Angus Young

O guitarrista do AC/DC fala da vida com Axl Rose e da saudade do irmão Malcolm

David Fricke

Publicado em 19/09/2016, às 14h58 - Atualizado às 15h12
Com Axl no vocal, sem Malcolm Young e perdendo Cli Williams, Angus mantém o AC/DC de pé - Amy Sussman/Invision/Ap
Com Axl no vocal, sem Malcolm Young e perdendo Cli Williams, Angus mantém o AC/DC de pé - Amy Sussman/Invision/Ap

Pode parecer um pouco estranho – ‘Quem é esse velho de uniforme escolar?’”, diz o guitarrista do AC/DC, Angus Young, de 61 anos. “Uma vez, alguém comentou: ‘De longe, ele parece bem jovial’. É só quando você se aproxima que consegue ver o desgaste.” Esse cansaço é real para Young, que comanda o AC/DC em sua mais difícil, e possivelmente última, turnê mundial, que acaba em 20 de setembro, na Filadélfia. Ele fala honestamente, e do jeito mais animado possível, sobre os problemas graves de audição que recentemente forçaram o vocalista Brian Johnson a se aposentar dos palcos, da oferta imediata feita pelo líder do Guns N’ Roses, Axl Rose, para substituí-lo, do recente anúncio de que esta seria a turnê final (afirmação que saiu da boca do baixista, Cli Williams) e do estado de saúde atual do ex-guitarrista e irmão mais velho, Malcolm, que sofre de demência. “É difícil se comunicar”, admite Angus. “Mando recados. Não tenho certeza absoluta de que ele entende, mas digo que muita gente sente saudade.”

Axl está acostumado a comandar o próprio navio. Você teve que falar com ele sobre como fazem as coisas – por exemplo, sobre ser pontual?

Ele tem sido muito bom, se prepara, fica pronto para a ação. Sentamos e botamos tudo a limpo antes de subirmos ao palco, decidimos quais músicas queremos tocar. Tem que ser divertido para ele e para nós. No começo, ficou confinado uma fratura no pé] àquela cadeira que pegou emprestada do Dave Grohl, mas assim que pôde ele levantou e se mexeu.

Como conseguiram o Axl para o lugar de Brian?

Axl entrou em contato com um produtor que tinha feito coisas para nós e disse: “Conheço esses caras. Eles têm uma ética de trabalho, querem terminar a turnê”. Ele se ofereceu. Foi a um lugar de ensaio que montamos em Atlanta e havia feito a lição de casa. Ele tinha algumas músicas, como “Touch Too Much” [de Highway to Hell, de 1979] – “Vocês podem tocar essa?” “Não, nunca aprendemos.” Nunca tínhamos tentado tocá-la ao vivo.

O jeito de cantar de Axl é mais como o de Brian ou lembra mais o de Bon Scott?

Axl tem um estilo mais parecido com o de Bon – o personagem rock and roll. E ele tem um humor particular, é muito rápido em responder algo espirituoso. Tem alcances vocais diferentes. Você consegue ouvi-lo de um jeito em uma música de Bon, aí ele muda e faz como o Brian em outra, um registro mais alto.

Brian vinha apresentando problemas de audição antes de começarem a turnê?

Ele estava com problemas quando estávamos ensaiando para o Coachella [em 2015]. Brian já tinha um ouvido ruim, que ele estragou em um acidente de carro. O ouvido bom estava decaindo rapidamente. Ele foi ver um especialista quando estávamos na Austrália. A cada show que fazíamos ele tinha que ser monitorado e tratado, mas estava ficando difícil demais para ele.

Você crê que a decisão de Cli de se aposentar foi influenciada pela saída de Brian?

Cli já tinha avisado antes mesmo de sairmos em turnê – esta seria a última dele. Além de mim, Cli é quem estava lá há mais tempo, desde 1977. Cli e Brian estão na mesma faixa etária [o baixista tem 66 anos, e o cantor 68]. Eles gostam de sair, ir a pubs. Eles tinham esse laço.

Como é fazer turnê sem o Malcolm na guitarra? A presença do seu sobrinho, Stevie, está preenchendo esse buraco para você?

Às vezes eu tenho que olhar duas vezes para trás quando ouço o som vindo atrás de mim e penso: “Isso é tão parecido com o Malcolm”. Quando Stevie era mais novo, estava muito focado no que Mal fazia. Não é fácil. Você tem que ser confiante. Parece simples, mas definitivamente não é.

O estilo de guitarra de Malcolm soava muito como a personalidade dele – determinado e direto.

Ele é mais velho que eu – sempre o admirei. No estúdio, eu ficava brincando com sons de guitarra e não saía igual [risos]. Malcolm me atraía comum som poderoso e rico e eu ficava: “Ah, uau!”.

Já pensou no seu futuro depois que a turnê acabar? Você nunca tocou em outra banda.

É verdade. A esta altura, não sei. Estávamos comprometidos com terminar a turnê. Quem sabe o que sentirei depois? Quando você entra, diz “vou fazer isto e aquilo” e é sempre bom afirmar no final: “Fiz tudo o que falei que faria”.

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