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Chacina de Musas

O fim das premiações musicais já está entre nós, basta notar

Miguel Sokol Publicado em 14/10/2013, às 11h17 - Atualizado às 11h27

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Nick Cave e Miley Cyrus. - Ilustração: Gabriel Góes
Nick Cave e Miley Cyrus. - Ilustração: Gabriel Góes

Em todos os prêmios musicais do mundo vão para...?

Não se faz um anúncio desses sem algum suspense, então, como diziam no Rá-Tim-Bum, “Senta que lá vem história”: em 1996, a MTV indicou o cantor Nick Cave ao Video Music Awards. O que ele fez? Rejeitou com uma carta aos organizadores, alegando o seguinte: “Não estou em uma competição, minha musa inspiradora não é um cavalo para ser colocada em um páreo, ela me presenteia com canções e é meu dever protegê-la de influências que possam ofender sua frágil natureza, pois minha musa pode se assustar, fugir, me abandonar”. Nick Cave é um doido varrido? Talvez. Mas equivocado, não. A julgar pelo VMA deste ano, ele nem precisaria participar para perder a musa. Bastaria assistir para vê-la surgindo de um urso gigante de pelúcia com tudo para fora, inclusive a língua, em uma coreografia desengonçada que teve direito a tapa em bunda de dançarina e carícias pornográficas em um sub-Justin Timberlake chamado Robin Thicke. Sim, Miley Cyrus é a musa inspiradora de Nick Cave, pelo menos no último disco dele, Push the Sky Away, mais precisamente na música “Higgs Boson Blues”. Miley é citada não uma, mas duas vezes: como ela mesma, boiando na piscina em Taluca Lake, e como Hannah Montana em uma savana africana, assim mesmo, rimando.

O que Cave já sabia e o mundo está descobrindo agora: é melhor evitar as premiações musicais. Elas não nos representam mais, se transformaram em uma chacina de musas, ídolos e até da música que elas pretendem premiar. E não estou falando da Miley. Você contou quantas vezes algum instrumento musical esteve em cena no último VMA? Eu contei duas: nos shows do Bruno Mars e no da Katy Perry.

Por aqui, o tradicional Prêmio Multishow exibiu instrumentos em vários shows, mas os prêmios foram tratados como um mal necessário, pareciam estar lá para preencher o tempo que os roadies precisavam para arrumar o palco do show seguinte. Só há uma coisa para concluir de uma premiação que não toca músicas dos indicados das categorias e nem mesmo as dos vencedores: a música não importa. As premiações musicais não são mais relevantes, porque estão se comportando como água, pegando sempre o caminho mais fácil. Por isso, chegarão aonde o finado VMB chegou. Em outras palavras, todos os prêmios musicais do mundo vão para... o beleléu.