Os trabalhos de Slash pós-Guns N’ Roses revelam inventividade
É possível dizer que Axl Rose nunca precisou sair em carreira solo, porque manter um Guns N’ Roses com músicos assalariados é o sufi ciente para ele – afinal, ainda que não tenha o alcance vocal de antigamente, é na voz de Axl que o público reconhece as canções do grupo. Além disso, depois de todo o drama que foi a concepção, a gravação e o lançamento do disco Chinese Democracy (2008), o vocalista não se sentiu impelido a entrar em estúdio com a configuração do Guns que mantém na estrada. Já para Slash, não sendo cantor, é mais pungente a necessidade de criar material novo para não ter de depender de glórias passadas, como Axl insiste em fazer.
A jornada do guitarrista sem o Guns começou em 1994, quando ele ainda estava oficialmente na banda. Para combater a inatividade do grupo titular, ele formou o projeto paralelo Slash’s Snakepit, que tinha a participação de Matt Sorum e Gilby Clarke, outros insatisfeitos com o Guns. Em fevereiro de 1995, eles lançaram o álbum It’s Five O’Clock Somewhere, que continha basicamente canções de Slash rejeitadas por Axl – o vocalista achou que elas não serviam para entrar nos discos do Guns. It’s Five O’Clock... obteve uma vendagem respeitável e incentivou o guitarrista a seguir com seus projetos.
Em outubro de 1996, Slash saiu oficialmente do já moribundo Guns N’ Roses. Ele ainda gravou um segundo álbum com o Slash’s Snakepit, Ain’t Life Grand (2000), que não foi tão bem recebido quanto o primeiro. Não demorou muito: a banda acabou chegando ao fim.
Slash, no entanto, não permaneceu parado. A ânsia do músico por continuar compondo e permanecer nos palcos sempre foi maior que a força da inércia. E a empreitada seguinte integrada por ele causou bastante burburinho: o Velvet Revolver, um dos primeiros grandes supergrupos do milênio. Além de Slash, o Velvet tinha em sua formação os ex-Guns Du McKagan e Matt Sorum, o guitarrista Dave Kushner e o cantor Scott Weiland, ex-Stone Temple Pilots. Contraband(2004), o álbum de estreia, foi um sucesso estrondoso, tendo chegado ao primeiro lugar da parada nos Estados Unidos, enquanto faixas como “Slither” e “Fall to Pieces” mostraram que ainda havia espaço para um hard rock honesto em um mundo que continuava se recuperando do impacto do grunge. A banda excursionou extensivamente; também por isso o segundo álbum de estúdio foi lançado apenas em 2007. Quando Libertad chegou ao mercado, a relação dos integrantes com Weiland já estava bastante deteriorada. O cantor acabou saindo no ano seguinte; Slash e companheiros procuraram um novo vocalista, mas não acharam ninguém compatível. Ainda que a banda não tenha oficialmente chegado a um fim, ninguém sabe quando – e se – o hiato irá terminar.
Foi depois dessa segunda decepção que Slash resolveu lançar o primeiro álbum solo de fato, homônimo, em 2010. A realização foi colaborativa: os ex-Guns N’ Roses Izzy
Stradlin, Du McKagan e Steven Adler apareceram para dar uma força, enquanto vocalistas do primeiro escalão cantaram como convidados – entre eles Ozzy Osbourne, Iggy Pop, Chris Cornell, Lemmy Kilmister, Fergie, Adam Levine e Kid Rock. A participação do eficiente Myles Kennedy, membro do Alter Bridge, na faixa “Back from Cali” se tornou decisiva. Kennedy, o baixista Todd Kerns e o baterista Brent Fitz acabaram saindo em turnê com o guitarrista para promover o álbum, e a formação se provou tão coesa que acabou efetivada nos dois projetos seguintes promovidos por Slash: Apocalyptic Love (2012) e o recente World on Fire (2014). Agora, Slash fi nalmente achou a estabilidade que não tinha ao lado do volátil Axl. Em entrevistas antigas, o guitarrista chegou a dizer que não tinha o dom para se tornar um bandleader, mas, de um jeito bastante democrático, ele tem se saído surpreendentemente bem ao lado de seus atuais conspiradores.