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Alice Braga explica como conseguiu chegar confortavelmente ao mercado global de cinema

Paulo Terron Publicado em 13/08/2013, às 13h16 - Atualizado às 13h20

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<b>Batalhadora</b>
Alice em Elysium, novo filme de Neill Blomkamp - Kimberley French/divulgação
<b>Batalhadora</b> Alice em Elysium, novo filme de Neill Blomkamp - Kimberley French/divulgação

Dependendo da localização geográfica em que se vive, é possível ter uma imagem completamente diferente de Alice Braga. Nos Estados Unidos, ela é a latina forte e decidida de Eu Sou a Lenda (2007) e Predadores (2010). Na América Latina, ela é a atriz delicada de filmes mais artísticos como Só Deus Sabe (2006). E por aqui, ela é figura essencial na conexão Brasil-Hollywood, ao lado de Wagner Moura, companheiro de elenco em Elysium (que estreia no Brasil em setembro). Nada disso parece preocupar a atriz paulistana de 30 anos. O enrosco eventual? A alternância de línguas. “É difícil quando você está dando entrevista em português, depois pula para o espanhol, para o inglês”, ela explica, beliscando um prato de frutas durante a primeira entrevista de uma maratona de divulgação para Elysium, em Cancún (México). “E na próxima, você pensa: ‘Que língua tenho de falar?’ É divertido, é legal, adoro essa coisa de falar línguas diferentes, aprender.”

Latitudes, projeto transmídia com Alice Braga e Daniel de Oliveira, ganha primeiro trailer.

Você não fez cinema entre Cidade de Deus (2002) e Cidade Baixa (2005). O que aconteceu nesse período?

Eu fiz Cidade de Deus quando estava no último ano do colegial, nas férias de julho. Depois, entrei na faculdade e estudei comunicação e artes do corpo durante um ano e meio, em São Paulo. Cidade de Deus tinha sido o meu primeiro filme, eu tinha acabado de entrar na faculdade, não estava ainda naquela coisa de: “Um, dois, três”... O Cidade Baixa foi o que desencadeou mesmo [a onda de trabalhos para o cinema].

Cidade Baixa foi muito impactante – com você, o Wagner Moura e o Lázaro Ramos no elenco. Foi o momento em que se notou que algo diferente estava acontecendo no cinema brasileiro.

Que estava sendo legal, né? Esse foi um filme muito especial para a gente. O Wagner é um ator referência e sempre foi. Sabe A Máquina [peça de João Falcão, que mais tarde também virou filme]? Eu vi e pirei com os trabalhos dele e do Lázaro. O Wagner virou um ídolo para mim. Quando peguei o Cidade Baixa foi muito emocionante, porque tive a oportunidade de trabalhar com ele e aprender o que realmente acredito que seja atuar. Realmente, desde a primeira vez em que o vi em ação, eu senti isso. O Cidade Baixa foi, para mim, essa virada para o que eu realmente queria fazer.

Hoje você parece gostar de se alternar entre filmes de arte e ficção científica. É isso?

O que é uma puta coincidência. É uma mera coincidência. Porque fiz Eu Sou a Lenda e foi um megafilme. Então, com isso, muitos diretores e produtores desse tipo de filme viram o meu trabalho, começaram a me chamar para fazer teste. E comecei a aceitar, com 20 anos, louca para trabalhar, para aprender e conhecer gente, viajar. Foi assim que começaram a rolar esses filmes de ação e ficção. Uma superfeliz coincidência, eu sempre digo.

E você também gosta da parte física desse tipo de atuação?

É divertidíssimo, porque é um desafio: ter de enfrentar coisas diferentes para cada personagem. Esses filmes de ação são específicos, de entretenimento e tudo mais, mas exigem boa forma física. Mas é bem legal. Voltando ao que você falou sobre a coisa das escolhas, é engraçado – eu adoro fazer filmes. Por exemplo, fiz o da Lina Chamie [A Via Láctea, de 2007], fiz agora um com a Mini Kerti que se chama Muitos Homens num Só, que é de época. Estou fazendo esse com o Gael García Bernal [El Ardor], na Argentina, que é um filme supersilencioso, é lindo. O diretor [Pablo Fendrik] diz que é um western no meio da selva. Então, tenho vontade de fazer um pouco de tudo. Fazer um filme mega de ação não me impede de fazer outras coisas. Eu quero é fazer cinema onde seja – na Argentina, no Rio, no México, na Espanha.

Ao mesmo tempo, não pode ser traumático para um brasileiro? A primeira experiência que tivemos de alguém indo para Hollywood foi o Rodrigo Santoro. E foi aquela coisa de brasileiro: primeiro, o orgulho; depois, as críticas bastante duras. Isso te preocupa?

Sabe que isso nunca me passou pela cabeça? E é até bom, porque nunca pensei demais no assunto.

Deve ser uma pressão estranha mesmo assim, não é?

É... Poxa, você está dando a cara para bater. Não só no Brasil, mas, principalmente por ser brasileira, nosso país está olhando. Sempre evitei pensar nisso e fui muito pelo meu desejo: nunca tive um plano de carreira, nunca pensei demais no que quero fazer, como quero fazer. Deixei as coisas irem acontecendo e fico muito feliz. As pessoas criticam, mas faço porque gosto de cinema, não sou crítica. Se a pessoa deseja fazer, ela tem que fazer, tem de vir do coração. É óbvio que dá aquele frio na barriga: “O que vão pensar?” No sentido de “será que fiz bem, será que não fiz mal?” Todos os atores têm isso. E as pessoas têm o direi to de pensar o que elas querem. Eu fico triste sobre o que falaram do Rodrigo porque ele é um ator superbacana. Acho que foi supergratuito e não é porque ele é meu amigo, é porque eu realmente acho. Puxa, ele é um ator que cresceu muito ao longo dos anos, estudou, batalhou e tudo mais. Foi lá fora trabalhar e conseguiu oportunidades. É difícil conseguir um megapapel. O Wagner teve uma coisa que é totalmente fora da curva [para um estrangeiro em Hollywood], um puta personagem no primeiro filme.

Como o diretor Neill Blomkamp chegou até você para Elysium? O Wagner Moura já estava no elenco do filme e te indicou?

Ele perguntou de uma atriz para o Wagner. Legal, mas o Neill queria uma menina que não fosse conhecida, mas, ao mesmo tempo, não sabia muito bem o que queria exatamente. E eu comecei a mandar e-mail para ele, falando que queria muito fazer, porque eu tinha visto [o primeiro filme dele, a ficção-científica como elementos de drama social] Distrito 9. Pedi pra ler o roteiro, era supersigiloso, fui a um escritório lá em Los Angeles, sentei e li. Pirei, fiquei muito a fim de fazer.

A sua personagem é brasileira?

Não, a gente não especificou. Nem o do Wagner nem o meu, mas no meio do set ele pediu para que eu falasse espanhol. Tem uma cena lá que mandei o espanhol e ficou perfeita. Ela é provavelmente mexicana, mas a gente não diz. Gosto muito do trabalho do Neill. Ele tem uma puta qualidade como diretor, mas tem sempre uma mensagem por trás. Acho que está dentro dele fazer filmes assim.

Parece ser natural. Nas entrevistas, ele diz ser um artista visual, que gosta de imagens. Mas não é só isso, como dá para perceber pelos temas sociais dos filmes dele até agora.

É... Vem naturalmente. Acho que é muito também de onde ele vem. Na África do Sul, ele cresceu com isso. Foi meio assim, fiquei supergrata ao Wagner por causa disso, porque eu estava muito a fim de fazer o filme. Ele tinha falado de mim, mandei e-mail e foi por esse caminho.

E você e o Wagner se encontram em Elysium? Os caminhos de vocês se cruzam em alguma cena??A gente vive na mesma área, mas não se cruza, infelizmente. Nas filmagens, a gente passou o tempo inteiro junto, morando um em cima do outro. Graças a Deus, porque foi muito gostoso. Foi um puta reencontro. Ficamos muito amigos na época do Cidade Baixa e já faz nove anos. Foi muito legal reencontrá-lo nesse momento em que ele está fazendo o primeiro filme internacional. A gente conversa bastante. “Cara, eu tenho de parar de falar de você em entrevista, fica muito ridículo.” É muito batido, mas eu amo ele: como ser humano, amigo, irmão. Mas, como ator, sou muito fã. Poder estar esses dias juntos, conversando, pedindo conselhos, falando de carreira, da vida, é muito especial. Ele é um cara que me inspira a tentar ser o meu melhor e a buscar mais coisas.

Os jornalistas estrangeiros não entendem bem essa proximidade de vocês, sempre perguntam se são um casal. “Eles ficam encostando um no outro!”

Eu falei: “Ainda bem que a sua mulher é minha amiga, porque todo mundo pergunta se a gente namora”!

Como você faz para manter um senso de normalidade na vida? Você fica entre Hollywood e Rio ou São Paulo. Como é transitar entre esses mundos tão diferentes?

Eu tento ao máximo. Isso aqui é a minha profissão, o meu trabalho. É como alguém que vai para o banco e volta. Só que obviamente é superdiferente. Mas tento ao máximo viver o meu dia a dia muito tranquila, normal. Quando

eu não estou trabalhando, gosto de estar com os amigos. Gosto da Vila Madalena... Agora não mais, ela está muito cheia... Você vai?

Raramente.

Eu adorava quando não era tão cheio. Adoro ir aos botecos, ir jantar, ao [festival] Lollapalooza e não ficar na área VIP, ficar lá no meio do povão, da galera. Eu tento balancear nesse sentido. Quando estou trabalhando, foco muito. Eu passei meus últimos dez anos perdendo todos os nascimentos e casamentos das minhas amigas, afilhados e sobrinhos. Mas valeu a pena. Mas acho que a gente tem de se organizar para poder viver as duas coisas bem. Não sei se respondi as suas perguntas, eu dei uma megadivagada.