"Se você está pensando em dinheiro, então não deveria fazer música", diz Max Bloom, guitarrista e compositor do Yuck, que faz show em São Paulo
Por Bruna Veloso Publicado em 21/06/2011, às 15h55
A banda britânica Yuck lançou o primeiro disco em fevereiro, e já é considerada uma das revelações do ano no rock alternativo. Celebrado, ao lado de nomes como Cage the Elephant e The Joy Formidable, como um dos grupos responsáveis por trazer de volta as guitarras sujas dos anos 90, o quarteto desembarca nesta terça, 21, em São Paulo, para um único show, no evento fechado PUMA Social Club. Todos os integrantes têm entre 20 e 21 anos, mas o quarteto mantém uma postura séria quando se trata de música - pelo menos é o que demonstra o guitarrista e compositor Max Bloom, que fundou o Yuck ao lado do vocalista Daniel Blumberg, seu amigo de infância. Bloom falou à Rolling Stone Brasil por telefone, da Inglaterra.
As coisas parecem estar acontecendo rapidamente para o Yuck: vocês lançaram o primeiro disco em 2011 e já são considerados uma banda de destaque para o rock alternativo. Isso os deixa assustados?
Entendo que do ponto de vista de alguém que mora no Brasil, as coisas possam estar acontecendo rápido. Mas da nossa perspectiva, acho que isso é fruto de muito trabalho duro nos últimos anos. Tocamos muito [ao vivo] no Reino Unido. Pra mim, nós surgimos nesse momento por meio de muito trabalho. Mas dito isto... tocar no Brasil é incrível, algo que nunca fizemos antes, e é ótimo termos essa oportunidade. Acho que trabalhamos para que isso pudesse acontecer.
A letra do single "Milkshake" destoa das músicas que estão em Yuck , o disco. Ela foi gravada depois do álbum?
Sim... Quer dizer, não. Ela foi gravada depois das sessões que deram origem ao álbum, mas foi praticamente ao mesmo tempo, era pra ter entrado no disco. Nós não sabíamos exatamente o que estávamos fazendo enquanto estávamos gravando. E com passar do tempo, aprendemos sobre como gravar, como podíamos soar. Talvez por isso ela pareça diferente.
Vocês já pensam em músicas para um próximo disco?
Sim, sim. No meu caso, não tem um momento em que eu não esteja compondo, a não ser que esteja em turnê. Acho que é meio estúpido não compor, quando se está em casa. Se você está em uma banda, você tem que estar sempre escrevendo. Eu me preocupo com isso.
Então, você escreve o tempo todo?
Sim, sempre que estou em casa. Eu trabalho diariamente, não gosto de ter dias de folga.
Você compõe mais quando está triste ou quando está feliz?
Eu não sei. Acho que não preciso sentir felicidade ou tristeza, ou nada, porque quando estou escrevendo músicas... é uma coisa que faço para me sentir realizado, para me sentir normal.
O reconhecimento que vocês têm tido traz algum tipo de pressão?
Na verdade, não. É bom as pessoas estarem gostando [de nós], mas para ser honesto nunca esperei que pessoas do outro lado do mundo escutassem as nossas músicas. Nunca pensei nisso enquanto gravávamos o disco no meu quarto, um ano atrás. Não sinto nenhuma pressão, porque nós mesmos não nos pressionamos. Nós não forçamos as pessoas a nos escutarem, e não forçamos o álbum.
Vocês se sentem confortáveis com o fato de serem citados como uma das bandas que têm, se inspirando nos riffs dos anos 90, trazido um frescor ao rock indie?
Acho que tudo bem. As pessoas rotulam muito a música hoje em dia. Não tenho problema com isso. Mas não vou atrás do que dizem sobre nós, não fico sabendo, a não ser que alguém me conte. Não tenho o hábito de ler sobre nós.
Como era a sua vida há dois anos?
Dois anos atrás, eu estava morando na casa dos meus pais, tinha acabado de terminar o colégio e estava fazendo música todos dias, com o Daniel. Não tinha um trabalho. A gente escrevia muito, e ficava muito empolgado, mesmo não sabendo direito o que fazer.
E qual é a melhor coisa de fazer parte do Yuck?
Poder ir a lugares como o Brasil. Fazer turnês é muito divertido.
Vai dar tempo de fazer alguma coisa, além do show, em São Paulo?
Acho que não, infelizmente. Nós chegaremos por volta das 5h da manhã, à noite faremos o show e no dia seguinte vamos embora, porque vamos para o Glastonbury no fim de semana. Nós fomos aconselhados a não ir para o Brasil, por conta desse cronograma apertado. Mas era uma coisa que queríamos fazer, então resolvemos ir.
Vocês irão tocar em um evento fechado. Há planos de fazer outras apresentações, com vendas de ingressos, pela América do Sul?
Sim, é a razão pela qual decidimos ir agora. Estou ciente da natureza do evento [em que tocaremos], e acho que o fato de irmos agora pode nos dar a chance de fazer mais shows na América do Sul. Esse é o plano.
Hoje, fazer certo sucesso não significa ficar rico. Vocês têm essa meta, enriquecer pela música?
Não, de forma alguma. Se uma banda pensa em dinheiro enquanto está fazendo música, as chances de que essa música seja boa serão muito baixas. As chances de ter uma boa carreira serão baixas. Se você é um artista, não pode esperar por dinheiro, porque você tem de estar confortável com o fato de que nem todo mundo vai querer ver ou ouvir o que você está fazendo, ou que as pessoas simplesmente não vão gostar. Você tem que fazer porque ama, não por dinheiro. Recompensas vêm naturalmente. Se você está pensando em dinheiro, então não deveria fazer música.
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