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Com mais de 50 anos de carreira, Julian Wasser se especializou em registrar personalidades que deixaram marcas no mundo do entretenimento

Paulo Cavalcanti Publicado em 25/10/2014, às 10h00

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“Mick Jagger deu um tempo durante as gravações e atacou um hambúrguer. Isso foi em 1965, nos estúdios da RCA, em Hollywood, onde os Stones registravam a clássica “(I Can’t Get No) Satisfaction.”
“Mick Jagger deu um tempo durante as gravações e atacou um hambúrguer. Isso foi em 1965, nos estúdios da RCA, em Hollywood, onde os Stones registravam a clássica “(I Can’t Get No) Satisfaction.”

Ainda jovem trabalhando como assistente de fotografia na agência Associated Press, em Washington, D.C., Wasser teve como mentor o pioneiro do fotojornalismo Arthur Fellig, conhecido pelo pseudônimo Weegee. Na capital dos Estados Unidos, passou a trabalhar registrando casos de polícia. “Eu basicamente me tornei fotógrafo porque queria ver com meus próprios olhos o que estava acontecendo nas ruas”, conta Wasser, que fez os primeiros bicos na área quando tinha em torno de 15 anos (ele não revela a idade que tem hoje). Depois de uma temporada na Marinha, Wasser deixou de lado os crimes do lugar onde nasceu e foi para Los Angeles. Foi o primeiro passo para a carreira que acabou construindo. “A Califórnia sempre foi um lugar mágico para mim. O DNA da Los Angeles dos anos 1960 aos 1980 era de pura maluquice e extravagância”, afirma. “Não havia tradição a ser respeitada ou regras a serem cumpridas. Por isso era divertido. Tudo era feito pensando no presente – e isso valia para pobres, ricos, pessoas com ou sem instrução.”

A partir do momento em que se estabeleceu na cidade, Wasser refinou o estilo que adquiriu como setorista policial. Mesmo registrando artistas, as imagens dele iam além do mero glamour, mantendo um quê de fotojornalismo. “No começo, eu era um penetra”, conta o fotógrafo. “Sempre amei estar ao lado de presidentes e estrelas de cinema. Queria trabalhar com gente famosa e mostrar a todos como eles realmente eram. Só que, acima de tudo, queria conhecer as pessoas que faziam o universo em que eu estava inserido.” Wasser não precisou bancar o intrometido por muito tempo. Em meados da década de 1960, ele já havia se tornado um colaborador regular de veículos como Time, Life e People, três das principais revistas da atualidade nos Estados Unidos. Para ele, “a imprensa é uma ferramenta valiosa para a indústria do entretenimento”. “Aparecer em uma revista de renome gera uma publicidade inestimável. Assim, eu sempre fui muito bem recebido pelos meus retratados. As fotos que fiz se tornaram preciosas para eles”, diz.

Diferentemente de outros fotógrafos da época, que registravam o emergente rock and roll apenas por motivos profissionais, Julian Wasser admite que sempre foi um grande fã de música, desde o pop californiano, passando por Elvis Presley, até os artistas britânicos. Naquele tempo, Los Angeles havia se tornado uma das capitais mundiais da música – e Wasser sempre estava a postos para retratar quem passava pela cidade. “Lembrem-se de que os Beatles, os Rolling Stones, o Led Zeppelin e todas as grandes bandas faziam uma parada lá”, conta ele, que afirma que o apelo da cidade era amplo – “o clima, o Oceano Pacífico, as garotas e tudo que poderia ser ingerido ou fumado”, brinca.

Wasser admite que antigamente era mais fácil chegar perto dos figurões. “Nas décadas de 1960 e 1970, ainda era possível frequentar festas exclusivas sem ser convidado ou ter credencial. Agora, se você fizer alguma gracinha, pode ser preso ou acusado de ser terrorista. Sem as milhares de pulseiras coloridas e o nome na lista, esqueça.” Mas, tendo construído uma carreira ao longo de mais de cinco décadas, isso não é motivo de preocupação para ele. Ainda vivendo na capital mundial das celebridades, o fotógrafo segue trabalhando – com esse currículo, é fácil circular na meca do entretenimento como se fosse 50 anos atrás. E, melhor ainda, com as vantagens da tecnologia de hoje. “O digital é sensacional. Não uso filme há dez anos”, afirma, nada nostálgico. “Todas as minhas máquinas fotográficas são digitais. As ferramentas para a fotografia nunca foram melhores.” Ainda assim, ele garante que o olhar do fotógrafo é o mais importante. “É preciso se aprimorar sempre”, diz Wasser. Ele nunca parou.

Uma Carreira Eternizada em Papel

Livro faz um apanhado da obra de Julian Wasser como fotógrafo de celebridades

O livro The Way We Were: The Photography of Julian Wasser (Editora Damiani, ainda sem previsão de lançamento no Brasil) foi editado por Brad Elterman e compila uma parte da vasta obra de Julian Wasser. “O livro em si não tem um conceito”, explica o fotógrafo. “É apenas um registro de como as coisas eram em Los Angeles e em Hollywood anos atrás.” A publicação impressiona: pela câmera de Wasser, só passaram nomes da chamada “lista A”. “Não existia a cultura de ‘celebridade’ – o que tínhamos eram artistas de cinema e músicos. Essas pessoas moravam em Los Angeles, dirigiam seus próprios carros, faziam as compras nos mercados locais e andavam nas ruas com os outros habitantes da cidade”, diz hoje. Segundo o fotógrafo, depois dos assassinatos cometidos pela família Manson, em 1969, tudo mudou radicalmente. “A partir da década de 1970, as jovens estrelas endinheiradas começaram a se isolar em mansões com portões altos e fugiram dos fãs. E só frequentavam eventos VIP, aos quais os pobres mortais não tinham acesso.”

Na Cena do Crime

Julian Wasser esteve no local do massacre promovido por Charles Manson

Um dos mais infames crimes de todos os tempos aconteceu em agosto de 1969, quando o psicopata Charles Manson ordenou a seus seguidores que matassem aleatoriamente diversas pessoas, incluindo a atriz Sharon Tate, que era casada com o diretor de cinema Roman Polanski. Julian Wasser foi até a mansão na Cielo Drive, em Los Angeles, onde ocorreu o massacre, durante as investigações. “Roman pediu a mim e a Tommy Thompson, jornalista da revista Life, que fôssemos até a casa onde havia acontecido o assassinato”, relembra. Segundo o fotógrafo, a intenção do diretor ao convidar Wasser e Thompson era que eles eventualmente ajudassem no quebra-cabeça que era a identificação dos criminosos. “Tudo estava relativamente tranquilo até que Roman abriu uma gaveta cheia de fotos de Sharon. Ele então olhou lentamente para elas e começou a chorar”, relembra. “Eu me senti péssimo de estar naquele lugar. Não desejo isso para ninguém.”