Rapper fala sobre as primeiras faixas inéditas após o sucesso de Nó na Orelha
Bruna Veloso Publicado em 15/10/2013, às 18h25 - Atualizado às 18h52
Os últimos dois anos e meio foram atípicos na vida de Criolo. Na estrada com uma extensa turnê após o sucesso de Nó na Orelha (que foi concebido para ser o último disco da carreira dele como rapper), ele experimentou um sucesso mais que inesperado, que lhe abriu as portas para continuar fazendo música. Ainda assim, um novo álbum acabou não sendo prioridade – a ideia é que o lançamento ocorra no ano que vem, com a mesma banda que tem acompanhado os shows e produção de Daniel Ganjaman e Marcelo Cabral. Mas, antes disso, nesta terça, 15, Criolo lança o single da faixa “Duas de Cinco” (que tem sample de “Califórnia Azul”, de Rodrigo Campos), com “Cóccix-ência” como lado B. As canções podem ser ouvidas aqui.
Neste sábado, 19, Criolo apresenta as canções em um show no Carioca Club. Veja mais informações abaixo.
Como nasceram essas letras? Quando elas foram compostas?
A de “Cóccix-ência”, uma vez eu estava passando pela Praça da República, já tem um tempo. Tem muitas pessoas na Praça da República que fazem seus trabalhos artesanais e tentam sobreviver da sua arte. Infelizmente, tem muitas pessoas que olham com um olhar um pouco duro para esses artistas que estão ali trabalhando, é uma coisa meio equivocada, isso me pegou muito.
E a música “Duas de Cinco”?
Na verdade, quando eu terminei a primeira parte de “Duas de Cinco” já me veio à mente a energia dessa canção de Rodrigo Campos, que eu havia cantado em alguns lugares. E ela fala muito de uma rotina de tantos lugares... É uma canção muito forte. Sempre me emociono muito quando eu a escuto, a canto. Depois eu teci a segunda parte. Ela conta uma epopéia, sem Ulisses.
Essas duas musicas já foram gravadas pensando no lançamento do single?
O lance de fazer esse recorte com duas canções era de dividir alguma coisa com as pessoas - e virá dessa forma. Não necessariamente são canções para álbum. E também tem a estética sonora, tanto que na segunda parte é a guitarra que fala, como um convite para a pessoa também sair falando suas histórias, a gente está junto ali. A partir do momento que não tem uma segunda parte falada, tem a segunda parte de cada um se manifestando quando está escutando aquela guitarra. Tem a vontade de dividir nossas histórias e de valorizar esses caras que estão no palco comigo e são extremamente talentosos. A gente foi se conhecendo e vivendo muita coisa juntos [ao longo de] dois anos e meio ali no palco.
Como foi a gravação de “Cóccix-ência”, no estúdio, ao vivo?
Acho que começa a surgir esse lance de uma sonoridade de todo mundo junto. Aos poucos isso foi se construindo com a nossa vivência de palco. Acho que tem essa aquarela se formando e essa coisa emblemática da importância de se enxergar um coletivo, a beleza de cada unidade nesse microorganismo que é a nossa equipe.
E o novo show?
É muito tranquilo. Nada de pretensão, simplesmente uma sinceridade.
Como você tem se preparado para o lançamento do disco novo? Já tem as composições?
Tenho algumas, estou sempre compondo. Tenho coisas de muito tempo atrás, coisas recentes, de um ano, de seis meses. A gente vai se reunir com muita calma e tranquilidade e ver o que é que vale bater na porta do ouvido das pessoas.
Mesmo na correria de turnê você nunca parou de compor?
Não, não. Estou sempre tecendo alguma coisa. Um texto, um poema, um verso, uma canção. Estou sempre compondo.
Qual foi a maior mudança na sua vida desde que o Nó na Orelha explodiu?
[Pausa] Sentir que artisticamente, mesmo que ainda em construção, existe um dia de amanhã. Era um álbum que não ia ser álbum, uma coisa que ia ficar só para a minha família e ponto. Você continua respirando as coisas que ama, mas procura encarar de uma outra forma. Se não dá, não dá, fazer o quê? Isso não te faz menos, nem mais. Estar em um palco não te faz mais. Mas procuro viver a vida, cara. A vida segue. Mas tudo isso, de dois anos pra cá, [me fez] enxergar que existe um amanhã, que eu posso ainda arriscar e dividir mais alguma coisa com as pessoas. Dividir – é o meu ato de dividir.
Essa recepção tão calorosa que você tem hoje te faz pensar que é muito distante a ideia de parar de trabalhar com música?
Não. Por todas essas coisas especiais que aconteceram, ter a consciência de que isso tudo é muito valoroso, e que tem que ter carinho e respeito por isso, e não pensar e manter isso a qualquer custo. Porque aí você estaria faltando com respeito com toda uma boa energia de tanta gente, que vai lá e baixa sua musica, ou que vai ao show, ou que está nos bastidores e você nunca viu na vida, mas que de uma forma ou de outra te ajudou na caminhada e você nem sabe. Essa sinceridade nessa construção é o que mais tem valia. Você é o que você é, com suas virtudes e seus defeitos, e a sua construção é diária, pode ter uma pessoa vendo ou um milhão de pessoas vendo. Ter consciência de respeitar todas as pessoas que de um jeito ou de outro, numa intensidade ou outra, em uma vibração ou outra, dividiram alguma coisa com você.
Em um show seu em São Paulo, ouvi uma garota gritar várias vezes: “poeta da nossa geração”. Você se sente influenciando seu público jovem de uma maneira positiva?
[Pensa] Eu acho nesse momento extremamente especial que estamos vivendo é essa juventude que nos contagia. É o inverso. Porque se não fosse essa massa humana que me apoiou quando saiu o Nó na Orelha e que me apoiou durante 25 anos de carreira, independente de holofote ou não, se não fosse a força dessas pessoas em minha vida, eu não teria forças para continuar. As pessoas são solidárias, elas me dão algo extremamente valioso. Eles já até sabem qual é a terceira música do show, ou a oitava. Não é isso que faz com que a gente se encontre, é essa troca de energia. Essa é que é a magia da coisa, de a gente se sentir ser humano. E isso é impagável.
Você sente um amor das pessoas em relação a você?
Eu só tenho gratidão, cara. Até o cara que faz a crítica mais absurda (e acho que a palavra absurda nem cabe, porque se ele tem a construção dele não é absurda para ele, a gente tem que respeitar). Isso tudo você tem que agradecer, cara. Meu pai, por exemplo, se aposentou agora, com 62 anos de idade. Trabalhou a vida toda em uma metalúrgica. Tem problemas de audição e de visão por conta do trabalho pesado. E eu sei a essência que ele tem ali dentro, sei como ele cuida do Vitor, meu sobrinho, que ele é apaixonado pelo neto. E quantos brasileiros não passam por essa situação? Então, só de uma pessoa acenar e dizer que gostou ou não gostou, só de a pessoa citar que você é um ser vivo em uma comunidade de não sei quantos milhões, vai falar o quê? Saber que você existe é algo maravilhoso, sobretudo em uma sociedade que insiste em dizer que você não existe.
Dá um frio na barriga soltar as duas primeiras músicas novas depois desse sucesso todo?
Não, porque eu não enxergo canção como competição com o outro, que dirá comigo mesmo. Canção não é competição, é libertação, música não é competição, é libertação. Se eu me enxergo competindo com o mercado ou outro artista, então eu estou competindo comigo mesmo... As canções já existiram na cabeça, esses músicos toparam mais uma vez emprestar um pouco dessa genialidade deles e gravar essas canções comigo. Que mais que eu posso fazer? Agradecer.
Como você vive hoje? Sua relação com o dinheiro mudou?
Não. É a mesma relação. Eu engordei 15 quilos, agora eu como. A gente fala em tom de brincadeira, mas é sério. Os meus amigos de tantas caminhadas do Grajaú para o centro, muitos sabem quantos me pagaram almoço, jantar, e tantas outras coisas. Não vou tecer aqui uma história de teoria do coitado porque a música não merece isso. Você tem que vencer por excelência do teu esforço.
Como é, por exemplo, alguém te reconhecer na rua?
Tranquilo, eu fico meio assim [tímido]. Você está aqui me entrevistando, está vendo mais ou menos como é que eu estou. Mas é tranquilo, gente, isso não me faz mais que ninguém. E um artista maravilhoso não ser reconhecido também não faz dele menos que ninguém.
Até porque você já esteve dos dois lados.
Olha, eu não sei se estou desse outro lado que você está falando.Um amigo meu nunca me negou um prato de comida. Muita gente já me ajudou muito. Então, de certa forma, eu estava sendo reconhecido ali também. Com alguém me dando o dinheiro da condução e da refeição e dizendo “vai lá, sei que isso é importante para você”, isso também é reconhecimento, e valioso. O cara está te estendendo a mão para que você continue um lance, mesmo você com 30 anos de idade e todo mundo falando que você é um fracassado, que não consegue se adequar a determinadas formas de ganhar dinheiro.
Você faz alguma diferenciação entre o cantor e o rapper?
Todo mundo tem sua importância. Esse é que o grande lance, respeitar a escolha das pessoas. Tem gente que gosta de música clássica, tem gente que não gosta. É isso, é gosto.
Qual o legado dessas manifestações?
Ainda está acontecendo, não acabou. Não dá para você fazer uma leitura respeitosa de algo que está em processo. E está longe de acabar. Só começou.
Você vê TV?
Eu tenho meu sobrinho de 6 anos que gosta de ver desenho animado. E é legal estar com ele, é bem bacana. Mas fora isso, não muito.
Você não assiste por achar que não te acrescenta culturalmente?
Não é isso, é um recorte... Tudo é um recorte de alguma coisa.
Você participa da ideia de como essas músicas vão chegar até o público?
É tão natural. Não fica rolando estratégia de marketing. Pra mim é uma honra ter vinil, vai ter porque a gente valoriza essa cultura do vinil, e vamos disponibilizar na internet. Simples assim.
Criolo lança “Duas de Cinco”
19 de outubro, às 20h30
Carioca Club - Cardeal Arcoverde, 2899
Antecipado: R$ 60
Na porta: R$ 80
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