Fãs se juntam para bancar e viabilizar financeiramente a vinda de artistas estrangeiros ao Brasil
O funcionamento do queremos é simples: ao identificar uma oportunidade de trazer uma banda internacional ao país, o grupo levanta os custos com o escritório do artista e coloca à disposição dos interessados o "ingresso reembolsável". "Você compra um ingresso por R$ 200 e, se não atingirmos o valor mínimo necessário [para bancar os custos do show], recebe o valor de volta", explica Bruno Natal, um dos organizadores. "Se chegar ao valor, o show está confirmado." O comprador não apenas ajudou a bancar a vinda de uma banda como já tem sua entrada garantida - o valor investido é reembolsado proporcionalmente à venda dos ingressos normais.
O Queremos reúne amigos que vislumbraram ser possível bancar shows internacionais de maneira coletiva. Tudo começou com a vinda do Miike Snow, marcada só para São Paulo e Porto Alegre, em setembro de 2010. Desviar o grupo da capital paulista para o Rio sairia por R$ 200 mil: seriam 100 fãs pagando R$ 200, calcularam. Por email, contataram 120 possíveis interessados. A banda sueca se apresentou no Circo Voador no dia 20 daquele mês.
E assim foi com Belle and Sebastian, Two Door Cinema Club, Vampire Weekend, Mayer Hawthorne, LCD Soundsystem e, em abril, Miami Horror e The National. "Por enquanto, somos a única parte no risco", conta Natal. Prejuízo mesmo, só com o Miike Snow. A partir dele, empataram todos os custos envolvidos na realização dos shows. O crowdfunding toma corpo ao redor do mundo graças ao poder das mídias sociais. Levantar uma grana para iniciativas diversas, de projetos pessoais a discos - Broken Records, disco lançado no ano passado pelo veterano Lloyd Cole, contou com auxílio de fãs que toparam pagar adiantados, mesmo antes das gravações, US$ 45 por uma edição de luxo do álbum. Just Do It, filme de Emyle James sobre manifestações realizadas por ativistas ambientais por todo o Reino Unido, teve sua pós-produção financiada integralmente por gente disposta a ajudar com valores pré-determinados, que iam de 10 a 75 libras. O projeto, que carecia de £ 20 mil libras, arrecadou £ 21.400. O financiamento do público para shows, acredita Natal, é único no mundo. "Primeiro a gente compra o show, procura quem vai trazer [a banda ao país] e acerta a data. Assim, quando a gente sabe de algum show legal, estuda a possibilidade de fazer", conta.
A apresentação do Misfits no Circo Voador, no Rio, neste mês, é a primeira ação baseada no financiamento coletivo da MobSocial. O modelo do crowdfunding foi adotado para, nas palavras de Rafael Cardone, criador da ideia, "democratizar a cultura e o entretenimento no Brasil inteiro". A proposta é tornar a possibilidade de receber um nome do pop internacional viável para qualquer localidade do país. "A ideia é que a cidade que se mobilizar primeiro leva o show. É um incentivo à mobilização. Se tiver mais fãs do Misfits no Acre, por exemplo, o show acontece lá."
Pelo formato da MobSocial, os fãs que se mobilizarem podem receber de volta, no máximo, o valor do ingresso mais barato, de acordo com o montante de ingressos vendidos em bilheteria, diferentemente da idéia do Queremos, que trabalha para o reembolso integral do valor investido. Outra diferença está na possibilidade de sugerir bandas, por meio do site da empresa (que já conta com uma lista robusta de artistas e grupos, com a cidade de quem propôs). "Em pouco tempo, já foram mais de 300 sugestões", comemora Cardone. O Queremos, ainda sem escritório, mas com pessoa jurídica estabelecida, quer expandir. "A meta é realizar shows em outras praças, com mais de uma data", decreta Natal.