Com o recém-lançado Disco, Arnaldo Antunes realizou parcerias inéditas que sempre desejou (com Caetano Veloso, por exemplo), reencontrou velhos amigos (como Marisa Monte, com quem formou o Tribalistas, e Nando Reis, ex-companheiro de Titãs) e colocou em prática a vontade de fazer um trabalho voltado para a “bipolaridade”. No processo, ainda refletiu sobre o próprio entendimento do conceito de álbum.
Você mostrou as faixas que entrariam em Disco aos poucos para o público. Isso alterou o resultado final?
Adorei essa dinâmica de mostrar enquanto ainda estava fazendo. Primeiro porque isso muda todo o processo. Em vez de gravar primeiro todas as bases, depois overdubs, as vozes, e só ouvir o produto pronto no final, fui finalizando faixa por faixa. E tem o retorno. Isso instiga também, me faz pensar na próxima faixa, cria uma expectativa mútua. Mas o repertório já estava escolhido [desde o começo].
Mas o processo influenciou na decisão de dar uma unidade ao álbum e chamá-lo de Disco?
Em uma época em que as pessoas podem consumir música de forma avulsa, o que justifica ter um disco, um grupo de canções lançado de tantos em tantos anos? Quis colocar essa questão desse apego ao conceito de disco, de colocar na vitrola essa coisa ritualística. Resgatei os meus vinis depois de uns dez anos que eles passaram trancados nos armários. Eu não acho que um modo de escutar música vá substituir o outro – há mais maneiras de se relacionar com a música, e isso é bacana. Quis jogar essa interrogação, porque sinto certa tristeza de se perder o conceito de disco xomo algo que representa uma fase da obra de um artista, com as músicas relacionadas e em uma ordem com sentido.
Esse álbum é todo feito de contrastes. Isso tem a ver com o projeto que você pretendia fazer no ano que vem, o Bipolar?
Eu até fiz questão de destacar isso na ordem das faixas. Intercalei músicas serenas com pesadas. Isso é o rastro dessa ideia de fazer esse disco “bipolar”. Eu gravaria isso só em 2014. Meu plano para este ano era ficar só no show do acústico. Mas aí fiz essas músicas nas férias, e elas não são nem de um lado, nem de outro. São de um feitio mais pop. Mas um pouco desse desejo da bipolaridade veio para esse disco também.
Então, de certo modo, você descansou carregando pedras nas férias?
Na verdade, o período em que mais componho é quando estou de férias. Porque aí componho sem demanda específica. Durante o ano, quando estou em shows e com compromissos, sempre tem uma música para um filme, para o songbook de alguém, uma parceria, uma encomenda. Tudo tem destino. Nas férias é quando pego o violão e faço sem compromisso.