“Para mim, tudo começou nos anos 1990. Quem poderia imaginar que, décadas depois, a gente conseguiria juntar hip-hop com samba?”, questiona ele
Ao longo de quase três décadas, o carioca Marcos Hermes, de 43 anos, construiu uma das mais sólidas carreiras dentro da fotografia musical brasileira, clicando grandes nomes da nossa produção e incontáveis shows e festivais internacionais que passaram por aqui. Também é responsável por mais de 700 capas de discos e DVDs. Nessa atuação incansável, Hermes sente que tem a missão de registrar um pouco de tudo o que acontece dentro da música nacional – sem preconceito, trabalha com todas as vertentes. Aproveitando o enorme e diversificado acervo que segue construindo, Hermes agora prepara o livro Brasilerô, focado na diversidade sonora do país. No final de 2016, ele deu início ao projeto com uma exposição de mesmo nome.
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Apesar de dizer que “não escolhi a fotografia, ela é que me escolheu”, Hermes conseguiu unir a paixão que tem pela música com a atuação profissional. Quando adolescente, começou a tocar bateria. Em seguida, passou a clicar shows para ficar perto dos ídolos. “Esse foi o começo, publicando fotos e escrevendo em fanzines musicais”, relembra. Um ponto de virada foi em 1991, quando fotografou o Rock in Rio II e conseguiu que o material fosse publicado em uma revista argentina.
Nos primórdios, Hermes trabalhou em jornais diários do Rio de Janeiro, como O Dia e Jornal de Hoje, cobrindo de tudo, de crimes a política. A música ainda era o lado B, mas a situação não demorou a mudar – a partir da segunda metade da década de 1990, ele passou a ser visto como referência do registro de shows, sendo requisitado por gravadoras e produtoras. Foi responsável por trabalhos marcantes, como a capa e o material promocional do Acústico MTV de Cássia Eller, de 2001, e Ney Matogrosso Interpreta Cartola (2002), entre muitos outros.
A diversidade presente na música brasileira é refletida na atuação do fotógrafo. Nas imagens que registra, ele procura cruzar referências de todas as tribos e estilos. “Só aqui no Brasil conseguimos fazer essas misturas musicais loucas”, afirma. “Para mim, tudo começou nos anos 1990. Quem poderia imaginar que, décadas depois, a gente conseguiria juntar hip-hop com samba?”
Com base nessa filosofia de geleia geral, ele sempre procurou transitar em todas as frentes e se aproximar dos músicos. “Eu vejo o ato de fotografar como um processo psicológico. É preciso entender o que se passa dentro da cabeça do artista. E, nesse processo, extrair algo exclusivo. Basicamente, saber o que a pessoa quer comunicar. Estou sempre pesquisando, buscando o outro lado. E não me envolvo em nenhum projeto em que não acredite.”
Além do vasto e variado acervo, devidamente organizado e preservado, Hermes é aliado da tecnologia. Foi desde o início um entusiasta da fotografia digital. “Para mim, vale tudo, até foto feita com celular”, afirma. Ele acredita que a modernização e a atualização do profissional são primordiais nos dias atuais. “Hoje, não podemos pensar apenas em foto estática. Com as redes sociais, o profissional precisa ter agilidade. Uma foto pode virar um vídeo ou até mesmo outro formato.”