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A Vida Particular de Natalie Portman

Como estudante de psicologia em Harvard, a rainha de Star Wars vê o lado sexual da arte e da vida, mas faz questão de dizer: “Não fico mostrando o peito pra todo mundo”

Por Chris Heath Publicado em 11/05/2011, às 15h22

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<b>PRODÍGIO</b> De O Profissional a Cisne Negro, Natalie Portman passou por filmes pouco memoráveis e muitas metamorfoses - FRANK W. OCKENFELS 3/CORBIS OUTLINE
<b>PRODÍGIO</b> De O Profissional a Cisne Negro, Natalie Portman passou por filmes pouco memoráveis e muitas metamorfoses - FRANK W. OCKENFELS 3/CORBIS OUTLINE

Quando nos encontramos pela primeira vez, Natalie Portman está se sentindo mal. Passou a maior parte do dia na cama, mas foi para sua palestra às 9h e para uma reunião do comitê do qual participa para discutir quais bandas virão a Harvard, onde a atriz, de 20 anos, está se formando em psicologia.

Na faculdade, Natalie percebe que até consegue passar despercebida; as pessoas "meio que não ficam impressionadas" que ela seja a escolhida de George Lucas para ser a rainha Padmé Amidala, futura esposa de Anakin Skywalker, em uma trilogia de prólogos para Star Wars, a série de filmes mais bem-sucedida de todos os tempos. Natalie Portman também meio que não ficou impressionada quando Lucas a considerou para o papel. "Pensei: 'Star o quê?'", diz esta filha de um casal que emigrou dos Estados Unidos para Jerusalém quando ela era criança (Portman não é seu sobrenome real - ela o pegou emprestado da avó para proteger o pai, especialista em fertilida- de, que tem um sobrenome peculiar). Sua primeira experiência em Star Wars - Episódio I: A Ameaça Fantasma, de 1999, a fez atuar com efeitos especiais e se sentir perdida. Gosta mais do recém-estreado Ataque dos Clones, no qual a história de amor entre Padmé e Anakin, papel de Hayden Christensen, permitiu que ela se tornasse, como diz, a Garota das Roupas Reveladoras. "Há muita barriga e ombros de fora desta vez."

À noite, a caminho de participar de uma leitura com os escritores Salman Rushdie e Jamaica Kincaid e o poeta John Ashbery, Natalie conversa sobre sua vida de estudante no campus. "Meus colegas aqui já conseguiram muita coisa", diz. "É um tipo de conquista diferente das que eu tive e que eles não necessariamente veem como maior do que a deles. Mas também há muita gente ambiciosa que quer ter um relacionamento social - você tem de estar ciente disso."

Durante as leituras, Natalie escuta atentamente e, quando há algo engraçado, ela reage com a risada mais alta do ambiente. O cabelo está dividido igualmente em duas tranças, um tributo silencioso. "Meu ícone de estilo agora é Willie Nelson", afirma. "Você deu sorte de eu não estar de bandana também."

Natalie Portman nasceu em 9 de junho, dia do aniversário da mãe, Shelley. O mais estranho - um fato que o pai, Avner, descobriu recentemente - é que a provável data de sua concepção foi o aniversário do pai. "Essa", a filha informou aos dois, "é a informação mais nojenta que já tive" (embora, como brincou com eles, ela diga que sabe o que o pai ganhou de aniversário).

A memória é um grande interesse da aluna Portman. O experimento que planejou para sua tese no ano que vem diz respeito à teoria de que "sua identidade é como você constrói suas memórias em sua história de vida". Ela credita o início tardio da própria memória, a partir dos 4 ou 5 anos, ao fato de ser educada em dois idiomas. Morou em Israel até os 4 anos, quando a família se mudou para Maryland, a primeira de várias paradas para acomodar a carreira médica do pai. Suas lembranças mais intensas de Maryland são o tapete rosa e suas bonecas. Ela tinha muitas bonecas. "Lembro que elas eram muito sexuais", conta. "Não me lembro de não fazer minhas bonecas fazerem sexo umas com as outras."

Então o que você fazia elas fazerem?

"É muito estranho, porque não me lembro de conversar com meus pais sobre sexo... mas sempre soube sobre isso. E todas as minhas bonecas transavam. Até as Barbies transavam com outras Barbies, e os bonecos faziam sexo uns com os outros."

Então, pelo que entendo, havia uma orgia polissexual em seu quarto de brinquedos?

"Sim. E meus brinquedos de banho também faziam sexo."

Ela diz que não sabia como sexo acontecia, então as bonecas eram esfregadas umas nas outras, mas rejeita minha sugestão de que tenha absorvido isso do trabalho do pai. "Mal via meu pai quando era pequena", conta, "porque ele estava fazendo residência" (pergunto o que ele exatamente faz como especialista em fertilidade: "Insemina e faz cirurgias, e é endocrinologista reprodutivo", conta a filha muito diretamente). "Para mim, o cheiro de um hospital é como o cheiro do meu pai."

Involuntariamente faço uma careta. "Você está pensando: 'A Natalie é tão esquisita'", declara, acusando e rindo.

Ela é filha única. "Só queria ter tido um irmão mais velho", diz, "para que ele pudesse me apresentar para garotos bonitos. Nunca teria sido atriz se não fosse filha única, porque meus pais nunca teriam me deixado ser a estrela da família à custa de outra criança." Isso a fez sentir que os pais eram seus amigos. "Durante minha infância, ia às festas deles. Sei como fazer alguém acreditar que sou adulta."

Quando Natalie tinha 8 anos, parou de comer carne "por respeito à vida". Comento que o PETA a mencionou em sua pesquisa de internet de vegetarianos mais sexy (que ela posteriormente ganhou).

"Nem pensar", diz. "Não sei o que é ser sexy e ser... bom, quem é minha concorrência?"

Jude Law... David Duchovny... Angela Bassett...

"Eles são muito sexy", afirma com um sorriso. "Não sei quais são minhas chances contra eles."

Você namora com não vegetarianos?

"Sim", ela responde. "É meio incomum encontrar caras vegetarianos. Isso faz com que eu ache o Jude Law ainda mais sexy."

Só que ele é bem casado, comento. "Eu sei", ela afirma. "Devia calar a boca, isso não é legal, mas acho que alguém ainda pode ser sexy mesmo depois de casado. Quer dizer, eu nunca iria atrás dele..."

A história de como Natalie foi descoberta e se tornou atriz envolve o fato de ela ter sido abordada em uma pizzaria em Long Island por uma pessoa que queria contratar alguém para uma campanha da Revlon. Ela não queria ser modelo, mas usou a oportunidade para conseguir um agente de atuação. Seu primeiro filme, O Profissional, não estreou imediatamente - seu debute foi como uma substituta no musical off -Broadway Ruthless. A peça contava com outra jovem aspirante: Britney Spears.

As duas artistas se reuniram para trocar lembranças recentemente. Natalie foi convidada para uma festa de Britney, um convite que encaminhou para os amigos como uma piada. "Eles me disseram que me matariam se eu não levasse todos, então fui com seis rapazes", conta. "Foi basicamente a maior emoção da vida deles."

Cerca de seis meses depois da peça, ela fez um teste para O Profissional, sobre um assassino solitário (Jean Reno) e uma garota de 12 anos. Quando o filme foi lançado, seus pais receberam algumas críticas duras, e incorretas, por "me deixar fazer um filme de Lolita", conta Natalie. Como resultado, eles se tornaram muito protetores. "Eles não queriam que eu andasse na rua pensando se as pessoas podiam me imaginar nua."

Mas houve problemas. Alguns anos atrás, Natalie estava em St. Barts, no Caribe. Havia pulado de um barco com uma amiga e nadado até uma ilha deserta, onde brincaram em águas rasas, de topless. Em seguida, fotos apareceram na imprensa. "O nojento era que tinha alguém ali, alguém nos seguindo", afirma. "Fiquei com tanta raiva - isso te faz se sentir suja... ok, todo mundo já viu seios, mas não gosto de ser transformada em objeto. Não fico mostrando o peito para todo mundo. Estava em uma praia deserta."

Embora Natalie tenha crescido intocada pela magia de Star Wars, tem seu equivalente: sua obsessão cinematográfica quando era criança. Dirty Dancing. "Quer dizer, Patrick Swayze era sexo para mim", afirma. "Ele ainda é meu número um. O queixo dele é tudo."

Também houve outras fixações, como New Kids on the Block. Ela gostava mais de Joey McIntyre. "Aquele que decidi idolatrar", declara. No ano passado, recebeu uma ligação dizendo que McIntyre queria sair com ela. "Dei para trás. Não queria que ele pensasse que eu fosse namorá-lo. Isso é meio incerto quando celebridades simplesmente te ligam chamando para sair."

Natalie Portman gostaria de deixar claro que essa política clara e sensata pode ser imediatamente abolida sob determinadas circunstâncias.

"Ei, quer dizer, honestamente, se fosse Brad Pitt - o que obviamente é impossível, pois ele está muito bem casado com uma mulher incrível - se ele ligasse, eu diria 'Ok'. Ignoraria meu boicote."

Então, se eles forem suficientemente lindos, o princípio voa pela janela?

"Claro! Todas as morais não voam pela janela quando eles são suficientemente lindos?"

Os primeiros papéis de Natalie, como a fixação ilegal de Timothy Hutton em seu segundo grande papel, em Brincando de Seduzir, de Ted Demme, a mostravam representando crianças prematuramente maduras, o que não era diferente dela própria. "Crianças são os tolos shakespearianos nos filmes de Hollywood", ela afirma. "Elas têm a chave da sabedoria em sua inocência ou são tão esquisitamente adultas que nos fazem refletir sobre o quão esquisitos os adultos são."

Você estava ciente disso na época?

[Franze o rosto]. "Eu achava que era muito inteligente. Até mais ou menos os 13 anos, e então as provocações na adolescência meio que silenciam isso, e é quando você aprende a ter humildade."

Ela passou por alguns maus momentos. "Provavelmente mereci", afirma, "mas não foi agradável mesmo se merecesse. Crianças podem ser bastante cruéis. Coisas como: eu me lembro de ter um namorado, dei um beijo nele no primeiro encontro e os outros me chamavam de 'vadia'."

Quando Natalie tinha 13 anos, por não agüentar mais, foi transferida para uma escola pública: "De repente, há 500 adolescentes, e mesmo os que são zoados têm amigos".

Depois dos dois primeiros filmes, sua carreira sossegou um pouco (quando perguntada de quais dos seus filmes tem mais orgulho, escolhe esses dois, e o único que fez desde então - o drama entre mãe e filha Em Qualquer Outro Lugar, com Susan Sarandon - embora diga que tem mais orgulho de sua performance no palco em A Gaivota, em meados do ano passado, em Nova York). Natalie só trabalha nas férias de verão (exceto quando fez o papel de Anne Frank na Broadway, quando ia para a escola normalmente durante o dia). Tendia a ter papéis menores em filmes razoavelmente prestigiosos: Fogo contra Fogo, de Michael Mann, Todos Dizem Eu Te Amo, de Woody Allen, Marte Ataca! , de Tim Burton. "Não digo que meu melhor momento cinematográfico foi como Taffy em Marte Ataca!" , conta. "Mas pude conviver com Tim Burton e Jack Nicholson tentou me ensinar a assobiar" (ele não conseguiu).

O compromisso de Natalie com os três prólogos de Star Wars permite que ela mantenha sua ambivalência sobre a atuação enquanto garante que tenha uma carreira sólida após a faculdade, se quiser. "Foi meu jeito de tentar não cair na armadilha", afirma. "Sempre achei atores típicos muito esquisitos." Ela ri e me encara: "Você sabe exatamente do que estou falando. As pessoas que ficam dizendo: 'Sim! É minha vida!' Elas parecem muito falsas".

Você acha que cresceu rápido demais?

"Não. O problema com a maioria dos atores infantis é que eles acham que são adultos, mas não são, e quando realmente crescem não são tão adultos quanto seus colegas, porque só pensavam que eram."

Vamos para o pequeno apartamento de Natalie, perto do campus. "Desculpe pelo tapete", diz, explicando que o comprou no Marrocos no último verão - sua primeira viagem sozinha. Diferentemente de todos os tapetes que viu, com sua simetria impressionante, esse tem manchas aleatórias coloridas que a intrigaram. Como não há espaço para pendurar o tapete na parede, como queria, ele está virado do avesso no chão, para que o verso de sua criação fique à mostra na sala; é assim que ela prefere.

Nos primeiros dois anos da faculdade, a atriz e estudante morou no campus, dividindo um quarto. "É muito difícil", conta. "Sentia muita falta de poder simplesmente ficar acordada até tarde lendo e tocando o tipo de música que quero."

Seu apartamento atual é bastante modesto. Não há sinais de que seja o lar de uma atriz de sucesso, exceto, talvez, pelo passe para os bastidores do show de Björk deselegantemente grudado no computador. Há fotos pregadas nas paredes, incluindo uma de George W. Bush com um peru. "Só achei que era uma foto engraçada - quando estava perdoando o peru, o bicho parecia dando, tipo, uma chupada nele", diz, rindo.

Pergunto quais sonhos recorrentes tem. Menciona um, mas não tem interesse nenhum em dar significado a ele. Freud e seus seguidores, em sua opinião, são uma fraude. "O pensamento agora", afirma, "é que sonhos são basicamente como os peidos da mente."

Logo, Natalie Portman deve encontrar sua primeira casa como adulta. Quer comprar algo em Nova York, mas parece mais empolgada em achar uma em Jerusalém. "Amo os Estados Unidos", afirma, "mas meu coração está em Jerusalém. É onde me sinto em casa."

A mãe de Natalie cresceu em Cincinnati (os avós eram da Rússia e da Áustria) e conheceu o pai dela na Ohio State University. Ele voltou para Israel e trocaram cartas. Dois anos depois, ela acompanhou um primo em sua viagem de bar mitzvah e eles decidiram se casar.

Os pais de Avner se mudaram para Israel no final dos anos 30. Seu avô polonês havia liderado o movimento da juventude judia na Polônia. A avó era romena. "Ela espionava para os britânicos, viajando pela Europa", conta Natalie. "Era loira, então podia totalmente se passar por não judia. Os homens sempre tentavam conquistá-la porque ela era uma jovem linda... vou te mostrar."

Natalie pega a carteira e tira de dentro uma foto antiga de duas mulheres. "Esta é uma foto tirada na Romênia dela com a melhor amiga. Alguns anos mais nova do que eu..."

O avô de Natalie foi para Israel esperando reencontrar a família depois. Não houve depois - a história eliminou o "depois". Os pais dele foram levados para Auschwitz.

"Sempre que algo acontece com alguém em Israel, é como se um membro tivesse sido arrancado", Natalie diz. Acrescenta, talvez preocupada com o fato de toda a sua postura política ser presumida disso: "Protejo muito Israel, mas me sinto mais protetora da humanidade do que de meus próprios desejos pessoais".

Ela diz sobre sua religião: "Sou muito mais um produto de um médico do que judia". Fica desconfortável com o conceito de vida após a morte. "Não acredito nisso. Acredito que acabou aqui, e que esta é a melhor maneira de viver."

Em Nova York, na semana seguinte, Natalie está sem as tranças de Willie Nelson e se sente muito melhor. Faço algumas perguntas:

Quando você se sente mais calma?

"Quando estou apaixonada", responde rindo.

Você já se questionou se era gay?

"Claro. Nunca namorei uma mulher nem nada do tipo, mas acho que é muito mais a pessoa por quem você se apaixona - e por que você se fecharia para 50% da população? ... [Voltando ao assunto mais tarde] Acho que minha personalidade é mais compatível com a dos homens do que com a das mulheres. Mulheres em ambientes como minha escola e meu trabalho são meio que treinadas para serem competitivas. Quer dizer, tenho algumas amigas que amo. É que... na escola é muito mais fácil ser amiga dos rapazes."

Ela fala um pouco mais sobre Star Wars.

"As crianças são as que ficam mais impressionadas", conta. "Basicamente são as únicas pessoas que quero impressionar. É uma graça, e é uma admiração incalculável."

Mas consegue-se isso de crianças com doces.

"Exatamente", ela concorda, "e a equivalência dos dois é ótima. Você tem a mesma reação por ser a rainha Amidala ou por dar uma barra de chocolate."

Natalie Portman conversa assim: perspectivas confiantes e teorias jorrando como acontece quando se tem 20 anos, simplesmente pela alegria de fazer isso. No entanto, em um momento - talvez seja apenas a desculpa necessária para continuar após uma pausa - ela se interrompe.

"Basicamente, tudo o que estou dizendo está completamente errado", anuncia. "Mas pelo menos isso fará outra pessoa pensar que está certa."

Não sei se é melhor discutir ou não dizer nada.

"Faça como um psicólogo", ela sugere, "e cale a boca."