Com novo disco, Los Porongas prova que não é só uma excentricidade vinda de longe
Por José Julio do Espirito Santo Publicado em 10/03/2011, às 16h13 - Atualizado em 04/05/2011, às 15h25
Com caras cansadas mas felizes, daquelas que se veem nas férias de quem não procura descanso, Diogo Soares e Jorge Anzol devoram sanduíches na casa de amigos. Nessa noite de segundafeira, a felicidade é estar em Rio Branco (AC). "Toda vez que a gente volta, parece que o público está mais ávido", Soares, vocalista do Los Porongas, relembra sobre o sábado anterior. O Segundo Depois do Silêncio, segundo álbum do quarteto, teve seu show de lançamento no Teatro Plácido de Castro. O Teatrão, como é conhecido na capital acriana, teve lotação esgotada. "Exatamente pelo fato de estarmos fora, rola uma saudade tanto nossa, quanto do público", explica o cantor.
Há quase quatro anos, o Los Porongas migrou para São Paulo. O motivo foi a pressão inerente às bandas fora do eixo RJ-SP. "Se a gente não tivesse partido, a banda teria acabado", o baterista Anzol confessa. "Tem um prazo de validade. Se em São Paulo o mercado de música independente se resume às casas da Augusta e da Barra Funda, imagine em Rio Branco."
Los Porongas, o álbum de estreia, produzido por Philippe Seabra (do Plebe Rude) e lançado pelo selo brasiliense Senhor F, ganhou respeito instantâneo, com melodias cativantes e carregadas de símbolos. Acabou listado pela Rolling Stone como um dos melhores de 2007. O Segundo Depois do Silêncio segue o mesmo caminho, sendo mais direto nas letras e muito mais rico nos arranjos. "João [Eduardo, guitarrista] tem umas duas linhas só para ele na ficha técnica", Soares brinca sobre a cornucópia de instrumentos utilizados. Entre as participações especiais do disco está Dado Villa-Lobos. "A gente queria gravá-lo todo no estúdio dele, o Lobo Mao, mas era inviável", conta o vocalista. "Arrumem bons microfones e um bom amplificador para o som dar certo em qualquer lugar" foi a sábia dica do ex-guitarrista do Legião Urbana. O Los Porongas investiu na aparelhagem do Cambuci Roots, garagem convertida em berço de belas obras e ponto de encontro do coletivo Mais Massa (formado por Madame Sataan, O Jardim das Horas, O Sonso, Volver e Los Porongas - todos expatriados em São Paulo). "Essa aproximação das bandas não foi uma afinidade estética, foi mais o estado de espírito mesmo", diz Anzol. "De não se sentir só." A mudança do tempo e do espaço é tema recorrente no novo trabalho. "Encontramos um monte de gente que largou tudo - família, reconhecimento local, estabilidade financeira - para viver de arte em outro lugar", explica Soares. "A vida vai acontecendo e você tem que ir atrás."