Estrelando quadro no Fantástico, o humorista consegue fugir das comparações com o pai
A primeira oportunidade veio fácil, ele não nega: aos 14 anos ganhou de Boni uma vaga como roteirista na Globo, mais precisamente no programa do pai, Chico Anysio. Veio fácil, mas já faz tempo. Bruno Mazzeo, hoje com 32, fez carreira escrevendo humorísticos na emissora e prosperou quando o pai já reclamava da falta de oportunidades profissionais. Há pouco menos de quatro anos estreou seu produto mais pessoal na TV, a sitcom Cilada, cuja sexta temporada chega este mês ao canal pago Multishow. O sucesso, agora só seu, rendeu uma nova oportunidade de receber as graças da Globo. A emissora "importou" o formato, fez uma versão para o Fantástico e reverberou o trabalho de Mazzeo nas proporções que costuma fazer.
O Cilada é mais engraçado na Globo ou no Multishow?
No Multishow ele tem a vantagem de ter histórias completas, você tem mais tempo, então aquelas ciladas acabam tendo uma proporção maior. Na Globo são tiros mais curtos.
Os episódios são quase os mesmos, com os mesmos temas, em parte até o mesmo texto. Como você define quais serão as mudanças? E por que a Débora Lamm (atriz que é a namorada de Bruno na série original) não está na versão global?
Como tem a mudança do tempo, de meia hora para seis minutos, todas as alterações acabam sendo por aí. Não tem que mudar o tipo de piada nem nada disso. A gente tem que enxugar, então acaba tirando muitas coisas da história. Não há a preocupação de tentar acertar um público amplo, porque o Cilada já era assim. A Débora não está justamente por essa questão do tempo, a gente achou que essa questão do casal não ia dar para desenvolver. É tudo muito direto ao assunto. Se tivesse ela, ou qualquer outra namorada, ficaria uma confusão.
Muito do humor de seu pai foi baseado em tipos e estereótipos. Dá para fazer esse tipo de humor sem ser considerado preconceituoso? Você acha que a ausência do Chico Anysio na TV como humorista é uma dissonância entre o estilo dele e os dias de hoje?
Essa moda do politicamente correto é muito chata. Quando escrevia A Diarista, tive um problema quase diplomático por causa de um episódio que falava de judeus e muçulmanos. Os caras começaram a acusar a gente de coisas que eu nem sabia. Qualquer um está sujeito a ter o sindicato dos gerentes de banco reclamando. Para você ter uma ideia, quando a gente fez o episódio do Cilada no Fantástico sobre shopping, uma grande loja mandou uma apresentação reclamando que os lojistas estavam se sentindo ofendidos. Para quem faz, principalmente se você não tem intenção de ofender e é acusado, fica muito chato. Dá uma preguiça. Eu acho que não limita, eu acho que enche o saco só.
Você acha que a ausência do Chico Anysio na TV como humorista é uma dissonância entre o estilo dele e os dias de hoje?
A questão da Globo com meu pai eu não sei. Mas acho que o tipo de humor dele, assim como o do Jô Soares, que é um tipo de humor bem tradicional brasileiro, nunca foi caricato e de galhofa. Sempre foi um tipo de humor altamente social e político. No caso do Chico Anysio Show mais social, no caso do Viva o Gordo mais político. Mas nunca foi um programa que fez o viado pelo viado, são sempre coisas altamente sociais. E eles sofriam de um mal pior do que o politicamente correto, que era a censura. Tiveram que driblar isso, e hoje também driblariam de alguma maneira. Não acho que seria um problema. O DVD do meu pai vendeu à beça, é superengraçado, e tem coisas dos anos 70. É possível que algumas piadas envelheçam, alguns estilos envelheçam, mas acho que não dá para dizer "esse estilo como um todo envelheceu".
Você começou a trabalhar como roteirista na Escolinha do Professor Raimundo da Globo. Um cara que arruma essa vaga aos 14 anos ainda tenta se desvincular da ideia da influência
do pai na carreira?
Claro que eu era café-com-leite. Funcionava mais como uma escola. Eu escrevia por prazer e o Boni, que na época era diretor geral da Globo, resolveu me contratar por um valor simbólico como uma maneira de me incentivar a produzir. E de fato funcionou. Eu nunca me senti pressionado. Sabia que ia ter um momento em que eu ia ter que seguir meu caminho, sempre soube. Mas também não me incomodava ter isso [a vaga com Chico Anysio]. Naquele momento era aquele trabalho, até que apareceu a oportunidade no Sai de Baixo . Talvez eu forçasse esse momento da separação, mas isso muito mais pelo que os outros pensam, porque eu sei que as pessoas olham de fora e falam "ah, ta ali porque é filho".
Você trabalha há anos como roteirista e humorista, e agora também está no Fantástico. A diferença da exposição é brutal?
Muda muito. A coisa de ser reconhecido nas ruas aumentou muito, e eu sabia que em termos de público isso aconteceria. Mas eu não esperava essa mudança no posicionamento de mídia. Por exemplo, antes disso eu fiquei tentando falar com a Rolling Stone por meses. Agora você que me ligou.