Por três décadas, Hulk Hogan foi considerado o maior astro da luta livre mundial. Mas agora a vida o imobilizou em um golpe definitivo, do qual ele já não consegue mais se desvencilhar
Falta pouco para o sol nascer e Hulk Hogan tem dificuldades para se levantar da cama de sua casa de praia em Clearwater, na Flórida. Suas pernas não funcionam - estão dormentes - e ele sente dores. Na verdade, a dor é constante. É o que acontece quando se passa 30 de seus 55 anos em cima de um ringue como o maior lutador profissional da história da luta livre. "Meu cóccix está torto de tanto cair de bunda, 400 vezes ao ano, duas aos sábados, duas aos domingos", ele conta. "Minhas costas têm todo tipo de problemas. As injeções de analgésicos só duram duas semanas. Estou praticamente aleijado. Minhas pernas adormecem e não consigo subir escadas. Minhas mãos estão adormecidas. Meu pescoço também. Tenho artrite e escoliose. Estou com 1,95 metro de altura, mas tinha mais de 2 metros." Encolhendo e dolorido, Hogan apoia suas mãos enormes em suas coxas igualmente enormes e se levanta, cambaleando até o banheiro. "Não é fácil, cara", diz ele. "Não é fácil." Ele olha para si mesmo no espelho e faz uma careta. O que ele vê é um cara calvo, cada vez com menos cabelo. "Pareço o Bozo", diz, infeliz. De fato, muita coisa tem mudado para Hogan recentemente - a maior parte delas para pior - desde o fim de seu reality show, Papai Hogan Sabe Tudo, em 2007 (no Brasil, ainda é exibido pelo canal VH1). O homem que foi um dia conhecido como The Hulkster, o Incrível, Hollywood Hulk Hogan, que estabeleceu recordes insuperáveis no ringue, atuou ao lado de Sylvester Stallone em Rocky III e ouviu Muhammad Ali dizer, "Hogan, você é o maior de todos os tempos", hoje está cercado de desastres por todos os lados. No ano passado, seu filho Nick, de 18 anos, passou 166 dias na cadeia, acusado de dirigir de maneira negligente durante o acidente que deixou o amigo da família e veterano da Guerra do Iraque, John Graziano, 24, com sérios danos cerebrais. A família Graziano entrou com um processo milionário contra os Hogan. Então a esposa de Hulk, Linda, o abandonou depois de 23 anos de casamento, pedindo um acordo de US$ 4,7 milhões mais uma pensão de US$ 144 mil por mês, segundo ele. Sem Linda, Hulk se viu obrigado a tingir sozinho suas madeixas platinadas, marca registrada do lutador. O problema é que da primeira vez ele deixou o descolorante por muito tempo e viu boa parte de seus longos cabelos escorrerem pelo ralo: a solução foi usar extensões de cabelo da mesma cor. E isso não é nem metade da história.
Mesmo assim, ele segue aos trancos e barrancos. Finalmente chega à cozinha, toma vários copos de café, começa a se sentir como gente de novo, sobe em sua gigantesca picape amarela com o motor de um Dodge Viper e segue para a academia, onde exercita seus músculos. No caminho, diz que não quer falar sobre Linda, mas acaba tocando em um detalhe ou outro. Ela não só o abandonou como começou a sair com um rapaz 30 anos mais novo logo em seguida, fixou residência na antiga casa da família Hogan - que vale US$ 18 milhões -, deu as chaves dos carros, motos e barcos de Hulk ao namorado e vem torrando o dinheiro do lutador na assustadora razão de US$ 40 mil ao mês. Não demora até que resolva falar do assunto. "Eu podia ter acabado em uma cena de crime como a de O.J. Simpson", diz ele. "Você vive a 800 metros de sua antiga mansão, onde não pode mais pisar. Anda pelo centro e vê um moleque de 19 anos dirigindo sua Escalade e sabe que esse mesmo garoto está dormindo com a sua mulher, e é você quem paga pelo papel higiênico que ele usa para limpar o traseiro. Ou seja, entendo o O.J. De verdade."
Se Hulk não seguiu o mesmo rumo de Simpson (exator e ex-jogador de futebol americano, que em 1995 foi inocentado da acusação de ter assassinado a ex-mulher e o amante) foi por causa de lições aprendidas em best sellers de auto-ajuda, principalmente O Segredo, de Rhonda Byrne. A premissa básica é que o pensamento positivo leva a uma vida positiva, conforme é decretado por um tipo de Lei da Atração que rege o universo. Isso fez sentido para Hulk. Mais importante que isso, parece ter funcionado. Pensando de modo positivo, ele não só não matou o novo namorado da ex-mulher como também arrumou uma namorada escultural, Jennifer McDaniel, 34 anos, artista, ex-hostess do serviço VIP da Delta Air Lines e também seguidora da Lei da Atração. Ela o ajuda a depilar as costas ("depilo tudo. Senão fico parecendo o Pé Grande") e, para seu alívio, descolore o que resta de seus cabelos. "Por isso, agora está tudo bem, irmão, e eu posso sorrir", diz ele enquanto estaciona em frente à academia. Seus programas, American Gladiators (no canal NBC) e Celebrity Championship Wrestling (no CMT), supreenderam ao fazer sucesso. Uma nova autobiografia será lançada em outubro. E quem sabe ele possa voltar aos ringues: Hulk tem conversado com seu rival na luta livre, o chefão da World Wrestling Entertainment (WWE, a liga oficial da luta livre norteamericana), Vince McMahon Jr., sobre uma participação em uma luta de exibição. Isso depende de várias coisas, sendo uma delas o estado de seus membros adormecidos. Mas ele gostaria que acontecesse. É algo que poderia trazer de volta os velhos tempos.
No auge da fama, durante os anos 80 e 90, Hulk Hogan não era só um lutador. Era uma sensação da cultura pop, capaz de invadir mundos que nenhum outro na luta livre tinha sido capaz. Apareceu na cerimônia do Grammy em 1985, como guarda-costas de Cindy Lauper. Estrelou seus próprios filmes, teve seu desenho animado. Outros lutadores também tinham seus fãs, mas nenhum tinha o sucesso de Hulk Hogan.
"Ele foi a primeira estrela icônica que tivemos", diz McMahon, da WWE. "Tinha carisma, uma personalidade maior do que a vida." E tinha os golpes. O modo como ele terminava uma luta - ajoelhando no tablado, absorvendo murro após murro, tremendo como um vulcão, então se levantando ainda tremendo, apontando o dedo para o oponente e urrando em uníssono com a plateia "Você!" e, em seguida, socava o inimigo uma, duas, três vezes, esmurrando-o para as cordas, onde poderia jogá-lo através do ringue para as cordas do outro lado. Quando o adversário rebatia e voltava, Hogan ia de encontro e o derrubava, encerrando a peleja com seu clássico "atomic leg drop". E a plateia delirava. Claro, era tudo coreografado para iludir. Boa parte do sangue vinha dos cortes que eles mesmos faziam usando giletes, mas ninguém sabia disso. Não havia um filme como O Lutador para entregar os truques. Hulk adorou o filme de Darren Aronofsky e acha que Mickey Rourke fez um grande trabalho. Só reclama que ele não foi tão fundo nos detalhes mais pesados. "Por exemplo, quando Mickey fica trancado para fora do trailer e tem que dormir na van por uma noite - eu dormi na minha por dois anos", conta. "E na parte em que ele é todo cuidadoso com a gilete - eu entrava com ela na boca, cortava minha cabeça, o juiz, o outro lutador e, mais tarde, bebia cerveja ainda com a lâmina na boca." Ele mostra marcas e cicatrizes em sua testa. "Tá vendo isso? Todas por usar a lâmina, provavelmente umas 3 mil vezes. E quando ele chacoalha o tubo de analgésicos e só tem uns quatro - quando eu chacoalhava, o meu tinha uns 500." Ele diz achar que o personagem Ram Robinson foi baseado nele; preste atenção em como Ram sempre fala a palavra "irmão" e usa uma pochete cafona. Mas fora isso, não, Hulk não é nem um pouco como Ram. Não é ultrapassado nem está no fim da linha como Ram. Não é um perdedor como Ram. Mas na maior parte, especialmente no senso histórico da coisa, Hulk está certo.
Durante boa parte de seus anos como lutador, ele foi o garoto de ouro que ninguém parava. No início de carreira, fumava maconha, cheirava cocaína e nunca foi pego. Um escândalo com esteróides em 1994 não o abalou. Chamado para testemunhar a respeito do uso da droga em um processo que o governo federal tentou (sem sucesso) levantar contra Vince McMahon Jr., Hulk admitiu ter usado a substância em grandes quantidades por 13 anos - mesmo considerando que pouco tempo antes o lutador havia negado o uso em uma entrevista na TV. Os fãs foram do amor ao ódio. Nas lutas, levavam cartazes em que se lia "Hogan, já tomou sua dose hoje?" ou "Hogan é careca porque usa esteróides!" Quando se recuperou, porém, Hulk voltou com ainda mais força. Em outra ocasião, abandonou a WWE porque se achava subvalorizado e entrou para outra liga, a WCW, de Ted Turner, ajudando a transformar a organização em uma concorrente de peso da WWE. Em 2002, voltou à WWE. No auge dessa época, chegou a receber cerca de US$ 20 milhões ao ano. Em toda a sua carreira, estima que tenha rendido mais de US$ 1 bilhão. E durante toda a sua trajetória foi reverenciado por seus trabalhos de caridade. Hulk era um cara bom, rico e no topo do mundo. Mas em algum ponto, entretanto, sua sorte mudou.
Hoje, com os bens retidos por causa do processo de divórcio, ele quase não tem dinheiro para pagar as contas. Passa boa parte do dia falando com advogados. Seu filho, Nick, mudou-se para Los Angeles para escapar da "mentalidade linchadora de cidade pequena", conta Hulk. Sua filha Brooke está indo bem com seu próprio reality show (Brooke Sabe Tudo, no VH1). Mas aí um dos chiuauas de Hulk é atropelado. Ou um dos modelos de grelhas que levam seu nome começa a queimar as pessoas e precisa ser retirado do mercado. Ou Hulk explode em frente às câmeras ao discutir com um dos advogados de Linda.
"Ele tem essa nuvem negra pairando sobre a cabeça e espero que consiga sair debaixo dela", diz McMahon. Às vezes, dá a impressão de que a Lei da Atração vem trabalhando mais contra do que a favor do lutador.
Hulk hogan é reconhecido em todo lugar de Clearwater por seus carros, sua bandana, o bigode, os músculos. Felizes, eles gritam "Hulk!"; e ele, simpático, sempre grita, igualmente entusiasmado: "Hey!" Mas a verdade é que desde que se afastou das lutas, em 2003, Hulk tem sido menos Hulk Hogan do que costumava ser. Hoje em dia ele tem sido muito mais Terrence Bollea, seu nome de batismo. Também não é o Hulk que você vê no reality show. É Terry, pai superprotetor e marido criticado, que passa dirigindo em frente à mansão no valor de US$ 18 milhões onde um moleque aproveita os frutos de suas costas doloridas e joelhos estourados.
Ele cresceu em South Tampa, Flórida, filho caipira de pais caipiras vivendo em uma casa de madeira de dois quartos. Seu pai trabalhava em construções enquanto sua mãe cuidava dele e do irmão mais velho, Allan, que morreu em 1986 depois de uma vida de brigas, excessos e uso de drogas. Seu passatempo quando criança era enfiar pedrinhas no nariz; e até hoje não sabe por quê. Bife no jantar era um grande fato. Era gordo, pesando 90 quilos aos 12 anos. Tinha mamilos desiguais - um para dentro e outro para fora - e por isso tinha vergonha de tirar a camisa na praia. Gostava de boliche e junto com um amigo foi campeão da Flórida por cinco anos consecutivos. Também jogou na liga juvenil de beisebol, até estourar o braço. Apesar disso, já era um fanático pela luta livre desde seus 6 anos, assistindo pela TV, indo com seu pai a eventos ou escapando escondido para assistir sozinho. Viu os grandes lutadores daquela era. "Eram como deuses gregos para mim", declarou. "Eram gigantes."
Depois de se formar no ensino médio, passar um tempo na faculdade estudando administração, tocando guitarra em bandas de rock, fazendo amizade com lutadores nos bares locais enquanto ganhava músculos e perdia gordura no Hector's Gym, onde conheceu mais lutadores e criou coragem de dizer a um de seus novos amigos que gostaria de ser um deles. Ele era Terry Bollea, mas queria ser mais que isso. Queria ser um deus grego maior do que a vida também. Finalmente, em 1977, prestes a fazer 24, estreou em um circuito regional de luta livre e trocou seu nome de batismo por alguns outros: Super Destroyer, Sterling Golden e Terry "the Hulk" Boulder. "Pegávamos pesado. Só viajávamos de carro. Dirigindo dia e noite. Fumávamos um, tomávamos cerveja. Usávamos speed ou qualquer coisa para ficar acordados", lembra. "Ninguém tinha instrução, esteróides eram legais e os médicos prescreviam qualquer coisa. Dirigia por mais de 600 quilômetros, me arrebentava e dirigia mais 600 na mesma noite - tudo por apenas US$ 25."
Em 1979, chamou a atenção de Vince McMahon Jr., que o contratou para a World Wrestling Federation e decidiu que Terry "the Hulk" Boulder deveria se tornar Hulk Hogan, um lutador irlandês-americano. No mesmo ano, no Madison Square Garden, Hulk entrou para fazer o papel de vilão e derrotou Ted DiBiase; a vitória reverberou por anos, iniciando a "Hulkmania", quando Hogan andava pelo ringue rasgando a camisa como fazia o herói que lhe inspirou o nome. Em 1985, veio o primeiro evento da WrestleMania no mesmo Madison Square, para 1 milhão de telespectadores. A luta livre era a sensação do momento. E seu maior lutador era Hogan.
"Todos sabiam que era um privilégio participar do espetáculo dele. Todo lutador se inspirava em Hulk", se lembra o ex-lutador Bret "the Hit Man" Hart. Quando se aposentou, Hulk se viu com tempo livre, e, quando o VH1 o procurou em 2004 com a proposta do reality show Papai Hogan Sabe Tudo, o lutador já parecia preparado. "Estou aqui por razões que vão além de ser um lutador", diria orgulhoso mais tarde. Além disso, achou que o programa poderia ser bom para a carreira dos filhos, Nick como piloto de corridas e Brooke como cantora. Linda ganharia com isso uma boa vida. Durante o jantar, ele apresentou a ideia para os três: "Com câmeras na casa, estaremos sob escrutínio o tempo todo. Uma vez na TV, as coisas - sejam boas, ruins ou feias - não serão mais as mesmas. Vocês querem entrar nessa?" Todos disseram que sim e as coisas realmente foram boas, ruins e principalmente feias. Mas quem poderia adivinhar?
Ele está parado na cozinha de sua casa de praia, a bandana na cabeça, o cabelo falso amarrado em um rabo-de-cavalo. Brooke - grande, bonita e loira, como a mãe - se prepara para ir ao aeroporto. Desde que seus pais se separaram, ela também sente as dificuldades. Primeiro morou com a mãe e se recusava a falar com o pai, se sentindo traída porque ele estava saindo com uma amiga dela. Uma vez tudo esclarecido - a mulher tinha oferecido um ombro para Hulk e as coisas saíram de controle -, Brooke voltou para o lado dele. Hoje, aos 20, ela parece feliz com o divórcio.
Hulk olha uma fotografia na parede da cozinha. É do Pontiac Silverdome, tirada de cima, mostrando o lutador durante sua luta contra Andre the Giant, cercado por uma plateia de 93 mil pessoas. "Os Rolling Stones tocaram lá uma semana antes para 88 mil pessoas. O papa também esteve lá antes diante de 80 mil", diz. "Foi a maior plateia em um espetáculo em recinto fechado de todos os tempos." Na verdade não é bem assim, mas para Hulk é e sempre será.
Brooke se lembra das histórias que o pai contava: "Minha favorita é de quando ele foi ao Japão com Andre the Giant. O banheiro do hotel era pequeno para Andre [ele media 2,24 metros], então ele forrou a cama de jornal, deu uma cagada enorme em cima e chamou meu pai: 'Chefe! Olha isso!'". Ela ri e Hulk a abraça.
Há também a possibilidade de que alguma confusão psíquica leve Hulk constantemente a tomar decisões erradas. Entre os lutadores, circula a teoria de que tudo faz parte de um senso de justiça cármica. "Há quem ache que ele não deu de volta tanto quanto alguém de sua estatura deveria. Que ele foi um tanto egoísta", diz McMahon. Bret Hart completa: "Aqui se faz, aqui se paga. Quando estava abaixo, sempre o tratei com respeito. Quando virei campeão, achei que ele seria o primeiro a me cumprimentar. Não foi assim. Era como se tivesse me tornado inimigo".
Outra possibilidade é que talvez lhe falta a habilidade de pensar antes de agir. Certa hora, enquanto Hulk está dirigindo para o aeroporto, Brooke vê alguns amigos em um carro e pede que o seu pai emparelhe com eles.
"Tito!", Brooke grita. "E aí? Está indo para onde?"
De repente, Terry ou Hulk ou quem quer que ele seja no momento faz algo completamente sem noção: acelera com tudo, o motor de Viper rugindo, impulsionando a picape na avenida a uma velocidade insana.
Brooke grita "Pai!", mas então começa a rir e Hulk desacelera, gargalhando também. Mas é mesmo um momento surreal. Não foi seu filho quem, por fazer exatamente a mesma coisa, se envolveu em um acidente que deixou um outro jovem com danos permanentes no cérebro? Será que ele perdeu completamente o senso comum? E por que não ignorou a vontade da família e cancelou o reality show? "Tentei avisá-los sobre em que situação estavam se envolvendo e veja o que aconteceu", concluiu - como se eles pudessem ser culpados. Mas a verdade é que Hulk era o único com experiência como celebridade. Ele sabia, ou ao menos deveria saber, o que estava por vir.
No caso dos Hogan, a realidade bateu de diferentes formas. Para os pais, foi o desmantelamento de um casamento que já tinha problemas. "Tivemos conflitos por 20 anos", diz Hulk. Para Brooke, foi descobrir que o pai estava ficando com uma de suas amigas e que um garoto com quem ela tinha estudado na escola estava saindo com sua mãe. E enquanto as pessoas acham que conhecem os Hogan por causa do que veem na TV - e, portanto, se sentem livres para julgá-los - a verdade é que não conhecem, pelo simples fato de que o reality show dos Hogan, como qualquer outro reality na TV, não reflete realidade alguma. Um dos membros da equipe técnica de Papai Hogan Sabe Tudo declara: "Nas primeiras semanas foi mais ou menos 'vamos segui-los por aí e ver o que conseguimos'. Então, foi 'vamos fazer um roteiro aberto'. E no fim a família percebeu que precisava encenar. Terry e Linda começavam a discutir e a gente pensava: 'Caramba, ela está bem puta!' Mas aí ela vinha e perguntava 'O que vocês acharam?' Mas a verdade é que se trata de uma das famílias mais legais com quem tive contato. No caso de Nick, o que se via no programa era um garoto que gosta de se mostrar. Mas a verdade é que ele é uma das pessoas mais gentis do mundo. Mas com o passar dos anos dá para perceber que todos estavam desgastados." Uma última consequência do programa: durante o sentenciamento de Nick, o juiz disse, "Se você não fosse quem você é", implicando que se não se tratasse de Nick Bollea, notoriamente infame graças ao reality show, sua pena poderia ter sido bem mais leve do que os 166 dias a que foi condenado, 28 dos quais cumpriu na solitária.
Se Hulk se sente mal por qualquer uma dessas coisas, não deixa transparecer. Ele segue em frente, como fez com sua picape na avenida, e danem-se as consequências. Enfim, há coisas em sua mente - o próximo Wrestlemania e os prós e contras de sua possível participação.
"Se eu voltar", diz ele, "pode acabar sendo constrangedor. Não tenho ideia do que pode acontecer quando eu cair batendo o traseiro no chão. Minhas costas podem se partir ao meio e se isso acontecesse seria como a versão real de O Lutador. Por outro lado, se desse certo as pessoas diriam 'Oh meu Deus, ele é o cara!' De certa forma, estou de volta a uma posição em que já estive antes".
Diz que tem grandes planos. "Irmão", diz empolgado, "isso é só um intervalo. No primeiro tempo do jogo fiz um monte de coisas, vi as pirâmides, lucrei mais que três companhias automobilísticas, criei muita confusão, mas isso não é nada comparado ao que está para acontecer. Vai ser a ressurreição de Hulk Hogan, que podia ter sido o personagem de uma grande tragédia americana, mas que preferiu levantar a cabeça e não só dar a volta por cima como também progredir de um modo positivo".
Mais tarde, hulk vai até o seu restaurante japonês preferido para um lanche e alguns goles de saquê seguidos de uma Coca Diet. A primeira coisa que ele pergunta ao sushiman é:
"Viu minha ex-mulher por aqui, irmão?"
"Estava com o garoto."
"Estavam festejando?"
"Não"
Hulk dá de ombros, pega um banco e começa a falar sobre a época depois que Linda o deixou. Conta que chegou a pensar em se matar. "Estava bebendo,
praticamente comendo Xanax, sem dormir. Estava em transe. Comecei a me questionar: 'Para que prosseguir?' Dei minha pistola - tenho só uma, 9 milímetros - ao meu advogado. Não me apavorei, mas o processo estava lá. Não era bom. Era bem ruim." De repente, Hulk se levanta e cambaleia pela sala.
"Minhas costas", diz. "Estão com algum problema."
Ele parece sentir muita dor, como se devesse estar em casa de cama, descansando, em vez de estar ali. Mas um minuto depois ele volta ao banco e começa a falar sobre a Lei da Atração e como ela faz parte de sua vida.
"Vou sair dessa logo mais", diz ele, "mas tudo o que acontece em sua vida só acontece porque você atrai. A razão pela qual fui o maior lutador e ganhei montes de dinheiro foi a Lei da Atração. Eu tinha uma mensagem positiva: 'Treine, reze, tome suas vitaminas'. Mas também atraí muita negatividade com minha outra mensagem: 'Tome suas vitaminas, mas também tome cerveja, cheire cocaína, tome pílulas e fume maconha'. Quando expliquei a Lei da Atração a Nick, ele me disse, 'Você vai ficar bravo, mas na noite anterior ao acidente passei horas vendo vídeo de acidentes de carro no YouTube. Acho que atraí o acidente'. Esse é o ponto. Se você pede, acaba recebendo. Sei que todo mundo acha que sou doido. E sei que tenho problemas. Mas eles não fazem mais parte da minha vida. O que quer que seja, teremos que esperar para ver como eu termino. De minha parte, me sinto contente com as coisas como estão agora. Estou indo em outra direção".
"A Lei da Atração. Pense. Acredite. Manifeste."
E com essas palavras ele salta de seu banquinho de novo, as costas doendo por algum motivo desconhecido, e não pela última vez nesse dia em particular.