Humphrey Bogart definiu o que é cool para gerações de fãs de filmes. Em Casablanca, ele gerencia a maior “balada” de época guerra do mundo (bebidas alcoólicas e música ao vivo no salão da frente e apostas ilegais no fundo) e é um cínico que anuncia que não se arrisca por ninguém. Claro, se procurar por baixo da camada cínica, você encontra um romântico ferido. Quando Ingrid Bergman (em seu auge), acompanhada de seu marido herói da resistência, retorna à vida de Bogie, ela faz o teste definitivo tanto com o cinismo quanto com o lado romântico dele. E ele passa; a conduta de Bogart aqui é praticamente um manual de como um cara deve se comportar corretamente. Não somente como fazer para recuperar o amor da mulher que partiu seu coração, mas como tratar um amigo leal e sábio (o indispensável Sam de Dooley Wilson), como fazer um sacrifício nobre, quando usar a força e como criar um “bromance” com seus inimigos ("Louie, acho que esse é o início de uma linda amizade").
O filme de 1989 Harry & Sally - Feitos um Para o Outro pode ser o projeto que estabeleceu o direcionamento de todas as comédias românticas atuais, mas a estrutura desse filme foi estabelecida primeiro nesse marco de 1977 de Woody Allen. Um alienígena assistindo à paquera esquisita entre Annie (Diane Keaton) e Alvy (Allen) poderia ficar impressionado com o fato de que os humanos conseguem dar conta de se reproduzirem, já que o filme é cheio de exemplos das formas como homens e mulheres fracassam ao tentarem se entender. (Aqui, Allen oferece alguns insights profundos disfarçados de piadas e truques de cinema, usando animação, tela dividida, legendas, basicamente tudo que faz parte do arsenal do cineasta). Claro que, sem todas as piadas, isso seria apenas a tragédia de um homem que se apaixona por uma mulher. Mas com o humor, é um exemplo da habilidade de criação da imaginação em transformar um coração partido em uma arte com a qual todo mundo consegue se identificar. Pontos extras para todas as participações hilárias, incluindo a de Christopher Walken como o irmão assustador de Annie, Paul Simon como um espertinho do show business, Jeff Goldblum como um cara que não consegue se lembrar de seu mantra e Shelley Duvall como a jornalista da Rolling Stone EUA que diz a Alvy "fazer sexo com você é uma experiência kafkiana... e isso é um elogio."
Pode-se pensar nesse filme como um romance antiquado e chiliquento. E ele é. Mas na verdade é um filme sobre como ser um homem. Não basta apenas cadete da marinha Richard Gere fazer sexo selvagem com Debra Winger para se tornar um homem; na realidade, foi apanhando do instrutor de recrutas Louis Gossett, Jr. que deu a ele caráter. Conforme Gere descobre, ser um homem significa se responsabilizar pela sua vida e pela vida das pessoas próximas a você. Quando Gere surpreende Winger na famosa cena final, não é porque ele aprendeu a amá-la, mas porque ele aprendeu a ser digno dela.
Muita gente gosta de seus romances servidos com uma dose de aventura e não tem nada de errado com isso. Para uma aventura romântica de verdade, é difícil ganhar de Tudo por uma Esmeralda. Kathleen Turner (que estava no auge) é uma romancista tímida que se solta quando se vê em uma caça ao tesouro na selva colombiana. Michael Douglas é o herói que ela estava procurando desde sempre. E um Danny DeVito endiabrado está hilário e profano no papel de “alivio cômico”. É uma história de amor que ao mesmo tempo satiriza e faz homenagem aos clichês de romances literários, enquanto ainda oferece bastante ação (perseguição em alta velocidade! Traficantes bem armados! Um castelo cheio de crocodilos famintos!).
Se você nunca assistiu, pode ficar tão cético quando o pequeno Fred Savage fica no começo do filme. Soa meio piegas, não? Onde está a ação? Mas tenha certeza que essa homenagem/sátira ao conto de fadas tem monstros, tortura e vingança. Além disso, piadas e infinitas frases citáveis. E sim, romance cafona. É um híbrido estranho de filme fanfarrão old school com uma sensibilidade moderna e irônica.
John Cusack teve um reinado bastante longo (quase 20 anos) como o principal ator atuando como protagonista masculino de comédias românticas. Ele tinha o poder de ao mesmo tempo projetar uma inocência fofa e um cinismo esperto, o que o tornou um herói que gerava apelo tanto nas mulheres e para os homens, para quem passava a imagem de um amigo de bar divertido. Seu estudante universitário virginal em A Coisa Certa é um ingênuo mais amável, enquanto o nerd musical e dono de lojas de disco de Alta Fidelidade é mais um cínico destruidor, mas ele chega à média ideal em seu principal longa, Digam o que Quiserem, de Cameron Crowe. O Lloyd Dobler de Cusack é um protagonista romântico único: suas melhores amigas (platônicas) são todas mulhers e exceto por seu kickboxing, ele não tem nenhuma aspiração que vá além de seduzir e conquistar Diane Court (Ione Skye). Assim como em qualquer personagem de Cusack, ele é bom de papo, mas Lloyd também é totalmente desprovido de qualquer intenção enganadora. Sua honestidade intensa o torna tanto atraente quanto levemente assustador. Ainda assim, Diane acaba reconhecendo que ele é um homem melhor do que o mentiroso do seu pai. Toda uma geração de cinéfilos cresceu acreditando que o mais clássicos dos gestos românticos é o dele (um aparelho de som debaixo da janela da moça com as caixas estourando “In Your Eyes", de Peter Gabriel).
O filme de romance mais elogiado de Cameron Crowe é algo complexo. É estruturado como um romance normal entre o consciencioso agente Jerry (Tom Cruise) e a mãe solteira Dorothy (Renée Zellweger), mas na verdade é o “bromance” entre Jerry e seu único cliente, o jogador de futebol profissional Rod Tidwell (Cuba Gooding, Jr.). Um homem completa o outro: Jerry é focado demais no trabalho (o que prejudica sua vida pessoal), enquanto Rod tem uma vida familiar admirável, mas sofre no trabalho. Até mesmo quando Jerry se casa com Dorothy, é mais para evitar desapontar o filho dela Ray do que por amor. Isso só acontece muito depois, confirmado pelo famoso discurso que envolve a frase “você me convenceu com o oi”, mas o clímax emocional do filme chega antes disso, com a ressurreição de Rod e sua dança exuberante. Jerry finalmente se tranforma em um homem de família, mas ele e Rod que completam um ao outro.
Claramente, Kevin Smith é obcecado por HQs e maconha, então talvez não seja uma surpresa que ele seja bom em fazer filme sobre caras que têm facilidade de bater papo platonicamente com mulheres, mas preferiam deixar isso de “só amizade” de lado e levar a relação para outro nível. Essa é basicamente toda a ideia por trás de Pagando Bem, que Mal Tem?, mas ele explora a ideia com ainda mais profundidade neste filme anterior. Fazer com que a personagem seja lésbica (ou pelo menos bissexual) dá um novo ângulo para as coisas, mas a realidade é que o filme trata mesmo dos problemas sexuais de Holden (Ben Affleck), não de Alyssa (Joey Lauren Adams). Sua vaidade masculina ferida sabota tanto seu romance com Alyssa quanto seu “bromance” de longa data com Banky (Jason Lee). A performance masculina de Affleck o transformou em um astro, mas Lee e Adams continuam roubando a cena. Não é tão segredo assim que Smith é um moralista e um sentimental, mas isso não quer dizer que não seja capaz de bastante diversão profrana e pecaminosa também.
Adam Sandler é um herói romântico improvável– parcialmente um crianção bobo, mas também um ser enfurecido (se você quiser como é essa combinação sem as piadas, assista ao estranho e intenso Embriagado de Amor, de Paul Thomas Anderson). Ainda assim, ele tem um lado vulnerável que costuma ser doce e atraente, especialmente em Afinado no Amor. Claro, é engraçado quando ele mostra seu lado raivoso, especialmente quando ele e abandonado pela noiva no altar. Mas você também torce por ele, para que ele conquiste e afaste a adorável Drew Barrymore de seu namorado rico e babaca. O aspecto saudosista da década de 80 complementam a piada, mas é só um elemento a mais – exceto pelo fato de permitir que Billy Idol dê as caras.
Judd Apatow e sua equipe parecem ter aperfeiçoado a comédia romântica nojenta, um filme romântico disfarçado com uma dose suficiente de piadas sujas sobre fluidos corporais e membros desnudos (exemplos: O Virgem de 40 Anos e Ressaca de Amor). Mas os irmãos Farrelly chegaram a isso uma década antes com esta clássica comédia de 1998. Mary é a garota dos sonhos de qualquer cara, não somente porque é a cara de Cameron Duaz quando jovem, mas também porque também é inteligente, independente, bem-sucedida, bondosa e fã de esportes, cerveja e comida trash. Não é à toa que Ted (Stiller) precisa competir pela atenção dela. O filme fala de uma obsessão masculina exagerada e a repetida humilhação pública de um homem, mas por trás de todo o “gel de cabelo”, há também uma história surpreendentemente doce de um cara que consegue uma segunda chance com a menina por quem era apaixonado no colegial.
O gênero comédia romântica deve muito a esse filme de Richard Curtis. Mas por si só, ele realmente é a comédia romântica que põe um fim em todas as comédias românticas. Todo tipo de amor possível é explorado aqui – amor à primeira vista, amor jovem, fraternal, platônico, não correspondido e muitos outros. Curtis coloca nessa panela toda a esperteza de seus roteiros antigos (Quatro Casamentos e um Funeral, m Lugar Chamado Notting Hill) com o mínimo de sentimento.
Para quem gosta de comédias românticas com um pouco de ironia e amargura, não há nada melhor do que esse título. O roteiro tipicamente “nó no cérebro” de Charlie Kaufman pode ser complicado de acompanhar, mas todo mundo sabe qual é a sensação de querer se livrar de memórias dolorosas. Além disso, nesse filme de saltos no tempo cronológico, os momentos importam individualmente, tanto os deliciosos quanto os terríveis. Conforme Jim Carrey aprende tarde demais, apagar a dor também significa apagar a alegria.
O romance não fica mais simples do que em uma história como a desse musical, em que o cara conhece a garota. Aliás, é tão típico que a gente nunca fica sabendo o nome dos personagens – eles são o “Cara” e a “Garota”. Juntos, ele e ela fazem música lindamente e se incentivam a realizar um sonho que foi adiado. Ainda assim, o romance nunca deixa o estágio do platônico. Se você não gosta dos musicais tradicionais de Hollywood em que os personagens, do nada, saem cantando, e dançando, esse é o musical para você.
O relato atemporal de Marc Webb de um fracassado romance não faz nada que Woody Allen não tenha feito três décadas antes, mas tem um clima mais jovial, muito graças ao irreprimível Joseph Gordon-Levitt e à perpetua inocência de Zooey Deschanel. O enredo em si é simples – rapaz de 20 e poucos anos tem o coração partido por uma moça liberal - mas pelo menos inverte o clichê da “Manic Pixie Dream Girl” (expressão inventada pelo crítico de cinema Nathan Rabin para definir personagens femininas cuja única função na vida é fazer um cara certinho perder a cabeça e se apaixonar por suas bizarrices). Aqui, a personagem de Deschanel indica seu prospectado namorado que ela não é só uma MPDG, que tem uma vida e sonhos próprios, e que eventualmente se cansará dele e seguir em frente. Ele passa boa parte do tempo em cena reclamando por ter levado um fora, mas que não pode dizer que ela não o avisou.
Jacob (Ryan Gosling) é o life coach que todo cara gostaria de ter como parceiro de balada – transforma até o mais cabisbaixo de meia idade Steve Carell em um garanhão como ele, um homem confiante, em forma, alinhado e um charme irresponsável com as mulheres. E mesmo assim o arsenal de Jacob falha com a adorável Emma Stone, que oferece uma real intimidade emocional que ele nem mesmo sabia querer, e a percepção que ele é uma pessoa profunda por baixo da personalidade espertinha que mostra ao mundo. Os romances desse filme – cada personagem se interessa pelo próximo, quase como uma roda de paixões – todos oferecem um saudável humor da vergonha alheia, mas também a simples lição que você jamais atrairá o amor que deseja enquanto não estiver confortável consigo mesmo.