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Joe Perry

Guitarrista do Aerosmith fala sobre autobiografia, rusgas com Steven Tyler e o estado atual da música

Mauricio Nunes Publicado em 13/10/2016, às 13h18 - Atualizado em 14/10/2016, às 12h47

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<b>BOCA ABERTA</b><br>
Joe Perry alfineta Steven Tyler, mas os dois seguem quase como irmãos - Ap Photo/Luca Bruno
<b>BOCA ABERTA</b><br> Joe Perry alfineta Steven Tyler, mas os dois seguem quase como irmãos - Ap Photo/Luca Bruno

Tem sido um ano e tanto para Joe Perry: a autobiografia do guitarrista, Rocks – Minha Vida Dentro e Fora do Aerosmith (Editora Benvirá) finalmente ganhou versão em português; em julho, ele teve de adiar shows por ter sido hospitalizado depois de passar mal quando tocava com o Hollywood Vampires, banda que mantém com Alice Cooper e Johnny Depp; e este mês desembarca no Brasil para apresentações com o Aerosmith em São Paulo, Porto Alegre e Recife. Jamais se deixando abater, o músico de 66

anos segue sempre disposto a uma boa conversa.

Johnny Depp escreveu o prefácio da sua biografia. Qual sua relação com ele?

Johnny é um amigo especial. Estou trabalhando em um novo disco solo, e como vivo em Boston e o estúdio onde gravo é em Los Angeles fico na casa dele. É uma pessoa extraordinária com uma agenda abarrotada, da qual não sei como consegue dar conta. Às vezes ele sai às 6h da manhã para um set e volta apenas de madrugada, e ainda assim pede para ouvir as canções [em que trabalhei no dia] e me dá ideias. A intensidade e o amor com que ele trabalha são fascinantes. É um excelente ator, um grande amigo e um brilhante guitarrista.

Como a guitarra te conquistou?

Meu avô era português e em uma das reuniões de família um tio me deu de presente uma guitarra portuguesa [instrumento semelhante à versão mais popular do bandolim no Brasil]. Eu tinha uns 8 anos. Aos 11 anos pedi uma guitarra elétrica aos meus pais e comecei a tocar as músicas que ouvia no rádio. Naquele momento eu me encontrei.

Começou ali sua história de amor com o instrumento?

Sim, e dura até hoje. Antigamente, tocar guitarra era quase um movimento social. Em 1964, os Estados Unidos estavam em guerra contra o Vietnã, e nascia a cultura hippie. Eram tempos de mudanças sociais e a guitarra era uma arma, além de uma excelente ferramenta para conquistar garotas. Naquela época, se você andasse com o case da guitarra nas mãos, a chance de conhecer garotas era gigantesca. Se saísse com uma sacola de discos de rock, também faria amigos.

No livro, você conta sobre ter tocado com o Kiss e o fato de Chuck Berry ter feito questão de assistir a um de seus shows. Muitas histórias como essas acabaram ficando de fora da obra?

Muita coisa não entrou por uma questão de edição, e não por falta de memória. O Aerosmith, o Vampires e muitos amigos músicos com quem nunca toquei me deram e me darão outras histórias. Jimmy Page, por exemplo, é um grande amigo e passamos por muitas coisas juntos.

O fato de Steven Tyler ter feito um teste para cantar com o Led Zeppelin te deixou magoado?

Quando questionei Page, ele ficou surpreso por eu não saber da reunião que eles tiveram, porque me disse que, de acordo com Steven, eu é que não queria participar do projeto, mas sequer fui convidado ou informado. Steven mentiu. Não sei por que ele agiu assim, mas esse é Steven.

Como você acha que os fãs digerem o modo como você às vezes se refere a Tyler?

Quando eu e Tom [Hamilton, baixista] montamos o Aerosmith, buscamos vários músicos. Mas quando encontrei aquele cara que tocava maracas, gaita e ainda cantava muito, vi que ele era o ideal. Em 1969 morávamos todos juntos, tocávamos na noite e compúnhamos 24 horas por dia. Não tínhamos disco nem éramos famosos. O que importava era pagar o aluguel. Milhares de músicos procuravam o que a gente também procurava. Nosso diferencial talvez tenha sido a grande combinação de talentos. Tem bandas que se separam depois de três meses. A gente está junto há cinco décadas. É uma relação de amor, mas somos diferentes, portanto há conflitos, como numa família.

Como você vê o mercado musical hoje?

Quando os Beatles surgiram, diziam que eram astros criados do dia para a noite. Esqueceram de citar que anos antes da fama eles já tocavam em bares lotados. As pessoas ignoram isso. Especialmente nos dias de hoje, em que tudo é instantâneo. Não percebem o quanto de trabalho e de tempo é roubado de você até que se torne um astro. [Os pintores] Pablo Picasso e Salvador Dalí são a prova de que gênios são feitos de muito trabalho e estudo. Hoje não há espaço para arte, porque tudo se tornou efêmero. Vivemos à beira de um abismo.