Ainda Acelerando

O primeiro álbum do Metallica desde 2008 é um disco duplo agressivo, “distorcido” e sombrio

ANDY GREENE

James Hetfield em um show em Minnesota, nos Estados Unidos, realizado em agosto de 2016
James Hetfield em um show em Minnesota, nos Estados Unidos, realizado em agosto de 2016 - Rex Features Via Ap Images

Há alguns anos, pouco antes de o Metallica começar a trabalhar em um novo álbum, o baterista, Lars Ulrich, recebeu um iPod com 1.650 arquivos de áudio – jams de estúdio, passagens de som, aquecimentos nos bastidores e riffs aleatórios que a banda tinha gerado desde o disco anterior, Death Magnetic (2008). “Gravamos tudo que fazemos”, conta Ulrich. “Comecei a ouvir o iPod e a marcar as coisas que se destacavam. Dizia coisas do tipo ‘o ID 723 é realmente bom’.”

O Metallica construiu músicas em torno desses fragmentos e jams e o processo acabou se provando extremamente produtivo, resultando em Hardwired… to Self-Destruct, trabalho com lançamento previsto para 18 de novembro e que é o primeiro álbum duplo de material original já produzido pelo grupo.

A faixa-título mostra o frontman, James Hetfield, que compôs todas as letras, em um lugar sombrio. “Estamos tão fodidos!”, ele ruge no refrão. “Totalmente sem sorte/Programados para nos autodestruirmos!” Ulrich diz que o restante do disco – incluindo faixas com títulos como “Now That We’re Dead” (“agora que estamos mortos”), “Murder One” (“matar um” ou “assassinato um”) e “Here Comes Revenge” (“aí vem a vingança”) – tem uma visão semelhantemente “distorcida” do mundo. “Há muita coisa bem pesada”, conta, “tudo vindo da mente complicada de James Hetfield”.

O Metallica gravou o álbum no HQ, estúdio da banda em San Rafael, na Califórnia. O trabalho começava na maioria dos dias às 9h da manhã, logo depois de Ulrich e Hetfield deixarem os filhos na escola, e ia até as 15h, quando era hora de buscar as crianças. A banda trabalhou lentamente, fazendo pausas para um disco colaborativo com Lou Reed (o polêmico Lulu, de 2011), além de um filme/ show Metallica:Through the Never (2013), e apresentações frequentes em todo o mundo, incluindo o Brasil, onde esteve pela última vez em 2015, no Rock in Rio. “Voltávamos da estrada totalmente inspirados, revigorados e energizados”, afirma Ulrich. “E levávamos esse tipo de energia para o estúdio. Este álbum provavelmente é um pouco mais punk e levemente menos progressivo do que o anterior.”

O Metallica não percebeu que tinha um disco duplo nas mãos até que se reuniu com seu time de empresários para repassar o material. “No último álbum, dividimos tudo que tínhamos em músicas A e B, e só lançamos as A”, conta Ulrich. “Mas, de uma forma verdadeiramente narcisista, não achamos que tinha nada ruim neste lote todo.”

A banda, que lançará Hardwired… to Self-Destruct pela própria gravadora, a Blackened, não faz uma turnê por estádios dos Estados Unidos desde 2009. Isso vai mudar no começo de 2017, quando o grupo promoverá Hardwired… pelo país. “Eu decido o setlist e com certeza incluirei muitas das novas músicas nele”, afirma Ulrich. “Estamos nos coçando para tocá-las.” Os integrantes do Metallica já são cinquentões, mas desacelerar não está na mente deles. “A única questão é: Será que nosso corpo consegue acompanhar?”, Ulrich pergunta. “Mentalmente, podemos fazer isso por mais 100 anos.”