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Agora ou Nunca

A tecnologia para combater a mudança climática já existe – do que mais nossos líderes precisam para agir?

Bill McKibben Publicado em 16/01/2018, às 23h52 - Atualizado às 23h54

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<b>Ondas Selvagens</b><br>
O furacão Isaac, de 2012, se aproximando da Flórida

 - Nick Tomecek/Northwest Florida Daily News Via AP
<b>Ondas Selvagens</b><br> O furacão Isaac, de 2012, se aproximando da Flórida - Nick Tomecek/Northwest Florida Daily News Via AP

Se não vencermos a batalha contra a mudança climática em breve, nunca venceremos. Essa é a verdade essencial sobre o aquecimento global. É o que o torna diferente de todos os outros problemas que nossos sistemas políticos já enfrentaram. Escrevi o primeiro livro para o público em geral sobre a mudança climática em 1989 – quando era preciso procurar exemplos para ajudar as pessoas a entender como seria o “efeito estufa”. Sabíamos que estava chegando, mas não com que velocidade ou força viria. Como ninguém queria superestimar – porque cientistas, por natureza, são conservadores –, cada mudança que observamos nos surpreendeu. O surreal continua se tornando comum: por exemplo, depois que o furacão Harvey estabeleceu um recorde de tempestade nos Estados Unidos, o furacão Irma quebrou o recorde de velocidade sustentada de vento e o furacão Maria fez Porto Rico retroceder um quarto de século, algo ainda mais esquisito aconteceu. O furacão Ophelia se formou muito mais ao leste do que qualquer um registrado e passou pelo sul da Europa (soprando ventos que alimentaram incêndios recorde em Portugal) antes de cair na Irlanda. Ao longo do caminho, produziu um artefato da nossa era: o gráfico de advertência emitido pela Agência Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) mostra o Ophelia terminando em uma linha reta a 60 graus de latitude norte, porque o programa do computador nunca imaginou que se veria um furacão ali. “Quando você monta uma grade, define limites a ela”, um programador levemente envergonhado da NOAA explicou. “Esse é um lugar bastante incomum para ter um ciclone tropical.” A agência, ele acrescentou, pode precisar “revisitar” seu software de mapeamento.

Esse é o problema da mudança climática. Ela não para quieta. A saúde também é um grave problema nos Estados Unidos atualmente e Donald Trump parece decidido a piorá-lo cada vez mais. Se seu governo conseguir retirar os fundos do Obamacare de vez, milhões de pessoas sofrerão, mas, se daqui a três anos, outro presidente tomar posse com uma mentalidade diferente, não terá ficado exponencialmente mais difícil lidar com nossas questões na saúde. Esse sofrimento no meio-tempo não teria mudado a equação fundamental. No entanto, com o aquecimento global, a equação fundamental é exatamente o que está se alterando, e as mudanças notáveis que vimos até o momento – o Ártico em degelo que faz a Terra parecer tremendamente diferente vista do espaço, a água marinha ficando 30 por cento mais ácida – são só o começo. “Estamos cada vez mais próximos do derretimento definitivo das camadas de gelo do oeste da Antártida e da Groenlândia, o que garantirá um aumento de 6,10 metros do nível do mar”, afirma Michael Mann, da Universidade Penn State, um dos maiores climatologistas do mundo. “Não sabemos onde é o ponto de desequilíbrio para o colapso da camada de gelo, mas estamos perigosamente perto dele.” Os mais recentes modelos demonstram que, com cortes muito imediatos nas emissões, o gelo na Antártida poderá permanecer basicamente intacto durante séculos; sem eles, poderemos ver um aumento de 3,35 metros do nível do mar até o final deste século, o suficiente para fazer com que cidades como Xangai e Mumbai “sumam do mapa”.

Há muitos pontos de desequilíbrio como este: a Amazônia, por exemplo, parece estar secando e começando a queimar à medida que as temperaturas aumentam e a seca se aprofunda, e sem uma floresta tropical gigante na América do Sul o mundo funcionaria de modo muito diferente. No norte do Atlântico, diz Mann, “estamos à frente do cronograma com a desaceleração e o potencial colapso” da gigante “esteira” que circula água quente em direção ao Polo Norte, mantendo a Europa Ocidental com clima temperado. São pontos como esses que tornam a mudança climática um problema tão diferente: se não agirmos rapidamente, e em escala global, o problema literalmente ficará insolúvel. Passaremos para um regime climático drasticamente alterado e para um planeta abrupta e desastrosamente diferente daquele que possibilitou a ascensão da civilização humana. “Todo aquecimento adicional a esta altura é perigoso”, afirma o climatologista.

Dito de outra forma: até 2075, o mundo será movido a painéis solares e moinhos de vento – energia grátis é uma proposta de negócio difícil de derrotar. No entanto, se seguirmos na trajetória atual, eles iluminarão um planeta em ruínas. As decisões que tomarmos em 2075 não importarão. Aliás, as que tomarmos em 2025 serão muito menos importantes do que as que tomarmos nos próximos anos. O impulso precisa ser dado agora.

Estranhamente, Trump não é o problema principal aqui. Sim, ele rejeitou os acordos de Paris. É verdade, está fazendo o melhor que pode para reativar as minas de carvão do Kentucky. Claro, é insano que ele ache que a mudança climática seja uma enganação inventada pelos chineses. Contudo, antes dele já não estávamos nos movendo suficientemente rápido para acompanhar a física. Na verdade, é até possível que ele – ao afrontar a questão climática tão espetacularmente – tenha arriscado atrapalhar a estratégia cuidadosa da indústria de combustíveis fósseis.

Esta estratégia, agora sabemos, começou no final dos anos 1970. Os gigantes do petróleo, liderados pela multinacional Exxon, sabiam sobre a mudança climática antes de quase todo mundo. Um dos principais cientistas da Exxon afirmou à diretoria sênior em 1978 que a temperatura aumentaria pelo menos 15 °C, o que seria um desastre. A diretoria acreditou nas constatações – como o Los Angeles Times noticiou, empresas como Exxon e Shell começaram a redesenhar plataformas de perfuração e tubulações para lidar com o aumento no nível do mar e o descongelamento da tundra. No entanto, ano após ano, a indústria usou o processo de revisão do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática para reforçar a “incerteza”, que se tornou o lema das grandes petroleiras. Em 1997, enquanto o tratado sobre o clima de Kyoto estava sendo negociado, o CEO da Exxon, Lee Raymond, disse no Congresso Mundial do Petróleo, em Pequim: “É altamente improvável que a temperatura em meados do próximo século seja significativamente afetada, independentemente de políticas serem promulgadas agora ou daqui a 20 anos”. Em outras palavras: adie. Vá devagar. Não faça nada drástico. Como a companhia expressou em um memorando secreto de 1998 que ajudou a estabelecer um dos inúmeros grupos de vanguarda que divulgaram informações erradas sobre o clima, “a vitória será alcançada quando cidadãos comuns ‘entenderem’ (reconhecerem) incertezas na climatologia” e quando “o reconhecimento da incerteza se tornar parte da ‘sabedoria convencional’”.

Não são apenas as companhias petrolíferas. Conforme as concessionárias de energia elétrica dos Estados Unidos começaram a entender que a energia eólica e a solar poderiam minar seus negócios tradicionais, passaram a se envolver no mesmo tipo de comportamento. No Arizona, cujo único motivo para existir é o sol, a concessionária local ajudou a fraudar eleições para a comissão de utilidades públicas do estado, o que, por sua vez, permitiu que as concessionárias impusessem custos alarmantes a donos de residências que queriam instalar painéis solares no telhado de casa. Como o The New York Times relatou em julho, o crescente mercado norte-americano para novos painéis solares residenciais encontrou uma “barreira aterradora” depois de “uma campanha de lobby elaborada e bem financiada por concessionárias tradicionais, que trabalham em capitais estaduais de todo o país para reverter incentivos para que proprietários instalem painéis solares”. Não é como se achassem que podem manter os painéis solares longe das residências para sempre – o website de todas as concessionárias, assim como o relatório anual de toda a indústria de combustíveis fósseis, tem fotos de painéis solares e turbinas em movimento, mas, como a analista setorial Nancy LaPlaca diz, “Manter o modelo de negócio atual por mais um ano é sempre essencial para concessionárias que detêm o monopólio e querem continuar com isso”.

O futurista especializado em sustentabilidade Alex Steffen chama essa tática de “adiamento predatório, a desaceleração deliberada da mudança necessária para prolongar um status quo lucrativo, mas insustentável, pela qual, um dia, outras pessoas pagarão”. E essa não é uma política apenas das petrolíferas e concessionárias – ele já escreveu extensamente sobre como seu estado natal, a Califórnia, que é muito liberal em outras áreas, não encara o problema. “Muitas cidades não têm problema nenhum em falar sobre fornecer energia limpa, mas reduzir o número de carros, gastar na construção de ciclovias – essas coisas são tão polêmicas que não são nem discutidas.” O mesmo pode ser dito sobre quem proíbe turbinas eólicas pelo medo de matar aves, ajudando, assim, a causar a próxima grande extinção em massa. Boa parte do movimento trabalhista tem falado cada vez mais sobre a mudança climática. Eles sabem que 1 dólar investido em energia renovável gera três vezes mais empregos do que 1 dólar desperdiçado em combustíveis fósseis, mas o sindicato que constrói condutores tubulares lutou tão ferozmente para evitar a mudança que a AFL-CIO (Federação Americana do Trabalho e Congresso de Organizações Industriais, em português) defendeu a construção da Tubulação de Acesso de Dakota, mesmo depois que guardas soltaram pastores-alemães contra manifestantes. Na linguagem cuidadosa que poderia ter sido escrita por uma equipe da Exxon, o sindicato afirmou que apoiava as novas tubulações “como parte de uma política energética abrangente que cria empregos, torna os Estados Unidos mais competitivos e lida com a ameaça de mudança climática”. “Abrangente”, “equilibrado”, “comedido” são as principais cartas deste jogo retórico. “Realista” é o ás escondido na manga.

Há um motivo para esse tipo de apelo ser tão persuasivo. Em praticamente todas as outras lutas políticas, uma resposta “realista”, equilibrada e comedida tem sentido. Eu acho que bilionários deveriam ser taxados a 90 por cento e você acha que eles contribuem tanto para a sociedade que não deveriam pagar imposto algum. Concordamos em algum ponto no meio do caminho e voltamos toda eleição para debater isso novamente, dependendo de como a economia está indo ou de onde está o déficit. Algumas questões – direitos humanos – são mais difíceis porque parecem tão carregadas moralmente que a concessão é difícil, mas mesmo aí tendemos a trabalhar em incrementos: a política do “Não pergunte, não fale” (“don’t ask, don’t tell”), política adotada no passado que barrava a presença de homossexuais assumidos no exército norte-americano, mas proibia a discriminação contra eles caso não fossem abertamente gays, se parece com algum progresso. Aí as uniões civis parecem ser um progresso ainda maior e, um dia, o casamento gay chega, e a essa altura, pensando bem, “não pergunte, não fale” parece uma coisa horrível. Os seres humanos e suas sociedades funcionam melhor com transições graduais – isso dá a todos algum tempo para se adaptar. No entanto, infelizmente a mudança climática não é uma competição clássica entre dois grupos de pessoas. É uma negociação entre pessoas de um lado e a física do outro. E a física não concede. Exatamente por termos esperado tanto tempo para tomar alguma medida significativa, ela agora exige que nos mexamos muito mais rápido do que queremos. O realismo político e o que se poderia chamar de “realismo da realidade” são diametralmente opostos. Esse é nosso dilema.

Dá para desenhar isso em um gráfico. As emissões de gases de efeito estufa do planeta ainda estão aumentando, mas mais lentamente. Digamos que a gente consiga chegar ao ponto máximo até 2020. Nesse caso, para atingir a meta do planeta de manter os aumentos de temperatura abaixo de 2 °C, temos de cortar as emissões 4,6 por cento ao ano até elas zerarem. Se esperarmos até 2025, teremos de cortá-las 7 por cento por ano. Se esperarmos até 2030 – bom, nem vale a pena colocar no gráfico. Às vezes, preciso me conter para não apontar como teria sido fácil se tivéssemos agido no final dos anos 1980, quando escrevi pela primeira vez sobre isso – meio por cento gradual por ano. Uma descida suave, não uma despencada desesperada de rapel em um penhasco mortal.

Sim, esperamos demais, mas talvez, quem sabe, nossa tarefa ainda não seja impossível, porque os engenheiros estão fazendo o trabalho deles muito mais vigorosamente do que os políticos. Ao longo da última década, o preço de um painel solar caiu 80 por cento. Na maior parte dos Estados Unidos, o vento agora é a forma menos cara de energia. No início de outubro, um leilão na Arábia Saudita para nova geração de energia foi vencido por um parque solar que jurou entregar elétrons por menos de 3 centavos por kilowatt-hora, o menor preço já pago por eletricidade de qualquer fonte em qualquer lugar. Danny Kennedy, veterano pioneiro em energia solar que comanda o Fundo para Energia Limpa da Califórnia, uma organização sem fins lucrativos que conecta investidores e startups, diz que todo dia há algum novo projeto. “Só nesta semana, vieram aqui empreendedores promovendo um financiamento coletivo por bitcoin para construir microrredes no sul da África e alguém usando laser para cortar ‘wafers’ de silício para diminuir os custos das células solares pela metade.” Ele tinha acabado de voltar de uma conferência em Xangai – “Você precisava ver a comoção. Os chineses realmente perceberam que é de interesse deles mesmos dominar as tecnologias inovadoras”.

Ou seja, se quiséssemos fazer o planeta se mover a sol e vento e água, poderíamos. Seria extremamente difícil, quase impossível, mas é matematicamente atingível. Mark Jacobson, que chefia o programa de Atmosfera/Energia em Stanford, tem trabalhado para demonstrar exatamente como isso poderia ocorrer em todos os 50 estados dos Estados Unidos e em 139 países – quanto vento, quanto sol, quanta água seriam necessários para produzir 80 por cento de nossa energia de forma renovável em 2030. Se fizéssemos isso, observa, não apenas desaceleraríamos drasticamente o aquecimento global como também eliminaríamos a maior parte da poluição do ar que mata 7 milhões de pessoas por ano e deixa outras centenas de milhões doentes, quase todas nos lugares mais pobres do mundo (a poluição agora supera a tuberculose, a malária, a aids, a fome e a guerra como assassina). “Não há como estar em Houston (Texas) ou Flint (Michigan) ou Porto Rico neste momento e não sentir a urgência”, afirma Elizabeth Yeampierre, uma das principais defensoras da justiça climática nos Estados Unidos. “É possível se mexer rapidamente, mas somente se você incentivar o trabalho realmente inovador, que já está acontecendo em campo.”

Até mesmo em termos de dinheiro as coisas já estão encaminhadas para acontecerem. Por US$ 50 mil em isolamento, painéis e aparelhos, a Mosaic, a maior arrendatária de energia solar dos Estados Unidos, pode fazer uma casa funcionar 100 por cento com energia limpa. “E podemos fazer um empréstimo sem entrada, no qual as pessoas economizam dinheiro desde o início”, conta o CEO da empresa, Billy Parrish. No entanto, até isso representa uma mudança pequena: 36 mil residências em um país com mais de 100 milhões de habitações. Para aumentar a escala, o governo precisará assumir a frente: dar garantias de empréstimo a pessoas de baixa renda, retirar subsídios de combustíveis fósseis, garantir que quando donos de residências usarem energias pobres em carbono em suas casas eles sejam recompensados por isso. Até na Califórnia esse tipo de mudança é difícil: como Kennedy diz, “o congresso estadual não aprovou legislações essenciais sobre energia limpa neste ano, apesar de muita discussão sobre isso e do fato de que os democratas têm uma supermaioria. Ouço que preciso ser paciente e que ‘conseguiremos no ano que vem’, mas acho assustador que pensem que podemos esperar mais um ano”.

Assim, a única pergunta real é: como, de repente, fazemos isso acontecer rápido? É aqui que entra a política. Mencionei anteriormente que Trump não era o único problema – na verdade, é possível que, em sua imprudência ignorante, ele tenha atrapalhado o planejamento cuidadoso das empresas. Quase dava para ver as companhias petrolíferas se encolhendo, desconfortáveis, quando ele saiu do Acordo de Paris – para elas, o acordo era um caminho para a mudança lenta e controlada. As promessas que ele continha não evitaram que o planeta superaquecesse – mesmo se todos o tivessem cumprido, a Terra ainda teria ficado 3,5 °C mais quente, o suficiente para arruinar todo ecossistema que se queira nomear. Os acordos garantiram que ainda estaremos queimando quantidades significativas de hidrocarboneto em 2050 e que as Exxon do mundo poderão recuperar a maior parte das reservas que mapearam e exploraram tão cuidadosamente.

No entanto, algumas dessas apostas já não valem mais. A maioria dos países rejeitou a saída de Trump com uma raiva demonstrada diplomaticamente. “A todos para quem o futuro do nosso planeta é importante, digo que vamos continuar neste caminho”, afirmou a chanceler alemã, Angela Merkel (a exceção: o barão do petróleo Vladimir Putin, cujos comentários oficiais concluíram: “Não se preocupe, seja feliz”). Nos EUA, pesquisas mostraram que quase nada do que Trump fez era menos popular. Talvez, se ele continuar afundando, essa bobagem em particular afunde junto.

Com Washington efetivamente em um impasse, a luta se mudou para outro lugar. Quando Trump saiu dos acordos climáticos, por exemplo, explicou que tinha sido eleito para governar “Pittsburgh, não Paris”. No dia seguinte, o prefeito de Pittsburgh afirmou que a cidade estava planejando ter 100 por cento de energia renovável, uma afirmação feita por locais tão diferentes quanto Atlanta, San Diego e Salt Lake City. Este ano, representantes de milhares de regiões, províncias, cidades, condados e distritos irão a São Francisco para um encontro semelhante ao de Paris de participantes subnacionais, convocados pelo governador da Califórnia, Jerry Brown. Segundo Brown (que está tão tristemente comprometido quanto a maioria dos outros líderes – continua permitindo fracking em larga escala e produção de petróleo no estado), a decisão de Trump em deixar a rota do gradualismo “é um estímulo... de certa forma, é um aumento de... conscientização”.

A pressão também aumentou sobre bancos e corporações. Na Austrália, manifestantes forçaram os quatro maiores bancos a recusar financiamento para o que teria sido uma das maiores minas de carvão do mundo; o BNP Paribas, o oitavo maior arrendatário do mundo, acabou de anunciar que estava saindo do negócio de areia betuminosa e carvão. Diversas grandes cidades californianas anunciaram que estavam processando grandes empresas de petróleo por danos causados pelo aumento no nível do mar. As procuradorias gerais de Nova York e Massachusetts estão investigando a Exxon por fingir levar a mudança climática a sério. Tudo isso se soma para enfraquecer a planilha e a determinação corporativas. “Estamos tentando persuadir uma indústria moribunda a sair da nossa frente”, diz Mark Campanale, líder da ONG Carbon Tracker

A melhor chance de forçar o futuro, claro, está nos movimentos – com as pessoas se juntando em número suficientemente grande para povoar a mente de CEOs e candidatos a presidente. Aqui, Trump também parece estar aumentando a aposta – quase 250 mil norte-americanos marcharam em Washington pelas ações climáticas em abril, foi a maior manifestação desse tipo na história local. Esse ativismo continua aumentando: na 350.org, estamos implantando uma ampla campanha Sem Fóssil, nos juntando a organizações como a Sierra Club para pressionar governos a usarem 100 por cento energia renovável, bloqueando novas tubulações e poços de fracking tão rapidamente quanto a indústria pode propô-los, e nomeando bancos e fundos de investimento que apostam no passado. Está funcionando – nas últimas semanas, o fundo de riqueza soberana da Noruega, o maior do mundo, anunciou planos de retirar investimento de combustíveis fósseis e a Comissão de Serviço Público do Nebraska impôs ainda mais obstáculos à tubulação de Keystone.

No entanto, a pergunta é: está funcionando suficientemente rápido? Parafraseando o grande líder abolicionista Theodore Parker, Martin Luther King Jr. costumava terminar seus discursos com a frase “O arco do universo moral é amplo, mas se inclina em direção à justiça”. A frase também era uma das preferidas de Barack Obama, e significava o mesmo para esses três homens: “Pode demorar um pouco, mas venceremos”. Para a maioria das lutas políticas, é uma verdade simultaneamente frustrante e inspiradora, mas não para a mudança climática. O arco do universo físico parece ser estreito e se inclina em direção ao calor. É vencer logo ou sofrer as consequências.