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Caranguejo Alado

Os vôos de Vitor Araújo, o pianista pop erudito que ilude o hype

Bruno Maia Publicado em 07/05/2008, às 17h05 - Atualizado em 04/08/2008, às 18h05

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Vitor Araújo vai de Radiohead a Chico Buarque
Vitor Araújo vai de Radiohead a Chico Buarque

Quando Vitor Araújo sobe no tradicional palco do Teatro Santa Isabel, no Recife, de All-Star preto, calça jeans e pisando no piano, a contradição daquilo tudo já virou pauta. Quando ele começa a tocar, dono de uma técnica impressionante, os jornalistas já têm mais uma linha para escrever. Enquanto o hype procura na superfície, Vitor Araújo se disfarça na essência.

O quadro acima descreve a abertura do recém-lançado primeiro DVD do músico, TOC, um dualdisc (CD e DVD em um só disco). Do alto de seus 18 anos, Vitor brinca com os clichês que lhe cercam. "Minha namorada diz que já sou uma metonímia de tanto que me chamam de 'jovem-pianista-pernambucano-prodígio'." O uso do dualdisc como plataforma de lançamento faz todo sentido no caso dele, já que, apesar de sua música falar por si, é a performance que faz todos os olhos se voltarem para o garoto.

Vitor estuda música intensamente desde a infância, apesar de se considerar disperso. "Só estudo técnica umas duas horas por dia, outras quatro fico tocando." Apesar de recusar o rótulo de pianista-roqueiro - ele afirma, convicto, que é um músico erudito -, este é o gênero que mais ouviu, seja pela formação familiar, seja pelos amigos na adolescência. Ao incluir "Paranoid Android" em seu repertório, ele quer sinalizar isso. "Radiohead é uma coisa que ouvi muito. Thom Yorke é meu pastor e nada me faltará", brinca o fã de Bach, que, nas horas vagas, tem uma banda que só toca Chico Buarque.

Herdeiro de uma genealogia recente da música pernambucana, que se renova pela fusão de referências aparentemente antagônicas, em apresentação no festival Abril Pro Rock, o músico falou para a platéia. "Como bom caranguejo, não quero andar para a frente. Quero andar para trás para me reaproximar de um estado de simplicidade em que a razão não tem razão."

De Estudando o Samba (1975), de Tom Zé, Vitor tirou mais do que a faixa que batiza o disco. Tirou também o lema que muitos cantam, mas que ele oculta no discurso. "Eu tô explicando pra te confundir, eu tô confundindo pra te esclarecer." Enquanto destila o doce dos clichês que atraem tantos olhares, dissemina uma arte bruta e densa. Sua receita é infalível.