Disco delicado e autoral marca estréia solo de Andreia Dias
As canções gravadas pela cantora e compo-sitora Andreia Dias, que lançou em 2007 seu primeiro disco solo, Vol.1 (Scooby Records), dão ao ouvinte a sensação de estar próximo ao palco de um cabaré. Os arranjos, às vezes eloqüentes, conduzem aos anos 50, remetendo a algum dos primeiros discos de Cauby Peixoto. Enquanto isso, as letras trazem à tona a atualidade, como nos versos "Espero ser uma pessoa quase sã / Pra nunca ter que conhecer o Diazepan". Entre as referências sonoras da paulistana de 36 anos que prefere trabalhar coletivamente, estão o blues, o pop, o rock e a MPB. "Sempre sonhei em fazer coisas coletivas com mulheres, porque acho essa coisa de diva uma chatice só, aquelas cantoras com a mão assim e uma flor no cabelo", desdenha Andreia, que ganhou visibilidade com seu trabalho nos grupos DonaZica (com Anelis Assumpção e Iara Rennó) e Banda Glória. Entre as participações especiais de Vol.1, estão Osvaldinho da Cuíca, as garotas do DonaZica e Fernando Catatau (Cidadão Instigado). "Tudo foi gravado sem apego, sem preciosismo, com erro vindo junto e sendo legal", conta, sentada na varanda de seu apartamento, no bairro paulistano de Pinheiros.
No palco, Andreia mostra confiança e intimidade com o público. Um dos aspectos que a diferencia - e não a permite fantasiar com o estereótipo "diva com flor no cabelo" - é o fato de ter encarado desilusões desde muito cedo. Em sua casa, no Grajaú (periferia de São Paulo), conviveu em um ambiente familiar de fervor religioso e violência. "Fui criada muito reprimida, num lugar feio, violento, numa família evangélica que me criou como uma imbecil", conta, finalizando mais uma xícara de café. "A primeira calça jeans que coloquei, minha mãe me deu uma surra muito grande. Era balada, surra, calça jeans, surra". Aos 17 anos, fez uma viagem para Ubatuba (litoral paulista) e não voltou mais. "Fui embora com uma amiga, duas loucas. Chegando lá, perdi todos os meus documentos. Fiquei cinco anos sem nenhum deles."
Anos depois, em passagem pelo Rio de Janeiro, passou fome e dividiu comida com Seu Jorge, na época em que o cantor de fama internacional morava nas ruas. Juntos, montaram o cultua-do Farofa Carioca. "Participei de todo o processo de criação, ensaiávamos onde eu morava. Quando vi, tinham 12 caras na banda, queriam o nome Farofa Carioca e eu nem era de lá. Aí saí fora, meio brigada."
De volta em definitivo a São Paulo, há três anos, tomou a decisão de viver somente de música e dedicar-se integralmente ao DonaZica e à Banda Glória. "Descobri que queria fazer música por prazer", decreta. "Música pra mim é um alimento, não vou deixar de fazer nunca. Mas, se precisar trabalhar em qualquer outra coisa, tudo bem, porque a música não é a coisa mais importante da minha vida, está em terceiro, quarto lugar", brinca.
Das mil cópias prensadas de Vol.1 até agora, nenhuma sobrou nas lojas. Para 2008, Andreia quer o palco. "Uma agenda bem gorda e se possível uma turnê pra fora do país", torce.