Com a ajuda de dez artistas, Fábio e Munir Candalaft transformaram um antigo prédio do centro de São Paulo em um santuário artístico
Entre apertadas construções comerciais na rua do Arouche, no centro de São Paulo, um casarão erguido em 1905 sobrevive. No número 126, a discreta placa acima do portão de ferro dá nome ao local: No Arouche. Porém, mais que o letreiro, são as grandes janelas coloridas as responsáveis por transmitirem o conceito do lugar, um centro multicultural repaginado pelas mãos de diversos grafiteiros.
O imóvel, que já abrigou uma pensão, um armazém e até salas comerciais, foi ressignificado pelos irmãos Fábio Candalaft e Munir Candalaft Júnior, que abriram o espaço em setembro. “O prédio pertence à minha família desde 1970. De uns anos para cá, devido à decaída do centro, ele começou a ficar cada vez menos ocupado e mais deteriorado. Não podíamos deixá-lo assim”, conta Fábio. “Decidimos buscar sua originalidade, ver como eram as estruturas. Ficamos maravilhados com o que encontramos.”
A descoberta veio acompanhada do encontro com o arquiteto e artista plástico Gabriel Menezes (Mena). “Ele e a [sócia] Roberta Abreu se apaixonaram pela história e sugeriram que mantivéssemos os elementos primários, mas com um toque de contemporaneidade que conversasse com a cidade”, relembra. “E dessa mescla nasceu a instalação.”
Na casa de dois andares, as paredes de tijolos e o piso de peroba rosa carregam mais de 100 anos de história. Já a modernidade é trazida por janelas e portas que setorizam os cômodos por cores e pelos grafites de dez artistas voluntários.
A obra demorou cerca de três meses para ser finalizada, mas as artes foram feitas em apenas um fim de semana. “Todos os grafiteiros trabalharam juntos, e isso construiu a energia da casa”, comenta.
Mena, autor de alguns dos grafites, comandou a curadoria dos profissionais. “Fizemos uma intervenção artística, vendo os muros do centro sob um novo ponto de vista”, diz sobre o trabalho realizado por Hope, SCL, KBM, Kueio, Caio Bless, Sanches, Luc Souza e pela dupla Tamo Junto. Com a casa pronta, o No Arouche já recebeu várias feiras e workshops com enfoque em projetos autorais de artes, moda, gastronomia e sustentabilidade. Para Fábio este é apenas o começo. “Tudo que for feito aqui terá uma veia cultural, porque o prédio é arte. Mas estamos disponíveis para todos os tipos de eventos, inclusive festas particulares e corporativas. O No Arouche foi feito para todos.”