<i>O Fotógrafo 2</i> retrata estadia no Afeganistão da década de 80 - Reprodução

Volume 2 de O Fotógrafo

Já no Afeganistão, personagem dos quadrinhos de Emmanuel Guibert captura imagens de feridos pela guerrilha montada no país na década de 80

Por Artur Tavares Publicado em 23/03/2008, às 15h43 - Atualizado em 24/03/2008, às 08h30

O que mais impressiona no segundo volume de O Fotógrafo (Conrad, 88 pág.) são os retratos que o francês Didier Lefèvre fez durante sua expedição com os Médicos Sem Fronteiras ao Afeganistão em 1986. Na época, o país era dominado por soviéticos, e revolucionários comandavam uma guerrilha financiada pelos EUA.

Se no primeiro álbum - lançado em 2007 - as fotografias contextualizavam o país e a árdua viagem clandestina dos Médicos (e de Lefèvre) do Paquistão ao Afeganistão, neste o francês registra crianças com pés queimados, homens com globos oculares destruídos por acidentes com fuzis e soldados com mandíbulas estraçalhadas por estilhaços.

A história, contada pelo fotógrafo ao roteirista e desenhista Emmanuel Guibert, continua retratando os costumes do povo afegão, desmistificando a fama de "homens-bomba" comumente sustentada no Ocidente.

O que se vê no álbum são pessoas que dariam a vida para salvar os filhos e que não largam seus rifles em sinal de dedicação ao país. Poucas mulheres são retratadas na história de Lefèvre, e a única que é ouvida é a própria chefe dos Médicos Sem Fronteiras, uma francesa.

Como no primeiro volume, a combinação entre desenhos e fotografias se dá de forma fluida. Depois que o leitor se acostuma com o hibridismo, as duas maneiras narrativas se confundem. Guibert tem um traço minimalista, que dá mais importância aos humanos do que aos cenários. Como as fotos de Lefèvre. É nos desenhos que o leitores vêem o fotógrafo, que se transforma em narrador quando pela reprodução de suas imagens.

Mesmo neste volume, mais centrado no atendimento aos pacientes pelos Médicos sem Fronteiras, os horrores de uma guerra fabricada entre soviéticos e capitalistas em um país do Oriente Médio não são diretamente mostrados. Não há tiroteios ou encontros hostis. Mesmo assim, há preocupação de toda a equipe missionária em fugir de soldados e helicópteros, principalmente os bombardeiros.

A prática da medicina em condições precárias também tem destaque. Mesmo sem recursos como higiene, privacidade e aparelhos de última geração, a equipe da missão à Zaragandara (vila afegã onde o hospital dos Médicos sem Fronteiras está) dá tudo de si. A população retribui, inclusive deixando de comer para dar alimento aos estrangeiros.

Resta para ser contada no terceiro volume a história da volta de Lefèvre ao Paquistão e à França, sua jornada solitária após abandonar os Médicos Sem Fronteiras como se estivesse farto de tanta guerra e injustiça. Aos leitores, resta esperar o lançamento. E que não leve um ano, intervalo entre as publicações dos dois primeiros tomos da história do repórter francês.

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