- Montagem com Ana Gabriela, Sofia Oliveira e Luísa Sonza [Foto 1: Divulgação | Foto 2: Instagram / Reprodução | Foto 3: Instagram / Reprodução]

YouTube volta a ser celeiro de artistas pop? Ana Gabriela, Sofia Oliveira e Luísa Sonza provam que sim

Algumas cantoras em alta conquistaram a fama ao compartilhar simples releituras musicais na plataforma - com o auxílio de um instrumento, uma câmera e muito talento!

Lorena Reis Publicado em 28/07/2020, às 07h00

É interessante reparar no modo como um artista pode ressignificar músicas de outros artistas e colocar um toque de si na mistura. Assim acontece ao gravar-se um cover (ou uma releitura).

Bom, desde que o YouTube foi fundado por três ex-funcionários do PayPal, Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim, em fevereiro de 2005, e adquirido pelo Google, no final de de 2006, a plataforma de compartilhamento de vídeos já projetou muitos e muitos artistas no mercado musical - incluindo Justin Bieber, um dos maiores fenômenos mundiais dos últimos tempos.

Em 2007, um Justin de 13 anos e sua mãe, Pattie Mallette, publicaram alguns covers no YouTube para que familiares distantes pudessem assisti-lo. No entanto, em pouco tempo, o número de pessoas que acessavam os vídeos dele foi aumentando cada vez mais, ultrapassando centenas e centenas de milhares. 

Por sorte, acaso ou destino, o produtor Scooter Braun estava entre os espectadores e ficou igualmente impressionado com o talento do adolescente. Assim, tornou-se seu agente e ambos embarcaram para a cidade de Atlanta, em Geórgia. Em seguida, Justin firmou um contrato com a gravadora Island Records e deu início a sua carreira musical em 2009.

Já no Brasil, há cerca de 5 ou 6 anos, tivemos nomes como Gabi Luthai e Mariana Nolasco (e muitos outros), que também ganharam reconhecimento ao produzir covers diversificados de artistas nacionais e internacionais, provando a influência do YouTube na indústria musical contemporânea.

Em pleno 2020, será que a plataforma voltou a ser "celeiro" de grandes estrelas pop e, ainda, configura uma boa forma de adentrar o mercado musical?

Para entender melhor o fenômeno acima, conversamos com as cantoras Ana Gabriela, Bia Marques, Laura Schadeck, Luísa Sonza e Sofia Oliveira, que fizeram sucesso ao compartilhar simples releituras de suas músicas favoritas no YouTube - gravadas com o auxílio de um instrumento, uma câmera e muito talento. Confira abaixo:

 

ANA GABRIELA (@anagabriela)

"Eu não estava buscando fama, nem nada. Só tava cantando o que tinha no meu coração e a galera curtiu."

 

Ana Gabriela. Você provavelmente já ouviu esse nome (e, com sorte, a música que ela gravou com o Lagum, "Deixa"). A cantora e compositora natural de São José dos Campos entrou em contato com o universo musical ainda cedo. Hoje, aos 24 anos de idade, ela relebra sua trajetória à Rolling Stone Brasil: "Eu canto praticamente desde os 5 anos, mas, antes, só cantava na igreja. Se eu não me engano, foi no 3º ano [do ensino médio] que eve um show de talentos na minha escola e eu acabei participando. Meus amigos descobriram que eu cantava e inventaram de falar: 'Cara, por que você não coloca alguns vídeos no YouTube?' Depois, eu comecei a pensar nisso, mas nunca tive coragem porque era muito tímida. Até que uma amiga minha criou a conta e só me mandou a senha."

A princípio, Ana postava covers "de quatro em quatro meses", sem compromisso. "Na verdade, eu postava um ou outro, meio que assim, no susto", afirma. "Os vídeos eram assim: Eu na minha sala, só colocava o celular num móvel que tinha perto do computador. Eu e o meu violão, torcendo para nenhum avião passar, porque não tinha nenhum lugar melhor pra gravar, sabe? E aqui vive passando o carro do ovo [risos]."

Segundo ela, a timidez melhorou depois de um tempo. "Meu primeiro vídeo no YouTube foi "All Star", do Nando Reis, e eu lembro que filmei da minha boca pra baixo porque tinha muita vergonha. Eu pensava: 'Cara, não sei o que fazer.' Aí eu gravei mais vídeos, além de fazer shows, e a timidez foi diminuindo."

Ana também revela que deu "uma leve surtada" quando percebeu que era facilmente reconhecida na rua: "Tenho até uma tattoo que resume isso, na verdade, que é 'serendipity'. É quando você encontra uma coisa pela qual não esperava ou procurava, por sorte. E, no meu caso, foi exatamente assim. Eu não estava buscando fama, nem nada. Só tava cantando o que tinha no meu coração e a galera curtiu. Quando você faz uma parada realmente de coração, tudo acontece como tem que acontecer.

Atualmente, ela enxerga a mesma fama com positividade, pois pode defender as causas nas quais realmente acredita. "Eu quero sempre ter essa voz LGBT e falar com pessoas que, às vezes, não se sentem tão confortáveis porque tem uma família que não apoia, enfim. O lado bom dessa fama é levar coisas boas pra todo mundo."

Recentemente, Ana Gabriela disponibilizou seu aguardado álbum de estreia, Ana, em todas as plataformas digitais. "Foi muito melhor do que qualquer cover que eu postei, porque a galera ficou muito pilhada. Foram músicas que eu escrevi. A maioria, pelo menos. E eu fico muito feliz porque as pessoas vêem a verdade. Eles viam a verdade nos covers, mas agora não tem como fugir de absolutamente nada, porque as letras são todas minhas. Eu só recebi feedback positivo. Eu juro que mostrar esse álbum pro mundo foi uma das melhores sensações da minha vida", concluiu.

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BIA MARQUES (@biamarquessofc)

"O YouTube acabou funcionando pra mim. Não sei se é uma fórmula ideal, mas é um bom caminho, se você realmente insistir." 

 

Eu conheci o canal da Bia Marques sem querer, ouvindo um cover sincero da música "Sentimental", originalmente interpretada pela banda Los Hermanos. Assim como Ana Gabriela, a Bia também contou com o empurrãozinho dos amigos para superar a timidez: "Eu vi na Internet um meio de cantar sem me sentir tão envergonhada. Aí eu criei um canal sem pretensão mesmo. Só postava as músicas que realmente gostava de ouvir. Só que eu tinha que mudar um pouquinho do conteúdo que eu produzia se quisesse crescer, então eu comecei a cantar as músicas que estavam mais em alta, sabe? Foi dito e feito. Meu canal cresceu muito e ainda tá crescenndo numa velocidade muito grande com essa estratégia."

Aos 19 anos, a cantora de Salvador explica que mudou todos os planos anteriores para adequar-se a essa rotina: "Decidi seguir a profissão de cantora, porque eu vi que tinha gente que me apoiava. Eu realmente não tava esperando [esse reconhecimento]. Nem pensava em ser cantora, nem nada. Foi um crescimento inesperado, de um dia pro outro. Eu ficava olhando o contador de inscritos sem acreditar."

Ao ser questionada sobre como ela acredita ter se destacado na mídia social, a Bia respondeu que, principalmente, pela frequência de conteúdos novos: "Eu posto vídeos toda semana e sei que isso é importante pro engajamento do YouTube. A escolha das músicas também. Eu comecei a pesquisar aquelas que eram as mais tocadas da semana, olhava outros canais de covers e via o que dava certo. Essa combinação me ajudou a crescer bastante.

"O YouTube acabou funcionando pra mim. Não sei se é uma fórmula perfeita, mas, se a pessoa insistir, é um bom caminho. Eu cresci com o meu celular e meu violão, sabe? Acho que é um caminho, sim", ela reflete.

Durante a conversa, Bia ainda conta que compôs sua primeira música aos 10 anos, quando ganhou um violão: "Era assim, música de criança, né? Agora já é uma coisa mais profissional.  Por enquanto, eu não tenho como parar de publicar covers, porque eles me ajudam a crescer, mas me lancei nas autorais quando vi que tinha um público específico. Eram cerca de 400 mil inscritos na época."

Hoje, com mais de 715 mil inscritos no YouTube e 418 mil seguidores no Instagram, ela explica que músicas autorais são mais difíceis de emplacar: "Não é do dia pra noite. Mesmo assim, a galera que me acompanha curte muito."

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LAURA SCHADECK (@lauraschadeck

"A fórmula do sucesso é a sua verdade. É as pessoas se identificarem com o seu trabalho."

 

Enquanto isso, Laura Schadeck falou sobre a decisão de publicar um cover no YouTube, ressaltando que o processo foi bastante espontâneo e envolveu toda a família. "Eu me interesso por música desde o 5 anos de idade. Com 8, eu entrei no coral da minha escola. Aí a família já ficou toda orgulhosinha, né, queria que eu cantasse nos churrascos e tudo mais. Até que uma prima minha se casou e foi assim que surgiu o primeiro cover do meu canal no YouTube. Não tinha como ensaiar com a banda antes do grande dia, porque a gente morava longe, então eu gravei um vídeo pra deixar tudo sincronizado e, de um dia pro outro, batemos mais de mil visualizações - o que, na época, era muita coisa (...) Pensa, uma menininha afinadinha, fofinha e que sempre fazia alguma brincadeira no final dos vídeos. Acho que isso atraiu as pessoas."

Aos 12 anos, em 2016, a cantora natural de Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul, foi uma das semifinalistas do programa The Voice Kids Brasil, transmitido pela TV Globo. Agora, aos 17, ela afirma que o apoio da família foi um dos principais fatores que a guiaram ao sucesso. "Eles são a base pra tudo, sabe? Imagina que legal trabalhar com pessoas em quem você confia e que querem o seu bem, que vão fazer o melhor porque também querem que dê certo. É muito bacana ter a família como parte de toda a produção", diz.

Laura conta que, lá por volta de setembro de 2017, um vídeo curtinho de "Meiga e Abusada", da Anitta, viralizou nas redes sociais: "Essa música deu super certo porque misturou o meiga e o abusada [risos]. Minha voz era fofinha, mas tinha a sensualidade que a música pedia. Então, em 2 meses, o vídeo tinha milhões e milhões de acessos. Em 2019, a gente tentou a liberação da música pra fazer videoclipe e tudo, só que acabou não dando certo. Mas, agora, a Anitta assinou a autorização. Eu fiquei muito, muito feliz e dia 31 tem 'Meiga e Abusada' no Spotify e em todas as plataformas digitais."

Mas nem só de cover se vive um artista, sugere Laura: "Meus planos pra 2020 sempre foram aumentar o meu catálogo, botar mais músicas autorais para que as pessoas me conhecessem melhor. Percebi que tava na hora de produzir um conteúdo mais verdadeiro, sabe? Porque nem sempre um cover transmite aquilo que eu quero transmitir. A gente se inspira em outros artistas, claro, mas não quer copiar ninguém. Afinal, cada um é cada um e não existe uma fórmulo do sucesso. A fórmula do sucesso é a sua verdade. É as pessoas se identificarem com o seu trabalho."

Apesar da quarentena, a carismática Laura gravou uma de suas músicas autorais, "Fica Comigo", no estúdio que ela montou em casa: "A gente correu com tudo, mas deu tudo certo. Meu pai e o Mercado Livre ficaram grudados nesta quarentena, porque ele comprou um monte de coisas pro clipe. Eu usei meu namorado como ator. Ele foi meu par e o cameraman. E eu fui tudo. Esscrevi todo o roteiro, bonitinho, e dirigi o processo."

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LUÍSA SONZA (@luisasonza)

"O mais importante é ser persistente e amar o que você faz. Assim, as coisas tendem a fluir muito mais."

 

Luísa Sonza iniciou sua carreira em festivais da canção e, aos 7 anos de idade, foi contratada pela banda Sol Maior, fundada no município de Tucunduva, no Rio Grande Do Sul. Em 2014, ela criou seu próprio canal no Youtube, no qual publicava covers de diversos artistas e passou a ser chamada de "Rainha dos Covers" pelo público. Em maio de 2017, Sonza assinou com a gravadora e lançou sua primeira música autoral, "Good Vibes".

"Com o passar dos anos, vi no Youtube uma chance de divulgar mais meu trabalho, para um número maior de pessoas. Foi aí que eu comecei com os covers de artistas que sempre foram  referências para mim. Hoje, sou muito grata por ter feitoisso. O YouTube me ajudou muito", revelou a cantora de 22 anos.

E continuou: "É um aprendizado diário, você vai se aperfeiçoando, acompanhando as tendências. Sempre fui disciplinada e, quando comecei a postar os covers, me doei 100%. Me senti muito feliz e realizada com tanto carinho. Quis dar o meu melhor para quem torce pelo meu trabalho, sabe? Sempre fiz tudo com muito empenho, amor e carinho. E ter este reconhecimento hoje é incrível demais."

Falando sobre a quarentena e projetos futuros, Luísa revela que foi pega de surpresa. "Eu tinha muitos planos, como uma turnê internacional este ano, que, infelizmente, foi cancelada por conta da pandemia. Mas o que importa agora é a saúde de todos. é superarmos esse momento. Com os lançamentos que eu tenho soltado, venho bolando várias estratégias com a minha equipe e o público tem curtido. Isso me deixa feliz porque quero levar um pouco de conforto neste momento tão sensível que vivemos."

Alguma dica para quem está iniciando a carreira agora?

"Acho que o mais importante é ser persistente e amar o que você faz. Quando a gente é apaixonado pelo nosso trabalho e faz com amor, as coisas tendem a fluir muito mais. O caminho é árduo, mas, com muita força, a gente vai alcançando nossos objetivos aos poucos. Não podemos desistir."

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SOFIA OLIVEIRA (@sofia)

"As pessoas estão procurando por alguém que as inspire, ainda mais neste momento de pandemia."

 

Já faz um tempo que Sofia Oliveira está no radar do YouTube. "Desde os meus 5 anos, eu dizia para os meus pais que queria ser cantora. Eu assistia muitas séries da Disney. Gostava muito de High School Musical, Camp Rock, Hannah Montana. Aí, com 8 anos, eu comecei a fazer aula de violão e, com 11, de canto. Com 14, eu já pensava: 'Tenho que começar minha carreira como cantora de alguma forma, né? Eu quero que as pessoas vejam isso.' Assim, eu postava meus vídeos no Facebook e no YouTube. Os primeiros não deram em nada, mas depois de meio ano, mais ou menos, alguns vídeos viralizaram."

Mas Sofia sabia como se destacar no meio da multidão e ousar da criatividade para encontrar seu diferencial: "Eu não queria ser só mais alguém fazendo cover, então eu tive algumas ideias diferentes. Na época, quase ninguém fazia aquelas 'respostas', sabe? Geralmente, eu respondia músicas de funk e sertanejo cantadas por homens, como se fosse uma resposta feminina. E, claro, os cup songs com músicas brasileiras, que foi o meu primeiro vídeo viral. Era uma tendência lá fora, então eu peguei uma música da Anitta ["Blá Blá Blá"] e fiz um cup song em cima dessa música, me gravei cantando e tocando com o copo, no celular mesmo. Esse vídeo foi uma loucura."

"Ah, eu acho que essa coisa de ser mais natural, só eu ali com o meu violão e uma câmera, também me conectou mais com o público", acrescentou Sofia. "As pessoas se identificam mais. Elas olham e pensam: 'Ah, então eu também posso fazer isso. Eu também posso ter os meus vídeos reconhecidos. Elas se conectam e se inspiram mais em você dessa forma."

Atualmente, a curitibana de 20 anos participa de um quinteto curitibano formado pelo spin-off do programa X-Factor, X-Factor Celebrity, que estrou em Londres em 2019, com Simon Cowell, Nicole Scherzinger e Louis Walsh como jurados.

“Foi uma experiência incrível. A melhor da minha vida. Nunca imaginei que eu poderia estar no The X Factor e estou aprendendo muito com isso, evoluindo muito. Ter o Simon como mentor é muito importante para, porque estamos no começo da carreira e ele tem uma experiência enorme", contou Sofia Oliveira anteriormente à Rolling Stone Brasil

Agora, mais voltada à carreira pop, ela conta que seu público tem variado muito de um tempo pra cá. “Uma coisa que eu faria diferente seria não ter postado tanto cover se sertanejo, porque minha vontade nunca foi ser uma cantora sertaneja. Quando eu anunciei meu projeto autoral, as pessoas não aceitaram muito bem, porque provavelmente estavam esperando algo diferente de mim. Óbvio que eu tenho os meus fãs que estão ali, fiéis. Mas eu sinto que estou sempre mudando de público, same? Me reinventando.”

Por último, Sofia também tem dicas para quem está dando início à carreira musical: “Bom, eu digo para você sempre ser você mesma. Não tentar ser ninguém diferente ou tentar passar uma imagem diferente. Assim, as pessoas vão se identificar com você, se apaixonar pelo seu trabalho, querer te seguir, vão engajar com você. Tenta fazer alguma coisa original, que agregue na vida das pessoas, sabe? Ainda mais agora, neste momento de pandemia. As pessoas estão procurando por alguém que as deixe esperançosas e as inspire. Então tente achar o seu diferencial.”

 

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