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Confissões de uma adolescente em crise

Em 2004, aos 18 anos, Lindsay Lohan ainda tinha um lado ingênuo, apesar de já mostrar o gosto por baladas e de ser alvo fácil para os paparazzi

Mark Binelli | Tradução: Ligia Fonseca Publicado em 09/01/2013, às 15h47 - Atualizado em 14/01/2013, às 16h39

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Reportagem publicada originalmente na edição 955 da RS EUA (agosto de 2004)
Reportagem publicada originalmente na edição 955 da RS EUA (agosto de 2004)

Lindsay Lohan tinha completado 18 anos menos de uma semana antes de me dizer que seus seios eram reais. Não perguntei (não é coisa de cavalheiro), mas relatos (uma olhada discreta, um abraço na despedida) parecem confirmar essa declaração. Ela ouve perguntas sobre seus seios na maioria das entrevistas e, provavelmente por isso, decidiu abordar a questão. “Minha irmãzinha lê essas coisas”, diz. “Ela me ligou um dia e disse: ‘Ouvi que você fez aquele negócio da Pamela Anderson’. Isso é tão retarda...” – Lindsay para e olha para sua assistente. Elas sorriem uma para a outra como se fosse uma piada interna. “Estúpido”, continua, e quando pareço confuso, ela diz: “Tenho de me policiar. Parece que falo muito ‘retardado’, e um pessoal está furioso comigo.”

Chega um momento na vida de toda adolescente que trabalha para a Disney no qual ela percebe que, de repente – como podemos dizer? –, “expandiu sua atração”. Para Annette Funicello, do primeiro Clube do Mickey, esse momento chegou quando os garotos começaram a notar que suas blusas de Mouseketeer estavam justas. Mais recentemente, Britney Spears e Christina Aguilera, ex-participantes do programa, reconheceram que videoclipes envolvendo uniformes escolares e/ou maiôs cor de pele aumentariam exponencialmente a tolerância de pais, irmãos mais velhos e tios esquisitos a músicas praticamente intragáveis se você não é uma menina de 13 anos.

Para Lindsay Lohan – ou, mais precisamente, para os seios dela –, a virada aconteceu em algum ponto depois da refilmagem de Sexta-Feira Muito Louca, em 2003. Ela tinha sido uma presença encantadora em filmes familiares como Operação Cupido (outra refilmagem da Disney) e o subsequente Confissões de uma Adolescente em Crise, mas, de uma hora para outra, neste ano, virou socialmente aceitável observar que a atriz infantil ruivinha era gostosa. Nesse momento, Lindsay se tornou um tipo diferente de estrela. Fez Meninas Malvadas, o primeiro filme dela a atrair adultos e também adolescentes, graças a um roteiro inteligente de Tina Fey, e virou a apresentadora mais jovem de todos os tempos do evento MTV Movie Awards.

Apesar dos boatos de implante nos seios, algo nela parece muito mais verdadeiro do que em suas contemporâneas. Meninas Malvadas frequentemente é comparado a Atração Mortal, o filme que lançou Winona Ryder ao estrelato, e, como ela, Lindsay consegue parecer linda sem dar a impressão de ser um vaso oco. Na vida real, ela está disposta a falar mal da estrela adolescente rival Hilary Duff, e não escondeu o fato de que gostava de baladas. Tudo isso a tornou o objeto favorito de vigília de paparazzi e da comunidade de pervertidos na internet. Atualmente, se ela usa um vestido decotado e comete o erro de, por exemplo, se inclinar para sair de um carro, fotos ampliadas de seu decote serão analisadas meticulosamente como se fossem o filme do assassinato de John F. Kennedy.

Para continuar a comparação com Winona Ryder, Lindsay também é o que chamamos tecnicamente de “menina má”. Já namorou um astro do rock (bom, não exatamente do rock – era o cantor pop Aaron Carter), mas o que realmente a torna má é o fato de que ela vai a boates em Manhattan e Los Angeles e às vezes dança em cima das mesas. Tudo isso ajudou em sua nova imagem adulta, mas pode prejudicar a velha imagem de princesa de refilmagens da Disney – uma preocupação dos empresários dela. Quando sugiro ao assessor de imprensa para irmos juntos, eu e ela, a um show, ele estoura: “Ela tem 18 anos! Não quero mais notícias sobre idas a boates”. Minha sugestão seguinte – uma exposição de cadáveres no California Science Center – é saudada com um suspiro audível.

Então, em vez disso, nós nos encontramos no hotel Four Seasons, em Beverly Hills. Quando Lindsay aparece, está bebendo uma lata de refrigerante 7 Up e usando uma regata branca com fitas, jeans rasgados que mostram os dois joelhos e uma parte considerável da coxa direita e sandálias aparentemente caras decoradas com pedras. O cabelo está tingido em um tom castanho escuro. Meu primeiro pensamento é: deveríamos estar na praça de alimentação de um shopping.


É uma época movimentada para Lindsay. Além de fazer 18 anos, seu single “I Decide” aparece na trilha sonora de O Diário da Princesa, e ela começou a trabalhar em seu álbum de estreia, a ser lançado pela Casablanca Records, de Tommy Mottola (que nutriu o começo da carreira da ex-mulher Mariah Carey e de Jennifer Lopez). Também está se preparando para rodar um novo filme e tentando se adaptar à vida de garota quente do momento. Houve notícias de baladas e, pior, inúmeras matérias sobre diversos problemas com a lei de seu pai, Michael Lohan. Mais recentemente, ele deveria ter comparecido a um tribunal em Long Island depois de supostamente ter espancado o cunhado em uma festa de família, só que, antes do julgamento, foi preso sob outra acusação: ter dado um calote de quase US$ 4 mil em um hotel.

Apesar de tudo isso, Lindsay está animada e aparentemente inabalável. Embora pareça ter mais de 18 anos, age basicamente de acordo com sua idade, constantemente mexendo no cabelo e ocasionalmente contando bobagens como “Michael Jackson apareceu no meu sonho esta noite! Estávamos em uma boate, ele veio até mim e disse: ‘Oi, sou Michael! Prazer em te conhecer, sou um grande fã!’”

Ela ainda não tem carteira de motorista, mas virou craque em fugir de fotógrafos, que agora reconhecem seu carro e os de seus amigos. “Cinco carros de paparazzi me perseguiram ontem”, conta, inclinando-se, os olhos arregalando ao lembrar.

Mesmo assim, Lindsay pode ser tão incansavelmente positiva, que, depois de um tempo, começa a soar como uma candidata a um cargo público. Sobre o pai, afirma: “Na verdade, tem sido um tanto relaxante poder mostrar às pessoas que minha família não é perfeita”. Sobre ter idade para votar: “Não me envolvo muito com política, e não gosto de falar disso. Quer dizer, se você diz que é democrata, isso irrita os republicanos, que são metade dos meus fãs”. Ela responde a perguntas sobre sua imagem de baladeira como se estivesse falando com um oficial de condicional ou um avô extremamente crédulo. “Conheço todos os donos de boates”, afirma. “Fizemos um pacto: eles me deixam entrar e só tomo Red Bull. Se quisesse beber, simplesmente ficaria em casa com meus amigos. Não uso drogas. Nunca usei e nunca vou usar. Não preciso disso para me divertir.”

Lindsay começou a trabalhar como modelo aos 5 anos. “A agência Ford só tinha loiras de olhos azuis na época”, conta. “Eu era ruiva e sardenta, mas nunca chorei nem reclamei, como muitas das outras crianças.” A mãe dela, Dina, é uma ex-dançarina. O pai era um corretor de Wall Street que desenvolveu e, depois, vendeu uma empresa multimilionária de massas aberta pelo avô de Lindsay. Ela e os três irmãos mais novos cresceram em Cold Spring Harbor, no litoral norte de Long Island – um local privilegiado. “Eles têm um zoneamento de 8 mil m2 lá”, conta, “então nossa propriedade era enorme.” Enquanto migrava da carreira de modelo para a de atriz, tentou passar despercebida na escola. “Tinha 10 anos quando fiz Operação Cupido”, relembra. “Fiquei oito meses sem ir à escola. Quando voltei, meus amigos perguntaram ‘Aonde você foi?’ Eu respondi: ‘Tirei férias longas com minha família’. Então o filme foi lançado, e eles: ‘Ah, você está em Operação Cupido’. E eu: ‘Ah é, fiz este filme quando estávamos de férias’.”

Por volta dessa época, o pai de Lindsay foi enviado para a penitenciária federal por fraude em ações e ficou preso por quatro anos. “Alguém o ferrou”, ela desdenha. “Esse tipo de coisa aconteceu com tanta gente que sei que é quase normal.”

Como seus pais lhe contaram sobre isso?

“Não contaram! Minha mãe só falava: ‘O papai está trabalhando, está longe, está ocupado’. Finalmente liguei os pontos. Falei: ‘Mãe, não sou idiota’.”


Você alguma vez se sentiu mal por sua fama ter esse efeito colateral de fazer os problemas do seu pai virarem uma grande notícia nos tabloides?

“Meu pai é adulto, vai fazer o que quiser. Não me sinto mal por ele, nem por mim. Eu consigo lidar com isso.”

Você o visitou na cadeia?

“Não quero falar sobre isso!”

Só estou perguntando porque ter um pai na cadeia seria algo dramático para qualquer pessoa, mas você só tinha 11 anos. Então, parece relevante.

“Sabe, quando meu pai fazia coisas assim, eu ficava magoada. Ao mesmo tempo, ele é o melhor pai do mundo, a pessoa mais amorosa e gentil que você pode conhecer. Meus pais estão aparando algumas arestas agora, mas estão casados há 20 anos. Vão conseguir.”

Depois que o pai foi para a cadeia, Lindsay mudou de escola, de uma mais prestigiosa no litoral norte para uma mais simples no litoral sul. Diz que preferiu a segunda, embora, no início, um grupo de garotas tenha presumido que ela fosse uma vaca porque tinha feito filmes e disseram à amiga dela que, se ela fosse a uma determinada festa, iria apanhar. Lindsay acabou conquistando-as, mas, pouco antes do ensino médio, se cansou e pediu à mãe para ser educada dentro de casa. Não tem planos de fazer faculdade no momento. Diz que interromper sua carreira agora seria bobagem, pois sabe exatamente o que quer fazer, embora, algum dia, possa considerar estudar direito do entretenimento.

Recentemente, Lindsay veio a público com a notícia de que está namorando Wilmer Valderrama, astro do seriado That 70’s Show (coincidentemente, o par ficou menos escondido depois do aniversário de Lindsay; Wilmer tem 24 anos). “Ficamos muito amigos”, ela diz. “Eu o amo de paixão, é um cara ótimo. Ficou do meu lado enfrentando todos os problemas na minha família. Vamos ver o que vai acontecer. Se virar uma relação pra valer, ele será meu primeiro namorado sério, mas não sei. Só tenho 18 anos, quero me divertir.”

Ela diz que a parte mais difícil de namorar outra pessoa famosa não é a maior atenção da mídia em suas saídas, mas a maior atenção que outras garotas prestam no namorado dela. “É difícil quando saímos”, Lindsay reclama. “Elas o paqueram bem na minha cara. Já sou insegura, e há muitas meninas lindas em Los Angeles. Isso faz eu me sentir mal.”

Quanto à briga com Hilary Duff, aparentemente ainda está forte, com a equipe de Hilary ligando recentemente para a de Lindsay para deixar claro que esta não foi convidada para a estreia do último filme de Hilary, A Nova Cinderela. Lindsay, por sua vez, não se rebaixa, a não ser que as coisas tomem uma proporção tipo Biggie e Tupac e o Blackberry coberto de purpurina de alguém acabe destruído sob uma bota Ugg. “A música dela é legal”, diz. “Só que essa não é a direção que estou tomando agora.”


Como a exposição de cadáveres foi recusada, decidimos ir às compras na Rodeo Drive. Como praticamente tudo o que Lindsay faz atualmente, a saída é relacionada ao trabalho – ela será acompanhada pelo responsável pelo figurino de seu próximo filme, Herbie: Meu Fusca Turbinado, uma refilmagem de Se meu Fusca Falasse, da Disney.

Nossa primeira parada é a Barneys, onde uma montanha de roupas para Lindsay aprovar foi empilhada no provador. Um dos membros da equipe de figurino segura uma regata Daytona Beach desenhada para parecer uma camiseta barata se você a comprasse na Flórida. “Gosto dela porque é real”, diz. Lindsay concorda. “Talvez eu possa usar camisetas vintage da Disney.” Todos amam a ideia.

De volta ao carro, a assistente de Lindsay lhe entrega um bloco amarelo de anotações com a palavra “lista” escrita no topo. É a lista de convidados para sua festa de 18 anos, que vai acontecer uma semana depois disso. “Serão só alguns amigos mais chegados”, ela tinha me dito. “Vamos jantar e, depois, não sei. Provavelmente todos estarão cansados e voltaremos para casa.” Quando ela devolve o bloco para a assistente, vejo o nome de Nicky Hilton e Tara Reid.

“Quem é Jessica?” pergunta a assistente. “Você quer dizer Jessica Biel?”

“Não, a minha amiga Jessica”, Lindsay responde.

“Qual é o sobrenome dela?”, pergunta a assistente.

“Ahn...” Lindsay pensa. “Não sei”. Ela ri. “Eu não sei o sobrenome da minha amiga!”

Voltamos ao Four Seasons. Lindsay tem de ir ao estúdio de gravação e não posso ir com ela. Mottola declarou que as sessões serão estritamente fechadas. Ela me diz que quer que o disco soe como o mais recente de Janet Jackson e que coescreveu sua primeira música na semana passada. Será sobre sair à noite e ser perseguida por paparazzi.

A longo prazo, Lindsay espera seguir os mesmos passos da ex-estrela da Disney Jodie Foster. Está considerando um roteiro no qual sua personagem fica bêbada em uma festa, transa, fica grávida e acaba fazendo um aborto.

O que acha da forma como as garotas na cultura pop de hoje – como Britney Spears e Christina Aguilera e agora você – têm de fazer essa transição de estrela infantil para símbolo sexual?

“Quer dizer crescer em público? É estranho, mas é algo que tem de acontecer.”

Não só crescer, mas se tornar um objeto sexual.

“Não penso em mim como um símbolo sexual. É esquisito as pessoas me chamarem disso.”

Só que você também parece ser menos tímida do que, digamos, Britney Spears, que aparece nua nas capas de revistas, mas insiste que não está usando o sexo para vender mais discos.

“Quer dizer, admiro símbolos sexuais: Madonna, Marilyn Monroe. Então, não me incomoda se as pessoas me chamam disso.” “Fico um pouco preocupada às vezes com as coisas que são escritas a meu respeito”, Lindsay havia me dito antes. “Às vezes, há coisas pessoais minhas nos jornais. Começo a pensar: ‘Qual dos meus amigos está falando besteira de mim?’” Uma ex-amiga de Lindsay já vendeu o que ela afirma ser uma história falsa para os tabloides. “Dei uma batida leve no meu carro em plena luz do dia”, conta. “O outro motorista bateu em mim. E a notícia que saiu fez parecer que eu estava na balada. Quase não consegui fazer Herbie por causa disso.”

“As pessoas nesta indústria te levantam, depois tentam te derrubar”, diz, já soando como uma desgostosa veterana do show business – o que, se pensarmos bem, ela é. “Elas escrevem o que querem. Você só tem de ser você mesma.” Ela enrola uma mecha do cabelo tingido. “E, se as pessoas não gostarem, dane-se.”