Mauricio de Sousa fala sobre as cinco décadas de vida da personagem Mônica
Mauricio de Sousa aceita o desafio de imaginar a sua mais famosa personagem com os 50 anos que serão completados em março. “Acho que estaria cuidando bastante da alimentação, indo à academia”, ele brinca, definindo Mônica como uma mulher moderna e multitarefas. Por enquanto, contudo, ela permanece estrelando as aventuras neste paradoxo temporal – digno dos criadores de Lost – em duas versões simultâneas: na história clássica, como criança, e adolescente, em Turma da Mônica Jovem. Mas Mauricio, pai, criador e empreendedor, vê mais versões dela no futuro: “Mais para frente, vamos pensar numa versão adulta”.
A indústria das HQs sofreu perdas nestes 50 anos. Como isso afeta a Turma da Mônica? Ainda é possível vender 200 mil exemplares, como na edição de estreia?
O número continua o mesmo – se não for maior, chegando a 250 mil. O que eu vejo é: há leitor de gibis, sim, mas é necessário ter uma boa história, bons personagens. Vendemos um total de 2,5 milhões de revistas por mês.
E os livros da turma? Não é arriscado entrar nesse mercado agora?
Eu não podia fazer isso nas outras editoras com as quais eu trabalhei, mas sempre foi algo que quis. Vendemos 1 milhão de livros em 2011. Os livros não vão morrer. Estudamos as possibilidades digitais, como e-books. Observamos quem já está fazendo, acertos, erros, para aí entrarmos. Vamos espiar o que está acontecendo.
Como o gibi se posiciona dentre essas outras produções que envolvem esses personagens?
É a nossa porta de entrada para tudo isso: os parques [da Mônica] que vão voltar, para o musical de Romeu e Julieta, para os desenhos animados em 3D, no estilo da Pixar. Este ano vamos estrear o Joca, um personagem inspirado no maestro João Carlos Martins, com quem faremos apresentações pelo país.
Em Turma da Mônica Jovem, a Mônica e o Cebolinha se beijam. Sempre imaginou um amor ali, entre as coelhadas?
Sempre. Era para mostrar o que os jovens fazem, mas com certos cuidados comportamentais junto à família brasileira.
Mas você foi repórter policial antes de publicar as tiras infantis. Deve ter alguma história mais sombria escondida, não?
Era repórter policial, mas eu não suportava ver sangue – o fotógrafo ou outra pessoa deveria entrar no local do crime e descrevê-lo para mim. Eu desmaiava. Uma vez fiz uma história chamada Repórter Policial: criei um repórter clichê da época, que bebia, fumava, não tinha compostura. Mas foi censurada pela diretoria da redação. E foi aí que comecei a escrever histórias mais leves e suaves.