Com amadurecimento e um segundo disco, Móveis Coloniais de Acaju está em ponto de ebulição
Esqueça a nebulosa política nacional: Brasília é uma cidade "solar". E, musicalmente falando, serve-lhe outro elogio: "mãe gentil". Do popularesco trash à MPB ortodoxa, da subcultura heavy metal à disco-clubber, seu generoso colo aninha as melhores - e piores - filiações sonoras. A banda brasiliense Móveis Coloniais de Acaju é o fruto do cerrado que, amadurecido em 2009, caiu do pé. O segundo álbum da banda, C_mpl_te (2008), produzido por Carlos Eduardo Miranda, é a maior prova disso. "A gente se joga na fervura cultural da cidade. É diferente de outras cidades, como Recife, por exemplo, onde a tradição tem força. Brasília ainda está construindo sua identidade. Nesse processo, os Móveis são operários", situa o vocalista Andre Gonzáles - o qual órfãos dos Los Hermanos andam chamando de "o novo Marcelo Camelo". Gonzales, porém, desvencilha-se imediatamente da comparação: "Não sou eu, não! Deve ser outro cara", ri, assustado.
O combo Móveis Coloniais de Acaju, uma das atrações do festival Planeta Terra, em São Paulo, tem nove integrantes em sua formação: André Gonzáles (voz), BC (guitarra), Beto Mejía (flauta transversal), Eduardo Borém (gaita cromática e teclados), Esdras Nogueira (sax barítono), Fabio Pedroza (baixo), Gabriel Coaracy (bateria), Xande Bursztyn (trombone) e Paulo Rogério (sax tenor).
O Móveis também gerencia o festival Móveis Convida que, há dez edições, anima noites de Brasília. Tudo começou no final dos anos 90: despretensiosamente, o grupo integrava a forte movimentação ska/hardcore da cidade. Desde Idem, o disco de estreia, a banda evoluiu muito. Em C_mpl_te, segundo o vocalista, chegou ao "resultado perfeito": todos assinam composição, arranjo, letra e música. "Certas canções foram feitas a 20 mãos", diverte-se. E acrescenta: "Aprendemos a ter desapego e, ao mesmo tempo, visão de conjunto".
C_mpl_te superou a marca de 25 mil downloads no projeto Álbum Virtual, da Trama Virtual. A produção de Miranda centrifugou a "feijoada búlgara" (expressão gastronômica cunhada para definir a amálgama de sons da banda) cozinhada pelo Móveis: "No começo, me apavorei ao ver que todos tinham a mesma força. Ele são um fenômeno", elogia o produtor.
O megalomaníaco nome Móveis Coloniais de Acaju é uma homenagem à "Revolta do Acaju" (batalha fictícia que teria sido travada, em 1813, na Ilha do Bananal, entre portugueses e índios para expulsar os ingleses). Quando certo burburinho a respeito da história fantasiosa surgiu, os músicos começaram a campanha "Revolta do Acaju: Eu Acredito". O público comprou a ideia manifestando-se por meio de redes sociais, como o Twitter. Rapidinho, a "twittagem" foi se transformando em vídeos. Hoje, são mais de 50 circulando pelo YouTube: "O lance é puramente lúdico. Ademais, com um nome desses não dá para levar-se tão a sério. Não é?", diz Gonzáles.