O fim das premiações musicais já está entre nós, basta notar
Em todos os prêmios musicais do mundo vão para...?
Não se faz um anúncio desses sem algum suspense, então, como diziam no Rá-Tim-Bum, “Senta que lá vem história”: em 1996, a MTV indicou o cantor Nick Cave ao Video Music Awards. O que ele fez? Rejeitou com uma carta aos organizadores, alegando o seguinte: “Não estou em uma competição, minha musa inspiradora não é um cavalo para ser colocada em um páreo, ela me presenteia com canções e é meu dever protegê-la de influências que possam ofender sua frágil natureza, pois minha musa pode se assustar, fugir, me abandonar”. Nick Cave é um doido varrido? Talvez. Mas equivocado, não. A julgar pelo VMA deste ano, ele nem precisaria participar para perder a musa. Bastaria assistir para vê-la surgindo de um urso gigante de pelúcia com tudo para fora, inclusive a língua, em uma coreografia desengonçada que teve direito a tapa em bunda de dançarina e carícias pornográficas em um sub-Justin Timberlake chamado Robin Thicke. Sim, Miley Cyrus é a musa inspiradora de Nick Cave, pelo menos no último disco dele, Push the Sky Away, mais precisamente na música “Higgs Boson Blues”. Miley é citada não uma, mas duas vezes: como ela mesma, boiando na piscina em Taluca Lake, e como Hannah Montana em uma savana africana, assim mesmo, rimando.
O que Cave já sabia e o mundo está descobrindo agora: é melhor evitar as premiações musicais. Elas não nos representam mais, se transformaram em uma chacina de musas, ídolos e até da música que elas pretendem premiar. E não estou falando da Miley. Você contou quantas vezes algum instrumento musical esteve em cena no último VMA? Eu contei duas: nos shows do Bruno Mars e no da Katy Perry.
Por aqui, o tradicional Prêmio Multishow exibiu instrumentos em vários shows, mas os prêmios foram tratados como um mal necessário, pareciam estar lá para preencher o tempo que os roadies precisavam para arrumar o palco do show seguinte. Só há uma coisa para concluir de uma premiação que não toca músicas dos indicados das categorias e nem mesmo as dos vencedores: a música não importa. As premiações musicais não são mais relevantes, porque estão se comportando como água, pegando sempre o caminho mais fácil. Por isso, chegarão aonde o finado VMB chegou. Em outras palavras, todos os prêmios musicais do mundo vão para... o beleléu.