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10 Anos de Música

Redação Publicado em 13/07/2016, às 23h01 - Atualizado em 15/07/2016, às 13h01

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Capa da edição de julho da <i>Rolling Stone Brasil</i>
Capa da edição de julho da <i>Rolling Stone Brasil</i>

A Década do Streaming

Os serviços de música por assinatura fizeram cair em desuso a expressão “baixar um disco”

Você consegue se lembrar de como ouvia música há dez anos? De duas, no mínimo uma: comprava CDs e/ou baixava arquivos de MP3. O hábito de comprar CDs, e também vinis, não é massivo, só que persiste entre muitos fãs e colecionadores de música. Mas qual foi a última vez que você usou a expressão “baixar um disco”? Que o MP3 cairia em desuso mais rápido que o CD poucos poderiam prever. É que o streaming de áudio veio com tudo. Se há uma conexão à internet, você basicamente tem acesso a qualquer música que deseja. Ela não precisa estar armazenada em seu aparelho, seja ele qual for. Afinal, se a tal música procurada for um sucesso ou do repertório de um artista que não entra em litígio com empresas de tecnologia, ela poderá ser disparada em segundos via YouTube, Spotify ou outros serviços do tipo.

Apesar de enfrentar a concorrência da Apple Music, Google Play, Napster, Deezer e assemelhados, o Spotify se mantém na dianteira das plataformas de streaming, alegando contar com 100 milhões de usuários cadastrados em todo o mundo, sendo 30 milhões deles assinantes que pagam mensalidade. O número está em viés de alta – e ela é vertiginosa, já que em 2015 eram 20 milhões de assinantes. Mesmo com esse boom, os artistas ainda não estão satisfeitos com a fatia que é repassada a eles por empresas de streaming. Nem quando seus intermediários/inimigos preferenciais eram as grandes gravadoras a grita por divisão justa da grana era tão forte.

Há dez anos, o grosso do faturamento de uma banda vinha das turnês, e esse quadro não mudou. No aguardo dos ajustes das contas da esfera digital, artistas daqui passaram a dar mais atenção aos produtos além da música (roupas, cadernos, canecas etc.). Emicida e o extinto Forfun estão entre os brasileiros que conseguiram faturar, ou melhor, fazer entregas para os fãs, em um período em que a música virou nuvem.

José Flávio Junior

(Des)Valorizado

O Radiohead subverteu a lógica de lançamentos com álbum “sem preço” e online

Em 2007, o funcionamento da indústria fonográ?ca já não fazia sentido para o Radiohead. Além disso, todos os discos da banda desde Kid A (2000) vazaram prematuramente na internet. Depois de o quinteto sair de um grande selo, os empresários Chris Hu ord e Bryce Edge sugeriram (enquanto estavam chapados) lançar o álbum In Rainbows na rede, na lógica “pague quanto quiser”, entre nada e US$ 99,99. O resultado não só foi rentável – incluindo downloads gratuitos, o lucro por disco foi de £ 1,15, mais do que seria arrecadado em um contrato com uma gravadora – como rede?niu a maneira de lançar álbuns dali em diante. De Beyoncé a U2, todos foram in?uenciados. Quando saiu em CD, In Rainbows liderou as paradas no Reino Unido e nos Estados Unidos.

Lucas Brêda

A“Morte” da MTV

A música da Music Television migrou para o YouTube

Por mais de duas décadas após seu surgimento, em 1981, a MTV permaneceu como fenômeno da cultura de massa, criando tendências e alavancando o mercado musical. Aparecer no canal televisivo era obrigatório para artistas de todos os segmentos do pop e do rock. Em meados dos anos 1980, a indústria do videoclipe se tornou milionária, muito por causa da exposição oferecida pelo canal.

Aos poucos, no entanto, a emissora começou a mudar de programação. A música, que era a principal razão de sua existência, foi sendo colocada de lado. A popularização da internet foi um fator determinante para o ?m da MTV como antes a conhecíamos. Quando, em fevereiro de 2005, foi lançado o YouTube, um site de compartilhamento de vídeos, foi ?ncado o primeiro prego no caixão da Music Television.

Em pouco tempo, o YouTube começou a exibir não só a produção musical de amadores mas também material raro apresentações em programas de TV de décadas atrás e entrevistas, por exemplo. A princípio, a indústria não soube como lidar com a novidade, e ainda hoje há embates entre artistas e a rede. Mas, no geral, o YT é visto como parceiro: um meio para divulgar clipes e outros conteúdos que antes eram material para a MTV, e hoje alimentam os canais das próprias bandas. YouTube e Vevo são meios acessíveis de divulgar e consumir música e imagem, em uma união que um dia foi impulsionada pela MTV.

A Music Television não acabou, mas agora atua em uma espécie de zona fantasma, investindo em reality shows. O “M” do logo já não signi?ca mais nada.

Paulo Cavalcanti

Contato Direto

Interação com os fãs foi intensa nas redes sociais – e os artistas investiram em maneiras para “alimentá-los”

Em tempos em que se vive tanto nas redes sociais quanto na vida real, a agilidade na comunicação entre artistas e fãs nunca foi tão grande. Nesse processo gradual e crescente, uma notícia envelhece muito mais rapidamente e há, cada vez mais, a necessidade de criar não só uma ponte de comunicação direta com o público mas também mantê-lo constantemente “alimentado”. Um exemplo: em uma brincadeira recente, para desmentir os rumores de que a banda chegaria ao ?m, o Foo Fighters fez um anúncio de que faria um anúncio, uma prática já comum (como o “teaser do trailer” ou a “prévia do single”).

Na contramão desse excesso de “anúncios”, o esquema de disco-surpresa nunca foi tão utilizado, uma tentativa de não deixar o álbum “velho” antes mesmo de ele ganhar vida o?cial, já que quase tudo vaza antes da data estipulada para o lançamento. Radiohead e Beyoncé já têm isso quase como hábito, mas a lista de adeptos só cresce: U2, Miley Cyrus, Wilco, Kendrick Lamar, My Bloody Valentine, Drake, The Strokes, Kanye West...

L.B.

Vida Longa ao Físico

Ainda que para público restrito, vinis e boxes sobreviveram

O velho LP de 12 polegadas despertou o interesse de uma geração que não viveu o período áureo do chamado bolachão.

O fascínio pelo vinil motiva novos artistas a prensarem seus trabalhos em edições limitadas, além de haver um amplo espaço nas lojas especializadas para reimpressões de discos clássicos. Outro ?lão que movimenta o mercado é o de caixas especiais, com canções bônus, livretos e memorabilia que ?sgam os fãs mais fervorosos. Ainda assim, em ambos os casos vinis e boxes, o público-alvo é o que tem dinheiro para gastar, já que tanto as bolachas quanto os packs geralmente custam caro.

O Triunfo do Rap

Em movimento encabeçado por Criolo e Emicida, rap nacional ganhou ouvintes em todos os cantos do país

Quando os Racionais lançou Nada como um Dia após o Outro Dia, em 2002, pegou a favela inteira de São Paulo. Todo mundo ouvia”, relembra Projota, um dos rappers mais populares no Brasil atualmente, cuja primeira mixtape é de 2010. Carregando faixas como “Negro Drama” e “Vida Loka”, o segundo álbum do Racionais MC’s marcou o auge e o início do hiato da produção de estúdio do grupo mais importante do gênero no país. Mas a obra fez muito mais que isso: depois da explosão de “Diário de um Detento” (1997) na MTV, consolidou para a nova geração uma música que antes ?cava restrita a um nicho.

Com o surgimento de programas de rádio especializados e a facilidade do acesso à internet, futuros MCs começaram a promover encontros independentes como a Batalha do Santa Cruz e a Central Acústica, na Galeria Olido (São Paulo). Em 2006, Criolo lançou o primeiro álbum (Ainda Há Tempo) e fundou, com o DJ DanDan, a Ri- nha dos MC’s. Na mesma época, nomes co- mo Emicida, Projota, Flora Matos e Rashid, entre outros, rascunhavam as músicas que acabariam nos EPs e nas mixtapes que os apresentariam ao público.

nacional. No VMB 2011, Emicida foi eleito Artista do Ano; o evento também colocou Lurdez da Luz, Karol Conka e Flora Matos em destaque, além de ter promovido uma apresentação conjunta de Criolo e Caetano Veloso para “Não Existe Amor em SP”. Na RS Brasil, Criolo e Emicida tiveram seus discos eleitos, respectivamente, como primeiro e segundo melhores lançamentos do ano.

Os dois maiores nomes desta geração de rappers selaram o momento com o CD/DVD Criolo & Emicida ao Vivo (2013). Um ano depois, Foco, Força e Fé (2014), de Projota, recebeu disco de ouro. “Em 2007 a gente estava tocando no Groove’s da Caçapa [em Santo André] para 50 pessoas; em 2009 estávamos com três indicações no VMB e em 2011 viajamos para fora do país para fazer show”, disse DJ Nyack, que acompanha Emicida, à RS. No título da mixtape de estreia, de 2009, o rapper confessava: Pra Quem Já Mordeu um Cachorro por Comida, até Que Eu Cheguei Longe... Mal sabia ele que aquele era só o começo de uma era.

Lucas Brêda

Ex-Quadrilha de Volta

Marcelo D2 e BNegão reativaram de vez o Planet Hemp

Em 2009, Tico Santa Cruz fez uma campanha no Twitter para que a hashtag “#PlanetHemp” virasse trending topic. Começou de maneira inusitada, mas o retorno dos “maconheiros mais famosos do Brasil” aos palcos aconteceu, um ano depois, no VMB 2010.

Em 2012, eles iniciaram uma turnê que rendeu dois shows no Lollapalooza, e seguem na estrada. Marcelo D2 e BNegão comandam os microfones e até Black Alien que saiu da banda em 2001 – se juntou brevemente a eles, cantando “Contexto” no Festival João Jock, em junho. Um disco de inéditas não está descartado. “Não é mais uma reunião, é uma volta”, disse D2, certo de que, com o avanço das pesquisas sobre o uso medicinal da Cannabis sativa, os tempos são mais propícios para a mensagem da banda.

L.B.

Dores ao Vento

Cantora de?nhou em praça pública com o impulso da internet

Há mais ou menos 15 anos, quando Amy Winehouse começou a aparecer nas revistas britânicas de música, o interesse foi imediato: a aspirante a cantora tinha um rosto exótico e personalidade forte, além de um nome que parecia piada pronta (a junção das palavras “wine” e “house” significa “adega”). Nos breves textos iniciais, os escribas relatavam que o lance da garota de vozeirão potente era resgatar a tradição do soul e do jazz. Um revival desses estilos, com uma pegada pop e radiofônica, parecia ser algo bem-vindo. Amy, então, seria a porta-voz da tendência.

A estreia, Frank, (2003), foi uma bem-sucedida curiosidade. Mas com o esplêndido Back to Black (2006), o segundo e final álbum lançado em vida, Amy entrou de vez na consciência pop. Ela era comparada às icônicas Billie Holiday e Janis Joplin, e não só na parte musical – os

crescentes excessos também entravam na conta. Infelizmente, depois do estouro do álbum e do single “Rehab”, teve pouca música. Se os problemas de Amy com substâncias químicas já eram bem conhecidos, eles foram posteriormente enfi ados garganta abaixo de um público que

parecia torcer para o pior. A superexposição foi fatal para a artista. A mídia a tratou de forma irresponsável. Em tempos de redes sociais e celulares intrusivos, Amy era perseguida de maneira doentia pelos paparazzi e por uma parcela dos fãs, e viu a própria existência transformada em um macabro reality show. Brigas, bebedeiras, prisões, vexames, shows cancelados... enfim, teve de tudo. Em vez de uma figura libertária, a cantora se transformou em uma caricatura. Ela se foi em 2011, aos emblemáticos 27 anos, sintetizando o poder (negativo) da indústria da fofoca e a sede por atualizações sobre celebridades minuto a minuto na era da internet.

Paulo Cavalcanti

Momento Apropriado

Adele reinou a partir de 2011

Se Amy Winehouse não tivesse surgido e mudado o mercado, Adele Adkins, mesmo com o enorme talento do qual é dona, teria que encontrar outra forma para fazer sucesso. Ela foi uma das artistas que se bene?ciaram pelo interesse renovado em uma determinada abordagem musical e na estética vintage, caminho aberto por Amy. Mas as comparações param aí. Enquanto Amy incorporava elementos de música negra de raiz, Adele se

mostrava como herdeira da linha cantora-compositora dos anos 1970. A britânica também é uma das grandes histórias de sucesso destes tempos, uma das raras ?guras que conseguem vender discos como nos dias áureos da indústria fonográ?ca. Com 21 (2011), ela foi alçada a algo como “salvadora” da indústria. Adele é focada, procura não desgastar a imagem e, acima de tudo, trabalha para que sua carreira tenha vida longa.

P.C.

Dias Sombrios

Os grandes nomes que lançaram as bases para a cultura pop começaram a partir

Quando Elvis Presley morreu, em 1977, Mick Jagger declarou, perplexo: “Astros do rock estão caindo como moscas. O Roy Orbison ainda está vivo?” Se há quase 40 anos o vocalista dos Rolling Stones se mostrava intrigado com a morte dos colegas do meio do rock and roll, imagine agora. Antigamente, a chamada “geração dos 27”, exemplificada por Janis Joplin, Jimi Hendrix, Brian Jones e Jim Morrison, morria

por causa dos excessos. Agora, o jogo é outro.

Artistas são como todos os seres humanos adoecem, envelhecem, morrem. Superastros que brilharam nas décadas de 1960, 1970 e 1980 estão desaparecendo deste planeta ou então se aposentando. Pioneiros como Tina Turner, Little Richard e Fats Domino já anunciaram que nunca mais vão fazer turnês e estão cumprindo a promessa. O Black Sabbath e o The Who estão atualmente em turnês de despedida. E os grandes se vão. Com a morte de Michael Jackson, David Bowie e Prince, ficou a impressão de que parte da memória afetiva do planeta foi embora com eles. E quando morre alguém como Lemmy Kilmister (70 anos), do Motörhead, que parecia ser a figura mais indestrutível do planeta, percebemos que os tempos são outros. Cada vez mais, vamos ter que nos acostumar com a ausência de tipos como ele.

Quanto à indagação de Jagger, Roy Orbison ainda estava vivo em 1977 – ele morreu em 1988. Quem ainda está vivo e forte é Keith Richards, companheiro de Jagger nos Stones. As piadas quanto ao escudo de ferro do homem são muitas: “Precisamos pensar no mundo que deixaremos para Keith Richards”, “quando o apocalipse chegar, só restarão Richards e as baratas”. Mas a verdade é que a hora chega para todos, e os grandes ícones que formataram a cultura pop estão, pouco a pouco, deixando os palcos. Precisamos celebrá-los

enquanto ainda é tempo.

Paulo Cavalcanti

O Rei Cai

Michael Jackson morreu pouco antes de voltar aos palcos

A morte de Michael Jackson, em junho de 2009, aos 50 anos, foi um choque, mas não exatamente uma surpresa. Depois de sucessivos escândalos e incontornáveis problemas legais e financeiros, a carreira do Rei do Pop já não era mais viável como antes. Ele se preparava para voltar aos palcos, mas não parecia estar com a saúde em dia para a maratona de shows que tinha anunciado meses antes, chamada This Is It. Não deu tempo: usuário de anestésicos usados comumente em cirurgias, Jackson sofreu uma overdose. Tristemente,Prince, outro ícone supremo da black music, morreu em abril deste ano, também devido ao abuso de medicamentos controlados. No caso dele, que tinha 57 anos, ninguém esperava: estava em turnê e lançou dois bons discos em 2015.

P.C.

Astro na Vida e na Morte

David Bowie lançou disco aclamado e se foi dois dias depois

David Bowie estava longe dos holofotes havia uma década, até aparecer com o disco The Next Day (2013). Ficou a impressão de que era um renascimento. No dia 8 de janeiro de 2016, quando completou 69 anos, lançou o brilhante Blackstar. Dois dias depois, ele morreu vitimado por um câncer no fígado. O mundo ficou de luto. O desaparecimento do artista britânico lançou profundas reflexões sobre música, imagem, estilo e sexualidade e sobre o legado dele para cada um desses universos.

Três dias antes do fim, Bowie lançou o premonitório vídeo de “Lazarus”, em que a morte o rondava. O produtor e amigo Tony Visconti foi quem melhor definiu a partida do artista: “A morte dele não foi diferente da vida uma obra de arte”.

P.C.

Legado Inabalável

Outras lendas que partiram nos últimos dez anos

BO DIDDLEY (1928-2008)

Um dos pioneiros do rock

GIL SCOTT-HERON

(1949-2011) Pioneiro do funk e do rap

GLENN FREY

(1948-2016) Líder do Eagles

IKE TURNER (1931-2007)

Ícone do rock e do R&B

JAMES BROWN (1933-2006)

O padrinho do soul e do funk

JEFF HANNEMAN

(1964-2013) Guitarrista do Slayer

JOE COCKER

(1944-2014) Versátil cantor britânico de soul e R&B

LOU REED

(1942-2013)

Vocalista do seminal Velvet Underground

PHIL EVERLY (1939-2014)

Metade do Everly Brothers

RONNIE JAMES DIO

(1942-2010)

Um dos grandes vocalistas do heavy metal

SYD BARRETT

(1946-2006)

Fundador do Pink Floyd

No Centro das Atenções

O DJ alcançou um nível de sucesso e idolatria que era reservado no passado aos vocalistas de bandas de rock

Um DJ todo empolgado, em um cenário cheio de luzes, fechando a noite de um grande festival. Mas não na tenda eletrônica, e sim no palco principal do evento. Está aí uma ideia com a qual tivemos de nos acostumar nos últimos anos. Conviver com grandes artistas de música eletrônica era algo comum desde os anos 1990: Prodigy, Chemical Brothers, Underworld, Daft Punk e Justice são alguns exemplos. Porém algo mudou quando a sigla EDM – de electronic dance music – começou a se tornar verdadeiramente popular nos Estados Unidos.

Ao mesmo tempo que festivais híbridos passavam a ceder espaços nobres de suas grades para estrelas desse universo e eventos puramente eletrônicos juntavam multidões ao redor do mundo, começava uma aproximação entre DJs e artistas do pop e do hip-hop como nunca havia se visto. Uma parceria e um ano emblemático desse novo momento: “I Gotta a Feeling”, o estrondoso hit do Black Eyed Peas produzido por David Guetta, em 2009. A faixa colocou o francês em outro patamar na indústria musical e as paradas então coalharam de singles assinados por algum DJ de alta patente (ele, Calvin Harris, Avicii, Tiësto), com participação da cantora ou do rapper-sensação.

De certa forma, foi como se o DJ assumisse um posto que antes era do vocalista da banda de rock. Até seus próprios códigos de interação os DJs superstars criaram. Assim como Ozzy Osbourne cultivou o hábito de jogar baldes d’água para refrescar sua audiência, Steve Aoki lançou a moda de escolher um fã na primeira ?la e esfregar um bolo inteiro em seu rosto. “Quando as pessoas recebem o bolo na cara, elas fazem questão de mostrar para todo mundo. É um troço bem bizarro, que nem todos entendem”, disse o DJ, em entrevista para a rede CNN. Ver- dade, nem todos entendem.

José Flávio Junior

Pista Cheia

Antes parte do underground, festivais eletrônicos passaram a reunir milhares de pessoas

Clima tropical, grandes espaços abertos próximos a cidades grandes, a explosão do ecstasy: o Brasil se tornou um terreno fértil para os megafestivais de música eletrônica. De eventos underground divulgados no boca a boca, as raves a céu aberto passaram a festas grandiosas, com DJs do mundo todo e público jovem e com dinheiro para gastar. Na esteira do sucesso do trance por aqui, um dos marcos dessa explosão foi a festa de 10 anos do festival XXXperience, que reuniu mais de 30 mil pessoas na Fazenda Maeda, em Itu, em 2006.

Um Boom de Atrações

Bom momento econômico trouxe uma leva inimaginável de artistas internacionais

OCK IN RIO ABRIU A PORTEIRA NOS ANOS 1980. NA década seguinte, presenciamos edições históricas do Hollywood Rock, Free Jazz Festival e o debute em solo nacional de lendas como Paul McCartney, Rolling Stones e Robert Plant e Jimmy Page, do Led Zeppelin. No começo do milênio, recebemos Neil Young pela primeira e única vez para um show. E nos últimos dez anos as coisas se intensificaram. O bom momento econômico do país fez Macca virar quase “de casa”. O Just a Fest, em 2009, possibilitou apresentação do Radiohead com Kraftwerk abrindo – e Los Hermanos reunido para a ocasião de lambuja. Teve ainda a vinda de Amy Winehouse para o Summer Soul Festival, em 2011, meses antes de ela morrer. Alguns festivais de médio porte, como os que viabilizaram The Strokes (Tim Festival e Planeta Terra) e Pixies (Curitiba Pop Festival e SWU), foram levados pela crise. Mas ficamos com o Lollapalooza, o Rock in Rio com periodicidade definida e uma cena bastante solidificada de festivais independentes pelo país vide Bananada, em Goiânia (GO), Se Rasgum, em Belém (PA), e Rec-Beat, no Recife (PE). Nessa seara, nunca está tranquilo. Mas está sustentável – e minimamente estruturado.

José Flávio Junior

Estreias Inesquecíveis

Dezenas de ícones passaram pelo Brasil pela primeira vez nos últimos dez anos. Estes foram apenas alguns deles

PATTI SMITH (2006, Rio de Janeiro)

MELVINS (2008, São Paulo)

TWISTED SISTER (2009, São Paulo)

RADIOHEAD (2009, São Paulo e Rio de Janeiro)

BEACH BOYS (2009, São Paulo)

ZZ TOP (2010, Porto Alegre e São Paulo)

JOHN FOGERTY (2011, Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro)

RINGO STARR (2011, Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre, São Paulo, Recife e Rio de Janeiro)

SOUNDGARDEN (2014, São Paulo)

DAVID GILMOUR (2015, Curitiba, Porto Alegre e São Paulo)

País Sertanejo

No mercado nacional, gênero seguiu imbatível

Das 100 músicas mais tocadas no Brasil em 2015, nada menos do que 75 estão enquadradas no gênero sertanejo. A lista do Instituto Crowley re?ete a realidade do mercado de shows nacionais na última década. Sem depender de centros urbanos como Rio de Janeiro e São Paulo, esse mercado tem movimentado milhões de reais pelos interiores do país e projetado nomes como a dupla Victor & Leo, o cantor Luan Santana e, mais recentemente, a cantora Marília Mendonça. A partir de 2005, a música sertaneja adquiriu sotaque pop, direcionou o discurso para as baladas e se misturou com outros gêneros populares, como o forró e o arrocha.

Mauro Ferreira

Força Permanente

Misturando reverência e toques próprios, artistas dos novos tempos mantiveram acesa a chama das guitarras

Nestes frenéticos dez anos que se passaram, talvez tenha sido difícil enxergar o rock como ele era antigamente. Com a diversificação da música e a expansão e a modificação dos canais de propagação, o estilo perdeu um pouco de seu viés tradicional. Mas ele não morre jamais. Como

acontece há décadas, o rock se transforma e se revitaliza, tanto em termos sonoros quanto no campo da atitude. O público também acompanha as novas configurações do estilo. Não existe nenhum problema em reciclar velhas fórmulas e adaptá-las para os tempos atuais – isso sempre fez parte do jogo. E o resgate de sonoridades clássicas pelos astros do rock contemporâneo não é apenas nostalgia: com talento e criatividade,

nomes como Jack White, Foo Fighters, The Black Keys, Tame Impala e Muse, dentre outros, usam bases de outros tempos para criar algo instigante, mantendo o rock vivo e cheio de referências, mas com identidade própria.

FOO FIGHTERS

GUERREIROS DO ROCK DE ARENA

Com o versátil vocalista e guitarrista Dave Grohl na liderança, o Foo Fighters prima por resgatar a sonoridade do som hard das antigas e do classic rock. Os discos do quinteto são altamente comerciais e a personalidade afável e zombeteira do frontman é um forte chamariz. A banda também prospera graças ao impecável senso de marketing de Grohl – de certa forma, hoje ele cumpre o papel que foi de Phil Collins nos anos 1980. O ex-baterista do Nirvana é o cara legal que toca com todo mundo e o músico que ajuda os veteranos a se conectar com novos públicos.

JACK WHITE

O EMBAIXADOR DO VINTAGE

O cantor e guitarrista já se destacava nos anos 1990 no duo The White Stripes. Quando passou a investir pesado na própria gravadora, a Third Man Records, em diversos projetos paralelos (The Raconteurs, em 2005, The Dead Weather, em 2009) e se lançou em carreira solo (2012), White virou o herói dos aficionados por tudo que é vintage. É o cara que faz música para quem ainda se liga em heróis da guitarra, discos de vinil, blues demoníacos e ri s à la Led Zeppelin. Ele fez da cidade de Nashville o quartel-general da Third Man, que segue satisfazendo a turma que busca os velhos tempos” do rock.

TAME IMPALA

PSICODELIA DOS ANOS 1960 PARA OS 2000

A banda surgiu na longínqua cidade de Perth, na Austrália, e se destaca andando na contramão do que se poderia esperar de um artista do mainstream. Liderado pelo inquieto Kevin Parker, o Tame Impala é o símbolo do rock psicodélico contemporâneo. Para Parker, vale emular os efeitos exuberantes que os Beatles usavam na época de Revolver, as guitarras espaciais do Pink Floyd e todos os cacoetes da lisergia explorada especialmente nos anos 1960 e 1970. O fato de uma banda como essa despertar tanto interesse entre público e crítica revela uma

carência por roqueiros menos convencionais.

THE BLACK KEYS

GROOVE E BLUES COM PEGADA DANÇANTE

A mistura de groove e do balanço básico do rock de garagem com levada de soul e rhythm and blues ficou perdida quando a influência do punk e do indie rock pareciam ser as únicas alternativas para o rock. Mas a dupla The Black Keys, formada por Dan Auerbach (guitarra e vocal) e Patrick Carney (bateria), apareceu para resgatar o suingue. Os dois se provaram autossuficientes, produzindo e tocando quase tudo quando emestúdio. Com o disco Brothers (2010), o sexto da carreira (que trouxe os hits “Tighten Up” e “Howlin’ for You”), passaram a se apresentar em grandes

festivais mundo afora.

MUSE

ROCK PROGRESSIVO PARA AS NOVAS GERAÇÕES

O rock progressivo teve o apogeu na primeira metade da década de 1970, mas nunca foi embora. O trio inglês Muse, liderado pelo sagaz Matt Bellamy, soube como poucos usar a expertise adquirida com os mestres, elaborando um som denso e trabalhado, mas que não soa elitista

e consegue alcançar as grandes massas. Ao vivo, a banda usa um arsenal completo, com direito a lasers e efeitos pirotécnicos (além de

soar muito bem, claro). Mas eles não imitam os artistas clássicos do gênero. O prog rock do Muse é pop e tem apelo visual, direcionado à

geração que cresceu conectada à internet.

Viva o Empoderamento

A presença feminina na música é uma potência desde sempre, mas nunca se debateu tanto a igualdade de gêneros quanto agora

Oportunismo ou bandeira, a causa da igualdade de gêneros está nas letras e nos clipes das maiores artistas dos últimos anos. Sempre fez parte das incumbências do universo pop detectar, deglutir e entregar de forma dançante e radiofônica as inclinações de mudança social. O cinema faz isso à sua maneira e a moda tem um jeito especial de englobar essas evoluções em um exercício de retroalimentação de tendências. Contudo, só a predisposição festiva da música pop é capaz de fazer com que as pessoas pulem, gritem palavras de ordem e dancem ao ritmo da insurreição

como se o futuro dependesse disso. Enquanto o movimento punk riot grrrl, na década de 1990, serviu a um nicho e falou a um grupo já enturmado com as ideias de igualdade de gênero e libertação da mulher, divas como Beyoncé e Lady Gaga emprestaram sua voz de forma muito

mais abrangente para levantar e espalhar o debate – embora, muitas vezes, com um embasamento falho ou contraditório.

Gaga apoiou as causas LGBT e da mulher abraçando inúmeras (e respeitosas) campanhas pelo caminho. Na era da Mamãe Monstro, ela celebrou a diversidade transformando o esquisito e o fora do padrão em lugar-comum. Está hoje “amansada” do ponto de vista visual, mas teve seu

objetivo alcançado: já passava da hora de dar uma sacudida no pasteurizado e previsível pop feminino.

Já Beyoncé, a rainha dos chamados “hinos feministas” da última década, que conseguiu substituir “You Oughta Know” (Alanis Morissette)

em karaokês mundo afora, canta para se empoderar. Ela expurgou as dores da traição em “Irreplaceable” (2006) e em todo o discoLemonade (2016), mas parece que ao longo destes dez anos desaprendeu que não pode empoderar a mulher enquanto colocar a culpa nas costas “da outra”. Em 2011, passou o ano gritando em todas as rádios que as mulheres mandam em tudo no hit “Run the World (Girls)”.Foi igualmente celebrada por “Single Ladies (Put a Ring on It)” (2008), na qual se diz liberta das dores de um amor que não deu certo ao mesmo tempo que parece dar o recado de que o objetivo de uma mulher solteira é arrumar um marido. Sim, há incongruências no discurso lírico de Beyoncé, mas ela não teve medo de tomar oficialmente para si o antes temido título de feminista e, desde então, tem se dedicado a isso em tudo que faz. É só ver os vídeos dela para concluir que, nos últimos tempos, não teve quem levasse a causa da mulher de maneira mais eficaz aos cantos mais machistas do entretenimento. Lembra-se de quando as mulheres tinham a mesma função de um carro nos videoclipes do top 10? Esses tempos estão ficando para trás.

Stella Rodrigues

Terra do Bom Som

São Paulo deu o tom de muito do que foi apreciado nos últimos anos

A partir de 2005, com a aparição e o rápido sucesso da cantora Céu, São Paulo foi expandindo e sedimentando uma cena musical contemporânea que devolveu à cidade, na última década, o status de lançadora de sons e tendências. Foi algo análogo ao que ocorreu no início dos anos 1980, década

em que o movimento rotulado como Vanguarda Paulista pôs a capital em destaque na produção nacional. A explosão da cantora Maria Gadú, em 2009, foi a face mais visível disso no mainstream, seguida pela progressiva projeção de Marcelo Jeneci, a partir de 2010.

Mas a movimentação mais expressiva ocorreu às margens do mercado fonográfico. Compositores como Rômulo Fróes, Rodrigo Campos e Kiko Dinucci seduziram crítica e uma fatia mais curiosa do público, ajudando a delinear a identidade musical de uma esfera que também abriu espaço

para vozes femininas, como Tiê e Tulipa Ruiz (sensação da música em 2010), ao mesmo tempo que colaborou para tirar rappers, como Criolo e Emicida, do gueto do hip-hop. Em 2014, a consagração do primeiro álbum solo de Juçara Marçal, Encarnado, presente em todas as listas de melhores discos daquele ano, reiterou o vigor do som indie e noise do cenário paulistano. O espírito gregário é uma marca desse universo, abarcando nomes que migraram e se radicaram em São Paulo, como as baianas Marcia Castro e Karina Buhr, criada no Recife. O tom colaborativo entre os artistas fez com que produtores musicais, como Guilherme Held e Daniel Ganjaman, fossem tão valorizados quanto os cantores e compositores

residentes na cidade. A conexão de Ná Ozzetti, cantora associada à vanguarda da década de 1980,com o grupo Passo Torto exemplificou a capacidade do mapa paulistano de dialogar com artistas de outras gerações e estados do Brasil, sobretudo os do Rio de Janeiro. A ponte aérea musical nunca esteve tão lotada.

Mauro Ferreira

Rock em Alta Temperatura

O Centro-Oeste foi muito além das duplas sertanejas

Embora sejam mais conhecidas como celeiros de duplas sertanejas, as capitais dos estados do Centro-Oeste do Brasil voltaram a ter uma cena roqueira efervescente a partir de meados dos anos 2000. A exposição nacional das bandas Vanguart e Macaco Bong, de Cuiabá (MT), e Boogarins, de Goiânia (GO), é somente a face mais visível de um movimento que gerou e continua alimentando festivais de rock nas duas cidades. Em evidência local a partir dos anos 2010, bandas mato-grossenses, como Engenho de Dentro, Esmalthes, Lynhas de Montagem e Theo Charbel e os Piratas do Cerrado, têm público fiel em Cuiabá e arredores. Em Goiânia, a cena é igualmente movimentada, com bandas como Carne Doce, Dry, Mechanics e Space Truck.

M.F.

Ascensão e Queda

O tecnobrega tem apelo local, mas no cenário pop a força do Pará esmaeceu

Em 2012, a cantora Gaby Amarantos repôs o Pará no mapa musical do Brasil ao lançar a faixa “Xirley” (aquela do “café coado na calcinha”) e, depois, com o primeiro álbum solo, Treme, alavancado por música na programação da TV Globo. Desde 1976, ano do primeiro álbum solo de Fafá de Belém, os ouvidos do resto do país não se voltavam com tanta atenção para o estado. A guitarrada (de toque caribenho), o carimbó, a lambada, o siriá, o tecnobrega e as aparelhagens (nomes dados às festas onde rolavam os sons de Belém e arredores) ganharam espaço na mídia e projetaram nomes como o do cantor e guitarrista Felipe Cordeiro, fi lho do icônico Manoel Cordeiro, pioneiro no toque paraense da guitarra. Contudo, o fogo foi esmaecendo nos anos seguintes. Conhecida no início da carreira pelo epíteto de “Beyoncé do Pará”, Gaby Amarantos perdeu o apelo pop e motivou críticas públicas do produtor Carlos Eduardo Miranda quando lançou “Gaby Ostentação”, faixa que, nas palavras de Miranda, é uma “quase crítica

(oportunista?)” ao gênero do funk. E cantoras paraenses como Lia Sophia tentaram em vão conquistar visibilidade nacional no rastro do sucesso já diluído de Gaby. Em que pese a perda de importância da cena paraense, artistas como o duo de música eletrônica Strobo (cultuado por Marina Lima) e

Dona Onete (que acaba de lançar o segundo álbum, Banzeiro) continuam em evidência.

M.F.

Fronteira Intransponível

Explosão de Curitiba ?cou na promessa

Como diria Humberto Gessinger, Porto Alegre é mais “longe demais das capitais” do que Curitiba. Mas parece haver uma maldição na capital do Paraná que encarcera as bandas de lá dentro das fronteiras locais. Apesar do sucesso setorizado de A Banda Mais Bonita da Cidade, a última década manteve inalterada a incapacidade do município para tornar visíveis os grupos curitibanos de rock. Bandas como Charme Chulo, Division Hell, Livin

Garden e Necropsya permanecem atreladas à cidade natal e, mesmo em Curitiba, mobilizam apenas pequena parcela do público disposto a ouvir rock. A internet talvez seja a janela para saída, vislumbrada temporariamente pel’A Banda Mais Bonita da Cidade.

Perdendo Espaço

Axé music foi deixada para trás pelo arrocha

Rótulo genérico que abarca vários ritmos afro-popbaianos, a axé music desceu a ladeira na última década. Os 30 anos do gênero foram festejados em 2015 com foco no passado de glória. No presente, o axé perdeu espaço até na Salvador (BA) natal para ritmos populistas como o arrocha (mistura de brega com sertanejo) e o pagode baiano. As estrelas do axé, como Ivete Sangalo e Daniela Mercury, continuaram na mídia mais por força de estratégias de marketing do que pela música que cantam. O circuito nordestino de micaretas também ficou reduzido face à explosão de artistas

mais ligados ao forró, como Wesley Safadão. Atenta ao movimento decrescente, Claudia Leitte assinou contrato com empresa dirigida por Jay Z para tentar carreira no mercado latino internacional.

M.F.

Seguindo a Canção

Caetano Veloso, Gal Costa e outros viram sua influência se renovar com novas parcerias e sons

Tropicalista pela própria natureza, Caetano Veloso foi o primeiro medalhão da MPB a se conectar com músicos da nova geração, tendência que se intensificou ao longo dos últimos dez anos. Em 2006, ao gravar o álbum , o então sexagenário artista baiano investiu na sonoridade do indie rock construída com o trio formado pelo guitarrista Pedro Sá, pelo baixista Ricardo Dias Gomes e pelo baterista Marcelo Callado – e viu

rejuvenescer o público dos shows. Além de ter gravado mais dois álbuns com a Banda Cê, Caetano articulou a aproximação de Gal Costa com Moreno Veloso e com músicos da nova geração no disco e show Recanto (2011), que devolveu à cantora o prestígio então perdido. Na sequência, Gal ampliou seu apelo renovado em outro álbum de estúdio, Estratosférica (2015), produzido por Kassin com Moreno Veloso. Atento ao movimento do amigo de fé, Gilberto Gil abordou o repertório de João Gilberto com o toque contemporâneo de músicos como o baterista Domenico Lancellotti. Já Milton Nascimento saiu em turnê com o rapper paulistano Criolo, de quem se tornou parceiro em “Dez Anjos”, música lançada por Gal no mesmo álbum em que a cantora gravou composições inéditas de Céu e Mallu Magalhães. Esse “crossover” de gerações foi bom para todo mundo: os veteranos renovaram o público à medida que os novos ganharam visibilidade muito além das

pequenas casas de shows das capitais.

Mauro Ferreira

Balanço Forte

O groove brilhou nas caixas de som e nos cinemas Ver um baluarte da música negrabrasileira em cima do palco foi fácil na última década – e a lista de santos a quem podemos agradecer é grande. Vai desde o Sesc e os artistas da nova geração, que não pararam de convidar para projetos astros

como Luiz Melodia, Elza Soares, Hyldon, Di Melo e Tony Tornado, até eventos de universidades que bancaram shows de nomes como Jorge Ben Jor para multidões. Outras duas lendas ganharam vida pelas telonas.

WILSON SIMONAL

Mesmo depois de sua morte, em 2000, toda reportagem sobre Wilson Simonal vinha acompanhada de uma discussão sobre seu suposto envolvimento com o regime militar que superava a apreciação estética de sua maravilhosa obra. O documentário Ninguém Sabe o Duro Que Dei(2009), codirigido por Claudio Manoel (Casseta & Planeta), ajudou a mudar essa história ao enfatizar mais a música. E o cantor de “Sá

Marina” fi nalmente foi anistiado.

TIM MAIA

O repertório de Sebastião Rodrigues Maia nunca saiu do imaginário dos brasileiros. Sua trajetória, entretanto, era um amontoado de causos pitorescos até Nelson Motta checar as fontes emVale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia(2007). O livro viroubest-sellere redundou em musical (que revelou o ator Tiago Abravanel) e filme. E o pior é que os causos eram todos verdadeiros! Para reforçar o mito, em 2011 saiu o terceiro volume do discoTim Maia Racional.

J.F.J.