No segundo disco, trio Metá Metá usa referência recorrente da música popular brasileira para criar algo novo
A influência de música africana não é novidade na música brasileira: dos afrosambas de Baden e Vinicius, passando pelas composições de Gilberto Gil e João Donato e pelos cantos de Clara Nunes e Carlinhos Brown, muitas ideias, ritmos e maneiras de origens diferentes foram assimilados e retransformados por aqui. Novos caminhos e possibilidades dessa influência se revelam no recém-lançado MetaL MetaL, segundo disco do encontro do Metá Metá, de três figuras únicas e altamente ativas na cena em São Paulo atualmente: a cantora Juçara Marçal, o compositor, guitarrista e violonista Kiko Dinucci e o saxofonista e flautista Thiago França.
A palavra “Metá”, na língua Iorubá, significa “três”, e quando dobrada significa algo como síntese de três em um. No álbum, as faixas “Logun”, “Orunmila”, “Oya” e “Rainha das Cabeças” de alguma forma citam entidades ou criam refrãos inspirados em chamadas ou cantos. Já “Exu” e “Man Feriman” são temas de domínio popular, o primeiro de terreiro nagô do Maranhão, o segundo adaptado de ponto de Oxum. “Qualquer referência afrorreligiosa no Metá Metá é resultado da própria vivência na religião”, diz Dinucci, que explica citando guitarras elétricas, Congotronix, músicos do Mali, Gana, Angola: “Musicalmente falando, me sinto influenciado pela África de um modo mais global. Uma procura contemporânea, não ancestral”.
O trio toca junto há pouco mais de três anos. Em uma época em que “independência” já virou commodity no mercado, o Metá Metá não sabe viver sem ser livre, fazendo tudo de maneira artesanal, sem empresário, assessoria, financiamento de gravadora ou qualquer subsídio externo. É o do-it-yourself como uma maneira de se livrar de predisposições externas e manter a criação viva. “O Metá caminha livre porque tem controle de todos os seus passos”, comenta Dinucci. “Não nos interessa ter uma assessoria, sair em um grande jornal e não ter dinheiro pra fazer um crediário nas Lojas Americanas, isso é um mundo encantado. Somos livres do modelo do mainstream, da máquina. Não nos interessa também a figura de uma pessoa atravessando, interferindo nos nossos passos, um empresário. Nossa liberdade sonora depende dessa nossa postura.”