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A Canção Perfeita

Maurício Pereira, do Mulheres Negras, é entrevistado pelo filho, o vocalista d’O Terno, Tim Bernardes

Lucas Brêda Publicado em 08/05/2018, às 23h04 - Atualizado às 23h09

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<b>Tudo em Casa</b><br>
Tim Bernardes fala com o pai, Maurício Pereira, sobre o disco <i>Outono no Sudeste</i>
 - Carol Pascoal / Divulgação
<b>Tudo em Casa</b><br> Tim Bernardes fala com o pai, Maurício Pereira, sobre o disco <i>Outono no Sudeste</i> - Carol Pascoal / Divulgação

Há cerca de dez anos, Maurício Pereira vem sendo redescoberto por novas gerações, não só por causa do trabalho seminal no Mulheres Negras, que compunha nos anos 1980 ao lado de André Abujamra, mas também pela carreira solo (a faixa dele “Trovoa” fez sucesso na regravação recente do Metá Metá). Para o novo disco, Outono no Sudeste, Pereira contou com um conselho valioso do filho, Tim Bernardes: chamar um “cara especial” para produzir. Gustavo Ruiz, irmão de Tulipa, comandou as gravações e ajudou Pereira a “dar um passo à frente” na discografia. Convidamos Bernardes para entrevistar o pai sobre o álbum, a família e a carreira.

Você tem algum filho favorito [risos]? Brincadeira. Como você encaixa o disco novo na discografia?

É uma continuidade, porque tem canções afetivas, e a mão do Gustavo faz ele dar um passo à frente dos anteriores. Isso vem acontecendo: cada disco é mais musical que o anterior.

Normalmente, a trajetória de músicos tem um pico e depois uma estagnada. Já a sua é mais lenta, parece de cineasta, segue incrementando.

É muito difícil ficar 30 ou 40 anos no mercado. Quem faz isso é o Caetano Veloso, cada disco do cara é uma viagem…

No seu caso, é ainda fora do mercado.

Sim, não tenho a pressão de lançar álbum a cada dois anos. Meus discos mudam porque tenho processos e parceiros diferentes. Nas canções, em si, é uma continuidade. O Outono é a ponta das faixas que comecei a escrever no Mulheres, como “Imbarueri” ou “Common Uncommunicability”. As pessoas me veem como um cara criativo, mas sou tipo o Marcelo D2, “à procura da batida perfeita”. Estou em busca da canção perfeita. Acho que, no palco, sou mais louco do que como compositor.

De um tempo pra cá, você virou meio uma figura cult. Ainda mais em comparação com os anos 1990, quando não tinha internet e você não estava em gravadora. Acha que ter caído nisso aumenta a sua “ressurreição” como cult?

Nos anos 1990, não tinha trocado uma cena pela outra, não tinha casa [de shows] pequena, não tinha internet. Foi uma época na qual eu perdi meu público, que era o público enorme do Mulheres. Eu não tinha noção de quem eu era, especialmente no Na Tradição. Achava que, por se tratar de um disco de canção, ia vender igual a um Lulu Santos. Se o Mulheres era maluco e estava na Warner, era fácil, ia parar na novela. Você acha que eu ter “resistido” aos anos 1990 me deixa mais cult?

Existe uma coisa na cena indie que é “olhar antes para quem não estavam olhando”. [Se não for isso,] De onde você acha que vem essa coisa cult em relação a você, do Metá Metá?

Nos anos 1990 eu estava escrevendo um tipo de canção que começou a se fazer muito depois de 2005. Vejo você falar de São Paulo, das pessoas e dos afetos, com as imperfeições do dia a dia. Acho que esse é o lado de “Trovoa”. Ela é sublime, mas se passa na padaria, no mundo real. Esse bordão do “Não Existe Amor em SP” vem muito disso. Eu estava falando de coisas afetivas nos anos 1990 de um jeito muito “chão”, e agora isso é comum.

É o primeiro disco que tem os três filhos cantando juntos! Qual a sensação?

Tinha um clima de A Família Dó-Ré-Mi, com vocês trazendo coisas que não são naturais para mim, uma leveza de estar em frente do microfone, intimidade com canções como as minhas. Confesso que fiquei mudo aquele dia, ainda bem que não tive que cantar. Foi das melhores coisas que eu vivi em estúdio.

Para falar da pessoa que faltou ali: a mamãe. Ela sempre foi um “controle de qualidade” dos seus álbuns, ouve e fala “na lata”. Como foi agora?

Ela não é musicista, ouve música como cidadã comum e é uma pessoa com acesso rápido às emoções, então a canção popular bate nela de um jeito muito bonito. Mostro para ela e é “na lata” mesmo: gosta, não gosta, ri, chora, fica indiferente. É uma pessoa que eu testo mesmo. Uma vez até me pediram: “Empresta sua mulher para ouvir um disco meu antes de lançar”.