trabalhar no bar que ele era dono em St. Louis.
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Escalanti pulou num carro e entrou na caravana de Chuck Berry país afora. Testemunhas dizem que os dois andavam flertando por aí enquanto estavam na estrada - o músico sempre negou. A garota foi demitida algumas semanas depois - na versão de Berry, porque dava em cima dele enquanto trabalhava.
Poucas semanas depois, Janice foi presa por prostituição. E contou à polícia que, de fato, se prostituía - e que um de seus clientes era o famoso Chuck Berry, que a havia levado para longe de casa para trabalhar com ele. Prisão para o músico.
Chuck Berry foi acusado de violar a Lei Mann - decreto federal que fazia com que fosse ilegal “transportar indivídos para prostituição ou devassidão ou qualquer outro propósito imoral.” Normalmente, a lei à época era aplicada tendo a cor da pele do réu como fator importante (brancos quase nunca eram implicados).
O julgamento de Berry demorou duas semanas. Foi condenado a cinco anos na prisão - ao que ele recorreu - usou como base o fato de todo o seu júri ser branco, o que faria da decisão algo parcial.
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O apelo deu certo, e Berry foi a um segundo julgamento, no qual foi condenado a três anos atrás das grades. Recorreu novamente, e acabou com uma pena de um ano e meio - cumpriu esta.
Como escreveu Bruce Pegg na biografia (em tradução livre) Brown Eyed Handsome Man: A vida e dificuldades de Chuck Berry, “o problema principal no julgamento era a pouca idade de Janice Escalanti. Mas como tudo na vida de Berry, existe ambiguidade.”
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O escritor detalhou bastante o tal julgamento do músico. Explicou como sempre que havia uma testemunha contando uma história no banco, o juíz interrompia: “foi um homem branco ou preto que fez isso?” Pois queria que o júri encontrasse uma diferença na pele.
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Não era incomum, nos EUA dos anos 1960, homens negros serem acusados das mais diversas atrocidades - e sua pele era um fator válido, à época, no julgamento. Não seria surpresa se Chuck Berry não fosse culpado, e sim vítima do racismo. Mas, ao mesmo tempo, não seria surpresa se Janice, a menina de 14 anos, fosse vítima de prostituição infantil - pois, historicamente, milhões de meninas o são.
Chuck Berry negou por anos que havia sido preso. Em 1972, disse em uma entrevista que isso era “um engano” das pessoas. “Elas estão totalmente erradas. Pode ter aparecido algo assim em jornais de grandes cidades, mas se olhar para jornais pequenos, vai ver que foi invenção. Nunca fui para a cadeia.”
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Alguns anos depois, porém, admitiu a detenção. Em 1987, na sua autobiografia, destacou inclusive que fez bom proveito do tempo atrás das grades, e escreveu diversas músicas, incluindo hits como “Promised Land.”
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