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Bonequinha de Luxo

Lady Gaga idolatra Andy Warhol. Beija – mesmo – garotas e é a maior popstar novata de 2009

Brian Hiatt Publicado em 10/07/2009, às 16h22 - Atualizado em 09/11/2012, às 13h46

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FOTO DAVID LACHAPELLE
FOTO DAVID LACHAPELLE

Para uma jovem vestida como se fosse uma imperatriz alienígena, Lady Gaga até que se comporta de um modo estranhamente humano. Ela está agarrada ao então namorado (eles se separaram recentemente), o ex-modelo Speedy, no banco da van que usa para excursionar, e parece tão confortável quanto alguém vestido em uma roupa colada - com ombreiras pontudas em forma de asa - pode se sentir. "Ele me acha bonita", ronrona Gaga, batendo os enormes cílios falsos enquanto repousa a cabeça, recoberta pelo cabelo loiro platinado, no ombro de Speedy, quase furando o próprio olho no adorno pontiagudo de seus ombros. Enquanto a van avança pela rodovia 405, na Califórnia, entre um anfiteatro em Irvine e um estúdio em Burbank, fogos estouram nos céus distantes da Disneylândia. Gaga, comendo punhados de pipoca e dando pequenos goles em uma Diet Coke, fica pensativa. "O que estou fazendo?", pergunta, parecendo sonolenta e estranhamente vulnerável. "Quem sou eu?"

Com um timing quase teatral alguém do banco de trás dá a resposta: "Você é a nova princesa do pop!" A voz pertence ao blogueiro e fofoqueiro de plantão Perez Hilton, um dos primeiros e mais fervorosos seguidores de Gaga. Ele passou o dia todo com ela, vestindo uma camiseta Adidas com estampa de leopardo, cumprimentando as pessoas e oferecendo sorrisos empolgados. Gaga ri, chocada com a perfeição quase roteirizada do momento. "Você é", diz Hilton também sorrindo.

Há menos de uma hora, diante de 15 mil adolescentes estridentes em um show patrocinado por uma rádio de Los Angeles, Gaga cantou um repertório que incluiu "Just Dance" e "Poker Face" - o tipo de sucesso dance-pop recheado de sintetizadores no estilo anos 80 que, junto com seu senso de moda distorcido e eurofuturista, a tornou a estrela pop definitiva de 2009: ela governa o universo de estética plastificada que criou com a segurança de uma Madonna - e marca sua própria estranheza com hits que não se envergonham de ser pop. Com o refrão "Just dance / Gonna be OK" ("Apenas dance/ Tudo vai ficar OK" - a personagem da música está tão chapada na balada que perdeu suas chaves e seu celular), o primeiro sucesso de Gaga pode ser encarado como um hino à insistência e à superação ou um atestado à negação total. "Poker Face", por sua vez, tem mais camadas - é sobre Gaga querendo transar com uma garota enquanto está saindo com um cara. Os dois hits lhe renderam um disco de platina - um feito cada vez mais raro - e quase 10 milhões de singles vendidos digitalmente.

Alguns dias antes, a cantora de 23 anos fez um show com ares de coroação em Nova York: Madonna (com sua filha Lourdes a tiracolo) e Cyndi Lauper marcaram presença. E no programa Saturday Night Live, um dos mais populares dos Estados Unidos, Justin Timberlake deixou clara sua aprovação por meio de paródias de ambos os singles (uma semana depois, Rivers Cuomo cantaria uma parte de "Poker Face" em um show do Weezer).

Diante do panorama comportado e bonitinho do pop dirigido aos pós-adolescentes de vinte e poucos anos, Gaga - que louva Andy Warhol e Grace Jones, e agradece a David Bowie e Madonna por serem uma inspiração para ela - é uma popstar para os párias e renegados. Ela prefere ser interessante a ser bonita. "Não me sinto parecida com todas as outras cantorazinhas pop perfeitas", diz Gaga, que tem uma música inédita chamada "Ugly Sexy" (feia e sensual). "Acho que pareço nova. Acho que estou mudando a percepção das pessoas sobre o que é sexy."

Na van, Gaga gargalha enquanto assiste pela primeira vez ao vídeo de "Butterface", uma paródia brutal de "Poker Face" (parte da letra: "You were thinking that I'm a 10 / But my body's like a Barbie / And my face is like a Ken" - "Você me achava nota 10 / Mas meu corpo é como o da Barbie / E meu rosto como o do Ken"). A verdade é que as feições um tanto exóticas de Gaga - nariz étnico, dentes da frente proeminentes - parecem quase infinitamente mutáveis: em um dia ela se parece com Debbie Harry e, no outro, lembra Donatella Versace. Mas de perto é sempre mais bonita e jovem do que parece em suas fotos ultraestilizadas.


Gaga é Gaga o tempo todo. no palco ou fora dele, está sempre vestindo as roupas futuristas que ela mesma cria com a ajuda de seu diretor criativo de 23 anos, Matthew Williams, a quem ela chama de Matty Dada - ele é parte do coletivo Haus of Gaga, que ela vê como uma versão moderna da Factory de Warhol. Gaga nasceu Stefani Joanne Angelina Germanotta, mas ninguém a chama assim há anos. Seu primeiro produtor, Rob Fusari, inspirou o apelido. Certa vez ele ouviu algumas harmonias ao estilo Freddie Mercury que ela havia gravado e começou a cantar "Radio Ga Ga" para ela, como piada. Um dia ela mandou uma mensagem via celular com seu novo nome e nunca mais atendeu quando a chamavam de "Stef".

Nos bastidores do show de Los Angeles, ela andava para lá e para cá vestindo uma jaqueta vintage Gareth Pugh com padrões geométricos sobre um collant que mal cobria seu robusto, porém malhado, traseiro. Mas o preço desse visual sem calças é a eterna vigilância: o tempo todo, seu guarda-costas ex-oficial da marinha norte-americana e três dançarinos se revezam atrás dela - eles estão protegendo a bunda de Gaga dos paparazzi. No começo da semana, ela causou confusão em um mercado no Queens, em Nova York, ao aparecer vestindo uma roupa transparente (somente de sutiã e calcinha fio-dental por baixo) para comprar um torteloni. "Por que você não faz uma sessão de fotos com os fãs no setor de congelados?", sugeriu Speedy. Depois ela fez uma refeição para os pais de Speedy, possivelmente ainda com o traseiro de fora.

Agora, com a bunda devidamente embalada em sua roupa colada, ela segue para o segundo show da noite: uma performance de seis músicas a ser gravada para o Walmart.com, que deve terminar por volta das 2h da manhã. A noite seguinte reserva outro show patrocinado por uma emissora de rádio; no outro dia, uma aparição no programa de Ellen DeGeneres e uma sessão de fotos na qual seu amigo Marilyn Manson deve aparecer; e no dia seguinte a gravação do programa Dancing With the Stars e um voo de volta para Nova York. Lá ela gravará uma campanha para a marca de cosméticos M.A.C (com Cyndi Lauper), em seguida volta para Los Angeles para outra sessão de fotos e depois ainda voa para a Nova Zelândia e para a Austrália. "Bem-vindo à minha vida", diz Gaga. "Ninguém pode dizer que não dou duro."

Mas essa vida - arte, música, moda, aparição de celebridades - é tudo o que ela sempre quis, mesmo antes de largar a faculdade (após apenas um ano) e se dedicar em tempo integral à carreira de cantora. "Não tenho as mesmas prioridades das outras pessoas", continua, espiando Speedy, que por sua vez não está prestando atenção, entretido com seu celular. Ela não faz necessariamente questão de que ele ouça esta parte. "Não tenho. Gosto de fazer isso o tempo todo. É a minha paixão. Quando não estou fazendo um show, estou compondo ou ao telefone com Dada falando sobre roupas. A verdade é que a mulher psicótica que realmente sou só surge quando não estou trabalhando. Quando não trabalho, fico louca."

Quando chegamos a Burbank, Gaga fecha os olhos por um minuto. "Estou me reiniciando", diz ela. "Ativar a programação de Lady Gaga."

Antes de ter uma oportunidade, havia apenas Gaga e seu espelho. E por um tempo as coisas ficaram bem estranhas. Há quatro anos, ela morava no Lower East Side de Manhattan, Nova York, depois de abandonar a escola e a ajuda financeira dos pais. Em seu pequeno e medíocre apartamento, ela pedia cocaína por meio de um serviço delivery, ficava dopada e arrumava seu cabelo e sua maquiagem por horas, até que ficassem perfeitos. Então pedia mais pó e começava tudo de novo. "Era bem doentio", conta com um certo tom de orgulho. "Acho que é daí que vem a vaidade do álbum. Era como um momento especial que eu vivia comigo mesma e no qual me sentia confiante, me sentia como uma estrela. Às vezes olho para trás e sinto falta, de certo modo."

Nessa época ela conheceu o cara que ela ainda chama de "o amor da sua vida" - um carismático baterista de heavy metal chamado Luke. Quase todas as canções de seu álbum de estreia, The Fame, foram inspiradas por ele - da exuberante "Boys Boys Boys" ao doce novo single "Paparazzi", que lembra Britney em começo de carreira e trata do amor como válvula de escape para seu próprio narcisismo e desejo por fama. Gaga estava tão apaixonada por seu namorado que estava pronta para se tornar fã dele, virar as câmeras e fotografá-lo.


O fim do namoro foi complicado. "Eu era a Sandy dele, ele era meu Danny e eu terminei", explica, citando o casal romântico interpretado por Olivia Newton-John e John Travolta em Grease - Nos Tempos da Brilhantina. Gaga vê o amor de um jeito diferente hoje. "Speedy significa muito para mim", declara sobre o então namorado, "mas a minha música não vai acordar amanhã de manhã e dizer que não me ama mais. Por isso me contento com a solidão. Não vejo problema em ficar sozinha. Escolhi ter alguém na minha vida só quando posso." Gaga se considera bissexual, mas sua atração por mulheres é puramente física - ela nunca amou uma mulher. E ela tem se sentido profundamente decepcionada com a reação de seus namorados a esse aspecto de sua sexualidade. "O fato de eu curtir mulheres os intimida", diz. "Os deixa desconfortáveis. Eles dizem, 'Não preciso de sexo a três, me contento só com você'." Ela balança a cabeça inconformada.

Caso esteja interessada, há um homem na vida de Lady Gaga que é capaz de acompanhá-la em praticamente tudo o que ela queira: seu nome é Marilyn Manson e ele ficou solteiro recentemente. Os dois se encontraram não muito tempo atrás, quando trocaram remixes dos singles um do outro e se deram bem. Mas quando Manson aparece na sessão de fotos dela, na noite de uma segunda-feira, com um copo de absinto e um assistente filmando-o com uma câmera portátil, deixa hilariamente claro que gostaria de conhecê-la muito melhor. "Quero ser aquele cara", diz ele no camarim de Gaga, onde ela mostra o clipe de "Paparazzi", no qual aparece se agarrando com um modelo. "Quero meter até as bolas." Gaga gargalha, deitando em seu ombro. Manson aponta para um cabide de arame em uma prateleira próxima. "Você vai precisar disso para fazer o aborto depois." Mais risadas. "Te faço um exame cervical", oferece o cantor.

Entre tiradas assustadoras, Manson fala da cantora enquanto artista: "Fiquei mais impressionado com as fotos feitas pelos paparazzi. Achei que ela era como as estrelas do rock deveriam ser, tão excitante quanto algo criado por Warhol ou Salvador Dalí. E não a considero igual a suas contemporâneas - as outras garotas que cantam música pop - simplesmente porque ela sabe exatamente o que está fazendo. Ela é esperta, não se vende, é uma grande musicista, uma grande cantora e se diverte fazendo tudo isso - exatamente como eu."

Gaga cresceu em uma vida confortável, no Upper West Side de Manhattan, estudando piano clássico e trabalhando com o professor de canto de Christina Aguilera. Seu pai, um ex-músico de bar, a educou com discos de Bruce Springsteen e ela cantou em uma banda que fazia covers de rock clássico enquanto estudava em uma escola católica, no colegial. "Conheci rapazes bonitões com suas guitarras, mas queria transar com homens mais velhos e gostosos - eles eram veteranos", ela conta.

Na Universidade de Nova York, ela foi vocalista de uma banda meio glam e, ao mesmo tempo, começou a escrever e tocar músicas recheadas de solos de piano que - dependendo de quem te contar a história - soavam como Tori Amos, Beatles, Elton John, Queen ou Otis Redding. "Eram minhas favoritas, aquelas coisas teatrais e emocionais em que era possível realmente ouvir sua voz", declara uma colaboradora desse início de carreira, Lady Starlight. Essas faixas, de um estilo bem diferente, renderam a Gaga um curto contrato com a gravadora Island Def Jam - e esse seu lado ainda desponta nos segmentos com piano de seus shows.


Mas Gaga começou a achar sua própria música chata. "Eu pensava: 'Se essas músicas não fossem minhas, não ia querer escutá-las. Eu ficaria entediada em um show desses'", diz. "Era como um bebê que começa a crescer - em um dado momento, senti o cheiro da minha própria merda e não gostei." Uma música ao estilo de Prince, chamada "Beautiful, Dirty, Rich" foi o divisor de águas. Sua batida hip-hop e vocais hipnóticos abriram novas - e dançantes - possibilidades. "Sempre adorei música pop", conta Gaga, que define o gênero de maneira um tanto ampla. Suas canções "pop" preferidas em todos os tempos: "Whole Lotta Love" (Led Zeppelin), "Oh! Darling" (Beatles), "Hold On" (Wilson Phillips), "T.N.T." (AC/DC) e "Rebel Rebel" (David Bowie). Mas mesmo depois de ouvir "Beautiful, Dirty, Rich" os executivos da Def Jam a dispensaram. "Eles não entenderam", conta a cantora. "Algumas pessoas ainda não me entendem." Depois de alguns meses decepcionantes, Gaga começou a trabalhar com RedOne, um produtor sueco-marroquino que ama sintetizadores, e firmou um novo contrato com a Interscope. Em uma única semana ela e RedOne compuseram e gravaram seus primeiros três singles: "Just Dance", "Poker Face" e "LoveGame". "Me senti tão livre", relembra, "e não havia nada atrapalhando meu caminho".

Gaga, uma rejeitada no mundinho Gossip Girl de seus tempos de escola, encontrou seu verdadeiro eu. "Sempre fui Gaga", diz. "Mas na época da escola, por estar em um ambiente católico onde nos diziam qual era o modo certo e o errado de ser, acabei reprimindo todas essas minhas excentricidades para poder me enquadrar. Uma vez que me vi livre, pude ser eu mesma. Eu a puxei de dentro de mim e descobri que todas essas coisas que faziam parte da minha pessoa - e que eu tentei tão desesperadamente sufocar por tantos anos - eram as mesmas coisas que todos os meus amigos artistas e músicos achavam tão fascinantes em mim. Então as incorporei."

Marilyn Monroe está cantando "Diamonds Are a Girl's Best Friend" no sistema de som de um estúdio fotográfico enquanto Lady Gaga e uma jovial Cyndi Lauper abrem gigantescos tubos de batom cor-de-rosa e os flashes disparam. "É como um pênis!", diz Gaga se fazendo de ingênua. Elas usam vestidos vermelhos quase iguais ao estilo dos Jetsons. Lauper dá conselhos a sua sósia mais jovem, em seu forte sotaque nova-iorquino: "Mostre sua perna desse jeito, é mais sensual. Endireite as costas! Empine o traseiro e estufe o peito."

"Ela é uma graça", Lauper diz sobre Gaga.

Na sala ao lado está um homem imponente, ítalo-americano, vestindo jeans e uma camisa branca para fora da calça. Ele é Joseph Germanotta, pai de Lady Gaga e bem-sucedido empresário da internet. Ele aperta minha mão e dá um conselho sobre este artigo, com seu sotaque inconfundível de Nova Jersey: "Nada de sujeiras", diz, me dando um cutucão forte no peito. Então ele levanta a manga da camisa para mostrar sua nova tatuagem - é um raio, símbolo de Lady Gaga, o mesmo que aparece em seu rosto no clipe de "Just Dance".

Mas Joseph nem sempre concordou com a "programação de Lady Gaga". Principalmente quando sua filha começou a cantar seminua em bares decadentes de Nova York, seis meses depois de abandonar a faculdade. "Eu me apresentava vestindo uma calcinha fio-dental e um top preto", conta. "Ele achava que eu era louca. Não era tipo 'Ela não se comporta' ou 'É uma garota má' ou 'É uma vagabunda'. Ele achava que eu tinha ficado doida, que estava usando drogas e tinha perdido o senso de realidade. Para meu pai, era uma questão de sanidade."

Ele parou de falar com ela por um tempo, o que Gaga descobriu ser algo quase insuportável. "Por mais que as pessoas me vejam como uma pessoa bem-sucedida, se meu pai me ligasse agora e dissesse 'Que merda você acha que está fazendo?' e ficasse bravo por algum motivo, eu me sentiria muito mal. Se alguém me diz 'Você é uma vagabunda, odeio a sua música e você não tem talento', não quer dizer absolutamente nada para mim. Nada. Mas, se meu pai dissesse algo assim, seria diferente." Com o tempo ele acabou entendendo - os contratos ajudaram um pouco. "Ele ama o que eu faço. Quando peguei na bunda de um cara hoje no estúdio, ele riu. Ele ama. Acha que sou maravilhosa, graças a Deus! Se ele não achasse, eu seria uma Lady Gaga diferente."


Sua mãe, Cynthia, uma loira atraente que está vestindo uma jaqueta jeans e um colar com o símbolo de Gaga, nunca cortou relações com a filha. Gaga credita a mãe por seu comportamento ousado: "Ela me dizia: 'Garotinha, você pode ser o que quiser. É linda, talentosa e pode ser a dona do mundo'".

É pouco mais de meia-noite no estúdio em Burbank e Lady Gaga está sentada ao piano Lucite que ela mesma desenhou, cheio de plástico e bolas de prata. Ela ainda veste a roupa colada, agora com um estranho e espantoso chapéu de metal - seus vários anéis oscilam como se tivessem vontade própria, imitando planetas em órbita. Ela começa uma versão de "Poker Face" que lembra uma mistura de Bette Middler com Elton John e que ela costuma tocar nos shows, geralmente batendo nas teclas do piano com um de seus sapatos de salto alto, mas para de repente. Ela pede um copo de água e se recolhe ao camarim: está preocupada que talvez esteja perdendo a voz.

Mais tarde ela admite que quase chorou sozinha no camarim. Gaga não consegue nem pensar na hipótese de falhar - é algo que a aterroriza. "Tive uma decepção que foi muito difícil para mim. Por mais inabalável que eu seja e por mais que alguém me diga que não tem nada de errado comigo e que posso fazer o que for preciso, chega uma hora em que o corpo acaba falhando."

Poucos minutos depois, entretanto, Gaga volta, os olhos castanhos faiscando de determinação debaixo de seu chapéu maluco. Ela toca uma versão grave de "Poker Face" e depois engata suas músicas mais agitadas, acompanhada por seus dançarinos. Enquanto as batidas reverberam, ela canta e dança demonstrando um comprometimento selvagem, como se expulsasse toda a fraqueza de seu corpo. Ela trata a gravação sem plateia para o Walmart como se estivesse se apresentando no Grammy - e sua ferocidade pareceria boba se não fosse quase assustadora.

"O que mais prende as pessoas, acho, é o medo", declara mais tarde. "Por um minuto, tive medo. Entrei naquela sala e dei um tiro na cara do meu medo - aí saí e fiz o resto do meu show."

Para seus padrões, lady gaga está discreta esta noite, vestindo o modelo Debbie Harry completo - jaqueta preta de couro, camiseta branca (com dois X de fita isolante sobre os mamilos, fazendo as vezes de sutiã), calças justas de couro, braceletes com adornos pontiagudos estilo Sid Vicious e um chapéu de policial que ela fica tirando e colocando o tempo todo. Ela só não está irreconhecível, então os fãs se aproximam, um a um. É um raro momento de quase-relaxamento, que ela está usando para dar uma entrevista regada a vinho tinto no bar do hotel onde está hospedada, no Meatpacking District, em Nova York. "Este deve ser meu primeiro encontro em muito tempo", ela mia, depois de brindarmos. "Estou ficando molhadinha."

Se tudo seguir conforme o plano, Gaga não terá muito tempo para relaxar no futuro próximo. "Sinto que ainda tenho muito a fazer", diz. "O mundo todo vê os discos no primeiro lugar, o aumento das vendas e o reconhecimento, mas o meu verdadeiro legado dependerá do passar do tempo, se vou conseguir manter meu espaço dentro da cultura pop e realmente fazer algo que tenha um impacto verdadeiro."

Ela quer fazer arte "digna de museu" por meio do pop - uma ambição que soa muito melhor se não for declarada em voz alta. Mas, mais importante que isso, ela quer inspirar sua legião de fãs que cresce constantemente - e que atualmente vai de drag queens do centro da cidade a garotos suburbanos de 8 anos de idade - a se auto-encontrarem, a darem tiros na cara de seus medos. "Eu surgi a partir de um estado de delírio - é disso que trata The Fame. Eu costumava andar pela rua como se fosse uma porra de uma estrela", diz ela, a voz se elevando. "Quero que as pessoas viajem a respeito do quão grandes podem ser - e então trabalhem duro todos os dias para que essa ilusão um dia se torne realidade."