Diretor Rafael Saar fala sobre o documentário Baby, do Brasil ou Apocalipse
Em fase de produção, o longa-metragem Baby, do Brasil ou Apocalipse, dirigido por Rafael Saar, tem previsão de lançamento para 2012. A partir do universo artístico da cantora Baby do Brasil, o documentário enfocará a busca artístico-espiritual da cantora, a qual, a propósito, atuou em muitas produções. Entre as quais, nos filmes O Cangaceiro (Brasil/Itália, 1970, dir. Giovanni Fago) e Caveira My Friend (Brasil, 1970, dir. Álvaro Guimarães). Ambos filmados em Salvador, no cenário pós-tropicalista, os filmes introduzem Baby no cinema marginal baiano.
Confira ao lado galeria de imagens tiradas para o filme e fotos do arquivo pessoal da cantora.
Em Baby, do Brasil ou Apocalipse, adianta Rafael Saar, serão feitas "viagens-chave" a lugares que representaram um ponto de mudança na vida da nova baiana. "Vamos refazer parte do Caminho de Santiago de Compostela, voltar ao sítio Cantinho do Vovô e ao apartamento em Botafogo", conta o diretor. A diversão, contudo, estará assegurada com impagáveis cenas de Baby no auge de sua fase "new wave/pré-gospel". Canções de louvor como "Minha Oração" (1980). "Cósmica" (1982), "Telúrica" (1981) e "Poderoso Deus" (2010), garante Baby, sempre estiveram em sua obra. Confira abaixo um trecho do filme e, em seguida, entrevista com o diretor:
Leia entrevista exclusiva com Baby do Brasil.
No filme, como você separou, abordou a Baby esotérica de sempre da evangélica de hoje?
O filme tem como abordagem central, além do resgate da trajetória artística de Baby, a relação estreita que ela assumiu entre espiritualidade e música. De "No fim do juízo", passando por "Cósmica", "Telúrica" e a popstora Baby, vemos uma busca incessante de uma artista que acredita na música como caminho direto de ligação com Deus. Além disso, a desconstrução do perfil do evangélico de hoje e da música gospel, que no Brasil ainda não é tratada como arte.
Fale sobre a experiência da Baby com cinema no período NB e pré-NB. E, também, sobre as incursões audiovisuais dela nos anos 80 em diante.
Baby é uma figura cinemtográfica, uma Barbarella brasileira. Começou no cinema ainda Bernadete, em sua adolescência no Rio de Janeiro, antes de ir para Salvador. Fez um curta-metragem inacabado, e indo para a Bahia fez um papel místico no filme O Cangaceiro e o incrível Caveira My Friend. Neste último, além de atuar como a namorada do Caveira, Baby participa da trilha sonora, e é de uma personagem deste filme que Bernadete vai "roubar" o nome para si: Baby Consuelo. Nos Novos Baianos fez a Eva em Genesis 2000, ao lado do Adão Caetano Veloso e bem mais tarde, em 2005, um curta-metragem com Andrucha Waddington.
O que lhe fascinou em Baby para fazer um doc sobre ela?
Minha fascinação com Baby veio na infância, nos anos 80, quando ela teve uma carreira infantil forte, participando de musicais como Pirlimpimpim, A turma do Balão Mágico. Mais tarde pude conhecer todos os discos tanto da carreira solo, quanto dos Novos Baianos, e vi uma cantora versátil, com uma extensão vocal e uma musicalidade impressionantes, e ao mesmo uma imagem extremamente explorada e limitada de uma artista louca que acaba apagando a importância, ousadia e pioneirismo que Baby teve e tem na música brasileira. Fazer um documentário sobre ela é importante no sentido de desconstruir essa imagem, fazendo um resgate de arquivos que não estão disponíveis (Baby não tem nenhum DVD lançado e poucos CDs são encontrados à venda).
Como as divas da Baby são mostradas no filme?
Todas as referências artísticas de Baby estarão no filme. Com Elza Soares e Ademilde Fonseca, duas das principais influências - do cantar rouco e acelerado - gravamos um show em São Paulo, e passaremos por Caetano, Janis Joplin, Gal Costa, e cantoras como Marisa Monte - que é uma das crias de Baby - que estarão presentes seja no repertório das músicas que Baby cantará ou fisicamente.