Justin Bieber só curtiu a vida adoidado – e levou pedradas por isso
Quando o craque francês Zinedine Zidane disparou aquela incrível cabeçada contra o peito do zagueiro italiano Marco Materazzi em plena final da Copa do Mundo de 2006, eu não sabia o que pensar até ouvir o discurso do Galvão Bueno. Foi algo neste nível: “Uma atitude antidesportiva, irresponsável, mau exemplo, milhões de crianças assistindo, blá-blá-blá...”
Naquele exato momento, eu formei minha opinião: ídolo não é um manual de boas maneiras. Ídolo deve ter personalidade, sangue correndo nas veias. E o Zidane tanto tinha que o dele ferveu. Alguém deveria erguer uma estátua daquela magnânima cabeçada contra o moralismo, uma estátua da liberdade do ídolo.
Mas o assunto aqui não é essa estátua. Fazendo minhas as palavras do Facebook da Xuxa: “Eu fiquei fritando na cama, pensando na vida (como muita gente faz) para escrever, escrever e escrever” sobre o mesmo Justin Bieber que ela. Mas, ao contrário da “Maria X” (nome que ela escolheu para assinar o próprio texto), eu não o chamarei de “B” (de Bieber), porque do lugar de onde eu venho as coisas devem ser escritas com todas as letras.
A passagem de Justin Bieber pelo Brasil despertou em mim a mesma sensação daquela final de Copa do Mundo. Eu não sabia o que pensar até a Xuxa se manifestar com meias-palavras no mesmo discurso moralista “padrão-Globo-de-falta-de-personalidade” do Galvão Bueno. Primeiro, ela o chamou de “bi...nha”. Como se abandonar o palco, ser flagrado em porta de bordel, protagonizar uma sex tape (sem sex, é bom frisar), pichar um muro e esnobar fãs tivesse alguma relação com a orientação sexual do cantor. Pegou mal, e a Maria-Meias-Palavras tentou consertar: “A maioria dos meus amigos é gay. Assumidos! Continuo achando esse B um ser drogado, mal resolvido e mal-educado!” Então ela não tem preconceito com homossexuais, mas tem com viciados? E se eu dissesse a ela que a maioria dos meus ídolos é drogada, mal resolvida e/ou mal-educada, qual é o problema?
Tudo o que Justin Bieber aprontou no Brasil pode ser metaforicamente resumido a uma palavra: cabeçada! Ele deu uma bem dada naqueles que acham que um ídolo deve ser uma figura perfeita e infalível. Pobres beliebers, que descobriram que Bieber, além de inconsequente, é um fanfarrão, porque precisa ser muito estúpido para tripudiar com uma bandeira como ele fez com a da Argentina.
Se há uma diferença entre os escândalos do Justin Bieber e os do Axl Rose nos bons tempos, essa diferença é a internet. E o pior é que o Justin não pode nem reclamar, porque se não fosse pela rede mundial de computadores, a carreira dele simplesmente não existiria. Enfim, aquilo que o inventou é o que ainda vai destruí-lo. Em outras palavras: do pó ao pop... ao pó de novo.