Gary Baseman usa todos os meios disponíveis para imprimir seu universo particular
Não me lembro de algum momento na vida em que não estava criando arte”, diz o artista californiano Gary Baseman ao tentar se recordar das primeiras inspirações. Baseman, que praticamente nasceu com um caderno de rabiscos acoplado às mãos, é o principal representante da chamada “pervasive art” (algo como “arte infiltradora”, um termo cunhado por ele mesmo), dentro da qual criou uma iconografia colorida, mística e bem-humorada, repleta de personagens curiosos. “Lembro que vi uma palestra de Bob Clampett, um dos animadores dos desenhos da Warner, que mudou tudo”, continua. “Até hoje ele é uma das maiores inspirações no que eu faço. Em grande parte do tempo, esses desenhos são feitos para adultos. São surreais, têm um quê de [Salvador] Dalí, mas são cheios de humor”, complementa.
Duas vezes vencedor do Emmy pela Produção de Design da série da Disney Teacher’s Pet, criada por ele, Baseman já deixou a marca dele também na moda e no teatro, além de ter feito pinturas, esculturas e prints. Atualmente, trabalha em um documentário a respeito do passado dos pais, sobreviventes do Holocausto. Em 2013, o artista publicou o catálogo da exposição The Door Is Always Open (A Porta Está Sempre Aberta, em português), na qual retomou oficialmente a saga da própria família e de muitos outros judeus. “Crescendo em Los Angeles, conheci sobreviventes desse que foi um dos piores momentos da humanidade. Não tive como não ser influenciado por isso. O Skirball, local que realizou a exibição, é um centro cultural judeu. Isso me fez refletir sobre como minha criação delineou minha arte. Entendi que desenho da forma como desenho porque sofro muita influência desse lugar de onde eu vim”, ele reflete. “Meus avós foram mortos e as cidades de ambos foram massacradas. Meus pais tiveram a chance de recomeçar e meu pai sempre me empurrou a noção do ‘sonho americano’ por conta disso. O título ‘a porta está sempre aberta’ vem daí, era algo que ele sempre falava.”
Se o ambiente que dominou a infância de Baseman foi a base da obra dele, a fase adulta trouxe novas experiências que definiram outros aspectos igualmente essenciais no processo de criação. Los Angeles, atualmente, serve apenas de base para o artista, que percorre o mundo para registrar outros aspectos culturais dentro do corpo do trabalho que realiza. “Passar o Carnaval no Rio de Janeiro mudou o rumo da minha exibição seguinte, La Noche de la Fusion”, ele revela. Nela, Baseman criou um festival/ feriado mítico, cheio de criaturas coloridas, em uma grande celebração do que a vida tem de doce e de amargo e com a intenção de dissolver os limites que a sociedade impõe para que as pessoas se expressem. “Me inspirei muito nos dias que passei no sambódromo e naquela celebração do tesão pela vida que presenciei ali.”
Versão Estampada
Baseman criou linha de roupas em parceria com grife
No ano passado, Gary Baseman fez uma colaboração com a marca novaiorquina Coach, uma experiência um pouco diferente na carreira do artista, apesar de ele ter começado com uma verve comercial, criando peças para revistas, agências e até para o adorado jogo Cranium. “A Coach não queria algo assustador ou provocador demais,
porque estava voltada para o mercado de massa. A marca tem uma tradição mais conservadora, mas eles não me barraram em nenhum momento, me deixaram criar toda uma narrativa, inventei várias criaturas que moravam na bolsa da garota”, aponta. “Queria que o resultado fosse uma extensão do conjunto do meu trabalho.”