Ringo Starr fala de Liverpool e de como aprendeu com George Harrison
Austin Scaggs/Tradução: J.M. Trevisan Publicado em 13/04/2012, às 15h45 - Atualizado em 16/04/2012, às 11h12
“Todo mundo que aparece e toca a campainha de casa, entra no álbum – é assim que funciona”, diz Ringo Starr, que compôs e gravou o 17º disco dele, Ringo 2012, com uma pequena ajuda de amigos como Joe Walsh, Dave Stewart e Van Dyke Parks. Os destaques vão de “Wonderful”, uma doce ode a Barbara Bach, esposa dele há 30 anos, a “In Liverpool”, sobre os primeiros shows de skiffle em casas como o Iron Door. Em junho, Ringo pega a estrada com a All-Star Band – apresentando a volta do veterano Todd Rundgren e algumas estreias, como Steve Lukather do Toto e o exvocalista da banda do guitarrista Santana, Gregg Rolie.
Em sua nova faixa “In Liverpool”, você canta sobre “quebrar as regras” quando era garoto. É sobre violar a lei?
Em que sentido?
No sentido da lei.
O que diabos quer dizer “no sentido da lei”?
No sentido de que você deveria ter sido preso.
[Risos] Bem, eu fazia parte de um grupo de caras metidos, arrumadinhos – achávamos que éramos a última bolacha do pacote. Entre os cinco e os 16 anos, passávamos pelo meio de um parque no caminho para a escola, e muitas vezes nem chegávamos a ir para a aula. Quando entramos na adolescência, bancávamos os idiotas tentando pegar as garotas.
Já pensou em escrever uma autobiografia?
Quando me pedem para escrever minha autobiografia, na verdade querem que eu fale sobre o que aconteceu de 1962 a 1970. Mas sinto que vivi muita coisa antes disso – volumes inteiros antes de eu entrar nos Beatles – e depois disso. As músicas são minhas miniautobiografias.
Era para você ter se apresentado no Grammy, mas ficou doente. Você teria se juntado ao pessoal no medley de Abbey Road ?
Quem sabe? Eu podia ter subido lá com o Dave Grohl e dado umas batidas nos tom-toms. Ele tinha um monte [risos].
No fim das contas, um baterista nem precisa de tudo aquilo para tocar, certo?
É! Quando estávamos nos Beatles, George me trouxe um kit com umas 15 peças. Quando chegou a hora de fazer uma virada, não consegui acertar nada. Era muito confuso. Eu disse, “Foda-se, leva isso embora!” Me dê o kit de quatro peças que eu conheço e adoro.
Um dos momentos mais emocionantes do documentário sobre Harrison feito por Martin Scorsese é quando, em seu leito de morte, George se ofereceu para visitar sua filha enquanto ela estava no hospital com um tumor no cérebro. Como ela está?
Está ótima. George era muito generoso. Naquela altura ele já não pesava quase nada, tinha a força de uma mosca morta, e ainda assim me perguntou: “Quer que eu vá até Boston com você?” Me dá um nó na garganta toda vez que me lembro. Foi algo extraordinário.
A sabedoria de George fez com que fosse mais fácil encarar o inevitável?
Sim. É impossível estar tão próximo de alguém sem que isso te afete. Todos nós chegaremos ao fim da linha – acabei de saber que Davy Jones nos deixou. O importante é não ter medo, atingir um ponto em que você possa partir graciosamente, não gritando e fazendo escândalo.