Com nome novo, banda brasiliense Sexy Fi se reinventa e escancara outras portas musicais
O Nancy virou Sexy Fi em 2012. É como se o grupo de Brasília ganhasse um passaporte novinho e em branco, com espaço para novas e ousadas direções musicais. “O som que fazíamos já não tinha a ver com o Nancy”, explica a vocalista Camila Zamith. “Estávamos seguindo outro caminho.” A nova nomenclatura também é traiçoeira, já que “fi” é uma gíria brasiliense para “filho”; não é exatamente uma referência à sonoridade lo-fi, mas é um termo bem mais fácil de ser localizado no Google do que o nome anterior. “É como se falássemos: ‘Cê tá sexy, fi’”, resume Camila.
O coloquialismo e as gírias da geração recém-chegada aos 30 anos estão presentes até no título do disco de estreia do Sexy Fi, Nunca Te Vi de Boa, um espelho do atual estado de espírito da banda, formada, além de Camila, por JP Praxis (guitarra), Ivan Bicudo (teclado), Diogo Saraiva (baixo) e Márlon Tugdual (bateria). Nebuloso e borrado, o álbum, produzido pelo norte-americano John McEntire, baterista do Tortoise, soa como uma viagem ao estado semiconsciente, em meio a labirintos de pensamentos, lembranças e planejamentos futuros.
Com canções cantadas em inglês e português, Nunca Te Vi de Boa foi lançado no exterior pelo selo britânico Far Out (por aqui, o lançamento é independente). A Brasília descrita pelo Sexy Fi é um lugar feito de concreto e discrepâncias, aspectos quase visíveis em faixas como “Plano: Pilotis”, “Brasília Grafitti” e “Looking Asa Sul, Feeling Asa Norte”. Da última, aliás, vem o verso que exprime o disco e toda uma geração nascida no início dos anos 80: “Ninguém é normal sem medicação”. E a letra segue: “Mas eu durmo só, eu vivo na pior / O meu desejo eu não vou ter, não”.