Quatro anos antes da morte, Avicii lidava com a fama, o álcool e o cansaço
Gavin Edwards, Rolling Stone EUA | Tradução: Ligia Fonseca | Reedição: Julia Harumi Morita Publicado em 11/02/2014, às 09h49 - Atualizado em 08/09/2021, às 15h05
Quatro anos antes da morte, Avicii era um dos DJs mais famosos do mundo e aprendia a diferença entre o trabalho e a diversão que acompanhava o primeiro item. Com o sucesso de "Wake Me Up," o produtor abraçava as novas oportunidades enquanto lidava com o cansaço fora dos palcos.
No texto a seguir, publicado na edição 89 da Rolling Stone Brasil [fevereiro de 2014], Gavin Edwards acompanha os bastidores da fama meteórica de Avicii, que completaria 32 anos de idade nesta quarta, 8 de setembro de 2021. Confira:
Aos 24 anos, o DJ e produtor sueco Avicii tocou dezenas de músicas durante mais de duas horas no topo de uma pirâmide brilhante, em frente a duas picapes. Ele estava no famoso Hollywood Bowl, em Los Angeles, e depois de enlouquecer 17 mil pessoas com o hit “Wake Me Up”, Avicii (cujo nome verdadeiro é Tim Bergling) pegou um microfone, agradeceu rapidamente aos fãs e saiu de cena.
Alguns minutos depois, sentado tranquilamente no camarim dele, admitiu que não era um grande fã dos palcos. “Não gosto de falar,” disse, tomando água para combater uma dor de cabeça.
Na infância, em Estocolmo, Bergling tentou aprender guitarra e piano, mas não mostrou aptidão para tocar nenhum dos dois instrumentos. Então, aos 16 anos, baixou o software de gravação caseira Fruity Loops e aprendeu sozinho a fazer house music.
“Oito meses por ano, é muito frio e escuro”, contou o DJ, sobre a cidade natal. “Não há muita coisa para fazer – durante o inverno, é muito fácil entrar em um estúdio e se concentrar nisso.”
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À medida em que as músicas que fazia ficavam mais polidas, Bergling começou a se referir a si mesmo como “Avicii”, uma grafia modificada do nível mais baixo do inferno budista (mas, aso 24 anos, ficava desapontado quando as pessoas o chamam pelo apelido em vez de Tim).
O empresário atual entrou em contato com ele em 2008, depois de ouvir algumas faixas online; logo, Bergling estava voando por todo o mundo para fazer shows. Depois de uma série de singles de sucesso, descobriu que conseguia ganhar US$ 200 mil ou mais em uma só noite.
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Todos queriam ir para a balada com o astro e, por um tempo, ele entrou na onda, bebendo muito nos shows. “Era difícil fazer uma distinção”, afirmou. “Estou aqui a trabalho ou por prazer?”
Em 2012, ficou 11 dias internado devido a uma pancreatite aguda. Bergling disse não ser alcoólatra, mas interpretou o episódio como um alarme mesmo assim – por isso não tomou um drinque por quase um ano.
Em 2013, Avicii fez uma pausa na turnê para gravar o álbum de estreia, True – trabalhando cara a cara com outros músicos pela primeira vez na vida. Conseguiu atrair alguns veteranos respeitados de fora do mundo da música eletrônica, incluindo Nile Rodgers, guitarrista do Chic, Mac Davis, colaborador de Elvis Presley, e outros.
“Tim é um dos melhores parceiros de composição que já tive, sem exagero”, disse Rodgers. “Falei para ele: ‘Você é o John Coltrane do Fruity Loops’. Antes de conhecê-lo, não teria considerado alguém que trabalha com Fruity Loops um compositor sério – mas esse garoto é absurdo.”
Em uma tarde ensolarada de sexta-feira, Bergling surgiu em um heliponto em Los Angeles parecendo totalmente esgotado – tinha acabado de voltar de uma sessão de composição de dez dias em Estocolmo com Wyclef Jean, depois ficou até as 4h da manhã trabalhando em uma música com Chris Martin, do Coldplay.
Ele e a namorada guianesa-canadense, Racquel Bettencourt, escutaram pacientemente uma instrução de segurança e sobem no helicóptero. Quando passamos sobre Hollywood Hills, o casal apontou na direção da mansão multimilionária que está comprando.
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Depois de um voo de 45 minutos, pousamos em um cemitério em Bakersfield, onde uma equipe estava filmando o videoclipe do novo single de Avicii, “Hey Brother”. O diretor chegou e tentou, em vão, convencer Bergling a aparecer mais na câmera do que aceitou previamente.
Em seguida, veio a estilista; o DJ rejeitou praticamente tudo que ela sugeriu, de maneira educada, mas firme. Ele não usaria uma jaqueta de tweed. Absolutamente não iria tirar o boné virado para trás. E se recusou a usar outra coisa que não seja tênis, não importa quantas vezes ela pedisse gentilmente para Avicii considerar um par de botas.
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“Por que você não usa as botas para uma porra de uma cena?”, a estilista finalmente estourou.
“Eu não quero”, ele respondeu simplesmente.
“Eu faço muitas coisas que não quero!”, ela gritou, exasperada.
Bergling deu de ombros. “Eu não tenho de fazer.”