Banda instrumental que acompanhou Milton Nascimento nos anos 70 se reúne com formação clássica e prepara mais shows em 2012
Por Antônio do Amaral Rocha Publicado em 22/01/2012, às 13h44 - Atualizado às 14h02
Um dos mais criativos e férteis grupos da música brasileira voltou a se reunir depois de 37 anos sem tocar em um palco. E foi com a formação clássica - Wagner Tiso, Robertinho Silva, Tavito, Nivaldo Ornelas e Luiz Alves - que o Som Imaginário, em shows no Sesc Belenzinho (SP), nos dias 13, 14 e 15 de janeiro, proporcionou jams memoráveis ao público.
Visivelmente emocionados pelo reencontro histórico, os cinco integrantes do Som Imaginário realizaram apresentações de uma hora e meia de duração, baseadas nos três discos que gravaram na década de 70 e nos temas que se tornaram clássicos na voz de Milton Nascimento - "nosso eterno parceiro", nas palavras de Tiso. Dos discos próprios, "Matança do Porco", "Armina", "Bolero" e "Feira Moderna" proporcionaram alguns dos melhores momentos. Da parceria com Milton, foram lembradas "Tarde", "Vera Cruz", "Canto Latino" e "Milagre dos Peixes". Por se tratar de um show instrumental, Nivaldo Ornelas ficou bastante sobrecarregado com os solos de seu sax soprano. Talvez para minimizar um pouco o fato, o violonista/guitarrista Tavito aproveitou a oportunidade para cantar "Casa no Campo" e lembrar que ele, junto a Zé Rodrix, é o autor de um dos maiores sucessos da carreira de Elis Regina.
Formado na década de 70 originariamente para acompanhar Milton Nascimento, o Som Imaginário foi responsável por uma sonoridade inclassificável dentro da chamada linha evolutiva da música popular brasileira. Em três discos, um soando totalmente distinto do outro, delineou-se um estilo único e jamais repetido posteriormente. A formação inicial contava com Wagner Tiso (piano e órgão), Tavito (violão), Luiz Alves (baixo), Robertinho Silva (bateria), Frederyko (guitarra) e Zé Rodrix (órgão, percussão voz e flautas). Em diversas épocas de seu curto espaço de existência (de 1970 a 1975), outros músicos passaram pela banda: Laudir de Oliveira e Naná Vasconcelos (percussão), Nivaldo Ornelas (saxofone e flauta), Toninho Horta (guitarra), Novelli (baixo), Paulinho Braga (bateria) e Jamil Joanes (baixo).
Independente das diferentes formações e participações, a contribuição do Som Imaginário ainda está por ser devidamente descoberta. Há registro de gravações como banda em três discos de Milton Nascimento (Milton, de 1971, Milagre dos Peixes, 1973 e Milagres dos Peixes ao Vivo, 1974), mas são os três álbuns próprios que representam essas particularidades musicais de maneira mais adequada. O primeiro, Som Imaginário (1970) traz uma pegada psicodélica baseada no rock progressivo, além de toques latinos, soando muito distante de qualquer material produzido pela música brasileira da época. Milton Nascimento fez uma participação, realizando vocais de apoio em "Tema dos Deuses", composta especialmente para o filme Os Deuses e os Mortos, de Ruy Guerra. Mas o principal diferencial eram os solos e riffs viajantes de Frederyko, especialmente em "Feira Moderna" (de Beto Guedes, Lô Borges e Fernando Brant), que foi defendida pela banda no Festival Internacional da Canção de 1970. Anos depois, a faixa adquiriu vida própria com o registro mais convencional que Beto Guedes fez no disco Amor de Índio (1978).
O segundo disco, Som Imaginário [Nova Estrela] (1971), já sem a participação de Zé Rodrix, trazia a presença ainda mais marcante do guitarrista Frederyko, autor de seis dos oito temas gravados, com destaque para "Nova Estrela", dele e de Wagner Tiso. Já o terceiro e último disco, Matança do Porco (1973), valoriza o papel de protagonista de Tiso, autor de todas as faixas. A sonoridade é mais jazzística e funde diversas vertentes, passando pelo rock progressivo e por orquestrações eruditas. Além de "Matança do Porco" - uma viagem sonora de 11 minutos dividida em três partes -, destaca-se a belíssima, quase sertaneja, "Bolero". Se comparado à deliciosa anarquia sonora dos dois registros anteriores, pode-se dizer que o álbum representa a fase “madura” do Som Imaginário, ainda que isso não rebaixe a importância daquela fase psicodélica.
Apesar de hoje os atuais integrantes já carregarem nas costas mais de 50 anos de carreiras musicais, os shows ocorridos em São Paulo os exibiu em plena forma. O reencontro, aliás, já gerou frutos: o Som Imaginário tem participação garantida no 1° Festival Internacional de Artes de Brasília, em 4 de fevereiro, além de ser grande a possibilidade de o grupo se apresentar também na Virada Cultural de São Paulo, em abril deste ano, com a participação de uma orquestra e do guitarrista e ex-integrante Toninho Horta.
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