Lá se passaram as efemérides, os 70 anos de vida e quatro décadas de carreira, e Ney Matogrosso seguiu olhando para a frente. Nem mesmo uma olhadela para trás, para o passado com Secos & Molhados ou um show com “greatest hits” da carreira. Ney rumou para Juiz de Fora, ensaiou para uma nova turnê no começo de 2013, rodou as principais capitais do Brasil e foi para o estúdio gravar o que ele chama de “retrato daquele momento”, lançado sob o mesmo nome do show, Atento aos Sinais, que chega às lojas neste mês.
“É o inverso do que se faz normalmente”, diz o músico, na casa onde mora, no Rio de Janeiro. Cair na estrada para depois chegar ao álbum foi o sistema utilizado por Ney nos últimos trabalhos. “Assim, chego ao estúdio mais maduro.” Todo o processo de vivenciar as músicas noite após noite – na estrada ou nas sessões de gravação –, segundo conta Ney, faz com que tudo entre em um eterno moto-contínuo, uma constante mutação. “Já não canto mais como está no disco”, revela.
Do show, deixou de lado canções conhecidas, como “Vida Louca Vida” (Lobão), para se embrenhar em um universo de compositores novos – ou de nichos específicos e distantes do grande público. “É o que me interessa, sabe? Estava tendo dificuldade em fazer um projeto sobre os pseudomalditos – porque não acredito em malditos. Paralelamente, as bandas novas foram chegando à minha mão, fluindo, entende?”, diz. “Por que vou dar murro em ponta de faca se a vida está oferecendo outra coisa? Optei por isso.” E assim abriu-se a porteira para canções de gente como Pedro Luís (“Incêndio”), Vitor Ramil (“A Ilusão da Casa”), Dani Black (“Oração”), Zabomba (“Pronomes”), Tono (“Não Consigo”) e Criolo (“Freguês da Meia-Noite”).
Com Criolo, aliás, Ney protagonizou uma acalorada interpretação no Vivo Rio (RJ), na abertura da turnê Atento aos Sinais. No disco, a parceria não se repetiu. “Pensei muito nisso, mas não ia ficar bom como ficou lá”, explica. Na ocasião, Criolo xingou o cantor, pulando ao redor dele. É função de Ney Matogrosso, como intérprete, viver as palavras dos outros como se ele próprio as tivesse escrito. “Acho que arrisquei”, conta, sobre a ousadia do trabalho. “O risco é bom.”