No aniversário de 30 anos de Ten, o maior álbum do Pearl Jam, relembre a reportagem que revela o lado obscuro do vocalista
Celebrando os 15 anos da Rolling Stone no Brasil, resgatamos as melhores reportagens publicadas na história da revista desde 2006. Esta semana, é hora de relembrar o Pearl Jam, cujo primeiro álbum, o multiplatinado Ten, foi lançado em 27 de agosto de 1991, há exatos 30 anos. Coincidência ou não, a data também marca os 25 anos do lançamento de No Code, o quarto disco da banda, de 1996.
No texto a seguir, originalmente publicado na edição 748 da RS EUA [novembro de 1996] e republicada na edição 62 [novembro de 2011] da Rolling Stone Brasil, o colaborador John Colapinto (auxiliado pela reportagem de Eric Boehlert e Matt Hendrickson) traçou um perfil nada positivo do vocalista e líder Eddie Vedder, enfatizando suas múltiplas questões e contradições. Descrito como mais calculista e menos espontâneo do que dava a entender, Vedder também parece pouco à vontade na condição de porta-voz de uma geração, além de cada vez mais aborrecido com a fama.
Vale acrescentar que nem Vedder nem os outros integrantes concederam entrevistas para a matéria, o que só aumenta a sensação de que o objetivo da Rolling Stone talvez fosse mesmo desagradar o Pearl Jam e seus fãs — algo que a revista provavelmente conseguiu.
–Pablo Miyazawa, ex-editor-chefe da RS Brasil
É 14 de setembro de 1996, e o Pearl Jam se prepara para a turnê mundial do novo álbum, No Code. Tendo professado há muito tempo seu desdém pelo estrelato, o vocalista Eddie Vedder encara uma plateia de 800 pessoas – um público do qual jornalistas, fotógrafos e parasitas da indústria foram barrados. Tirando as parcas datas de shows em 1995, o Pearl Jam não sai em turnê há mais de dois anos. “Já ouviram o álbum novo?”, ele pergunta. Os aplausos são esparsos. “Bem, vocês estão prestes a ouvi-lo de novo.”
Com isso, o Pearl Jam engata em “Sometimes”, a balada frágil que abre No Code. “Seek my part” (“Procuro meu papel”), canta Vedder, botando os versos para fora em uma voz arranhada. O começo calmo confunde a plateia. Mesmo quando parte para “Hail, Hail”, a banda parece determinada a minar o embalo urgente da música. O baixista Jeff Ament, famoso por seus saltos voadores, permanece parado. O guitarrista Mike McCready tenta umas poucas acrobacias, mas, dada a falta de resposta dos parceiros, também se afunda em um torpor melancólico. Stone Gossard trabalha em sua guitarra com a empolgação de um homem cavando uma vala. E o baterista Jack Irons mantém um ritmo constante, embora apático.
E temos Vedder. Plantado ao microfone, ele canta com uma displicência que beira o desprezo. “Esta é a parte que chamamos de jukebox humana”, ele anuncia antes de mergulhar nas faixas preferidas do público. “Even Flow”, “Alive” e “Whipping” soam como os esforços sem graça de uma banda cover. “Bem”, ele diz, antes de deixar o palco, “isso quase valeu sair de casa”. Mais tarde, Vedder parece ter dificuldades para encontrar razões para sair de casa. Enquanto os quatro membros do Pearl Jam são vistos na noite de Seattle, encontrar o cantor é cada vez mais raro. Evitando entrevistas e recusando-se a fazer clipes, ele mantém uma conduta discreta. Temendo ameaças de morte e perseguido pelos fãs, nas raras ocasiões em que conversa com repórteres, ele usa a oportunidade para se lamentar sobre o peso da fama e do sucesso.
O Pearl Jam sempre foi descrito por seus membros como uma democracia onde os cinco formam um consenso. Mas fontes próximas dizem que Vedder é o líder inquestionável e que enquanto todos contribuem artisticamente, é o vocalista quem traça as cruzadas anti-indústria-do-rock do grupo. “Os outros o procuram para tomar as decisões”, confirma uma fonte dentro da gravadora Epic. “Todos opinam, mas é Eddie quem indica o caminho.” Esse poder ficou claro em 1994, quando o baterista Dave Abbruzzese foi abruptamente demitido da banda. “Dave era muito estrela”, diz uma fonte. “Ele dava entrevistas de capa para revistas sobre bateria. Ele estava feliz, realizando seu sonho. Isso incomodava o Eddie pra caralho.”
Desde o começo, Vedder anunciava ser um tipo diferente de astro do rock. Ele resistiria às tentações de poder, riqueza e ego. A ênfase, ele disse, precisa ser a música. Parecia ser o garoto-propaganda perfeito para a revoltada geração grunge: um rebelde raivoso cujos versos agonizantes e seu jeito rancoroso de cantar floresceram de uma infância infeliz e uma adolescência alienada. Em entrevistas que concedeu à Rolling Stone em 1993, o vocalista moldou seu mito como estrela relutante – um desistente do Ensino Médio transformado em surfista cuja ascensão de uma origem humilde aconteceu quase contra sua vontade. Mas, de acordo com quem conheceu Vedder antes da fama, a ascensão teve pouco a ver com acaso. De acordo com testemunhos, a trajetória dele foi um esforço orquestrado, motivado por seu gosto pela autodramatização, sua inesgotável vontade de ser ouvido e uma ferrenha determinação de controlar sua imagem pública.
Ele era muito popular", relembra uma amiga de infância. "Sempre fazia o que podia para ser legal com todo mundo."
Ele nasceu Edward Louis Severson III, em 1964, em Evanston (Illinois), filho de um pai músico que se divorciou da esposa antes que Vedder completasse 2 anos. Foi criado acreditando que seu padrasto era seu pai e que os três filhos de sua mãe com o novo marido eram seus irmãos. Vedder foi, por duas décadas, conhecido como Eddie Mueller. Em uma entrevista oito dias após o suicídio de Kurt Cobain, Vedder falou sobre sua própria natureza depressiva, descrevendo como os pensamentos sobre suicídio o visitavam em sua adolescência “com tanta frequência quanto as refeições do dia... eu estava totalmente sozinho – exceto pela música”. Recusando-se sequer a citar o nome de sua escola ou discutir sobre seus colegas, ele disse: “Eles não me tratavam bem”. Mas os amigos da San Dieguito High School, que Vedder frequentou depois que a família migrou para São Diego no meio dos anos 70, pintam um quadro diferente. “Ele era muito popular”, relembra Annette Szymanski-Gomez, uma amiga que estava uma série à frente de Vedder. “Sempre fazia o que podia para ser legal com todo mundo.” Outra colega concorda: “Ele era muito bacana. Não entendo essa coisa sobre ser amargurado. Era bem fofo”.
Embora fosse conhecido pelo talento musical, a identidade principal era como a estrela dramática da escola. Seu começo como ator foi no coral, e logo foi promovido a papéis principais. “Ele era um ator maravilhoso”, diz um ex-colega da aula de teatro. “Seu ídolo era Dustin Hoffman.” Mas, se os anos escolares de Eddie Mueller foram menos tristes do que ele afirma, há poucas dúvidas de que o rapaz sofreu um golpe emocional em seu último ano, quando a então namorada Liz Gumble terminou com ele. Amigos recordam que Vedder ficou inconsolável. “As coisas desabaram”, diz um amigo. Mueller deixou a escola antes de se formar e mudou-se para a região de Chicago com a família. Ele ainda viria a completar os estudos futuramente. Foi também nessa época que Eddie Mueller adotou o nome de solteira de sua mãe e tornou-se Eddie Vedder.
Mesmo que a música do Pearl Jam seja associada à cena de Seattle e à explosão do grunge, as raízes musicais de Eddie Vedder vêm da idílica comunidade litorânea de La Mesa, em São Diego, para onde ele se mudou em 1984. Na época, as aspirações teatrais de Vedder já haviam sido suplantadas por suas ambições como cantor e compositor, tornando-se presença constante em shows, em que aparecia com um gravador, montando uma coleção de gravações piratas. Trabalhando como segurança de hotel e frentista, escreveu músicas enquanto trabalhava no turno da noite, mas só foi demonstrar seus talentos publicamente no fim de 1986, quando respondeu a um anúncio de jornal: a banda Bad Radio procurava um vocalista. Três vocalistas fizeram testes, mas só depois que Vedder arrematou o cargo é que seus colegas descobriram que ele tinha um acervo de músicas prontas. “Piramos com isso”, lembra o baixista Dave Silva.
Se Vedder era o ponto focal da banda no palco, era também fora dele. Embora contratado como o vocalista, ele rapidamente tomou para si as rédeas do projeto, tornando-se não só o principal compositor, mas empresário e promotor. Vedder era incansável em sua tarefa. Sua base de operações era o Bacchanal, uma casa noturna para bandas alternativas emergentes tocarem, onde Vedder era presença constante. O então gerente do clube, Billy Buhrkuhl, relembra: “Ele ficava de roadie, de ajudante. Sabia que queria estar no ramo da música e estava focado no objetivo que queria alcançar... Ele me perguntava sobre contratos, sobre qual é o melhor modo para assinar com uma gravadora, como encontrar um agente”. Vedder trabalhou duro para estabelecer o Bad Radio como uma banda com consciência social. Fechou datas em shows beneficentes, incluindo um da Anistia Internacional local e outro para levantar fundos para a preservação das florestas. E Vedder tinha uma música para cada ocasião. Um vídeo de um show do Bad Radio mostra o cantor anunciando do palco: “Aqui tem uma de que eu gosto. Esta é sobre os desabrigados”.
No fim de 1989, três anos depois de responder ao anúncio do Bad Radio, Vedder convidou o amigo russo Valery Saifudinov para um show no Bacchanal. “Depois estávamos numa festa”, ele relembra. “Ele disse: ‘Estou deixando a banda. Preciso seguir em frente. Estou tentando prosseguir e fazer as coisas acontecerem’.” A parada seguinte de Vedder foi Los Angeles, onde ele conseguiu se colocar no epicentro da indústria musical da Costa Oeste. Ironicamente, seu destino – e todo o futuro do rock nos anos 90 – estava tomando forma a centenas de quilômetros ao norte, em Seattle.
Cinco anos antes, a “cena” de Seattle era só um punhado de bandas unidas que tocavam em galpões e nos fundos de bares. Entre esses grupos estava o Green River, que contava com Stone Gossard e Jeff Ament, que não faziam questão de esconder suas aspirações comerciais. Já o vocalista Mark Arm, que mais tarde cantaria no Mudhoney, não escondia seu desgosto com o mainstream. “Éramos cinco caras diferentes tocando coisas diferentes”, relembra Arm. “Funcionou por um tempo, e depois não rolou mais.” Quando parou de funcionar, Gossard e Ament saíram e formaram o Mother Love Bone, prontamente contratado pela PolyGram.
Mas, em março de 1990, poucos meses antes do lançamento do álbum de estreia, o vocalista Andrew Wood morreu, vítima de uma overdose acidental de heroína. Gossard e Ament se mexeram para formar uma nova banda, recrutando o guitarrista Mike McCready, que tocava na banda Shadow. Com Matt Cameron, baterista do Soundgarden, ocupando provisoriamente o posto, o proto-Pearl Jam gravou um punhado de faixas construídas com base nos riffs de Gossard. Mas faltavam os vocais. Para preencher a vaga, a banda recorreu a Jack Irons, que sugeriu um certo vocalista que havia conhecido anos antes em São Diego.
Vedder declarou que compor os versos e melodias para as demos de Gossard marcou um ponto de virada em sua vida, tanto criativa quanto pessoal. “Comecei a lidar com algumas coisas com que ainda não havia lidado”, Vedder disse em 1991. “Eram músicas ótimas – e extraíam coisas de dentro de mim que ainda não haviam vindo à tona.” As coisas com as quais ele “não havia lidado” eram eventos que remetiam ao dia em que sua mãe revelou a ele que o homem que ele havia conhecido como um amigo da família era, na verdade, seu pai biológico – um homem de quem Vedder se recordava vagamente como uma vítima de esclerose múltipla (e que morreu quando ele tinha 13 anos). Mais tarde, enquanto surfava, os versos vieram. Vedder correu de volta para o apartamento da então namorada (mais tarde esposa) Beth Liebling, onde gravou seu vocal sobre a música, deu a ela o título de “Alive” e mandou a fita, com duas outras músicas, para Seattle.
Antes de voar de São Diego para seu primeiro encontro com os futuros membros do Pearl Jam, Vedder só pediu que não perdessem tempo. Do aeroporto, o grupo foi direto para o estúdio. Em cinco dias, compuseram 11 músicas. No sexto, a banda fez seu primeiro show em Seattle, sob o nome de Mookie Blaylock, dado em homenagem a um jogador de basquete do New Jersey Nets (o nome mudou para Pearl Jam quando o atleta reclamou). Vedder foi igualmente intenso em suas primeiras reuniões com os executivos da Epic. “Quando o conheci, havia algo diferente nele”, diz uma fonte que o conheceu na gravadora. “Ele era enigmático e carismático.” Na primeira reunião, Vedder falou pouco e não tirou os olhos do próprio colo, passando a impressão de uma pessoa “ingênua a respeito da indústria”, de acordo com um confidente de longa data de Vedder na Epic, que ficou chocado ao saber do passado do vocalista na cena musical de São Diego. “Se estávamos sendo enganados”, a fonte diz, “Fui enganado como todo mundo”.
Ten, lançado em agosto de 1991, passou quase despercebido nas listas de mais vendidos. Um mês mais tarde, o Nirvana lançou Nevermind, e, em janeiro de 1992, o álbum chegou à posição número 1, dando início à era dos roqueiros alternativos. O Pearl Jam logo foi carregado junto na mania que surgiu por tudo que vinha de Seattle.
Desde o começo, o Pearl Jam foi perseguido por céticos que viam a banda como pouco mais que uma versão mais fofa do anárquico Nirvana. Vedder, talvez como uma reação às críticas, parecia decidido a provar sua genuinidade alternativa. Em 1992, instituiu em manter uma série de promoções para manter uma conexão estreita com o público: shows apenas para o fã-clube do grupo, versões em vinil dos álbuns lançadas uma semana antes dos CDs e ingressos com preços moderados. Para Vedder, mudar a indústria significou colocar a si e sua banda em oposição a ela. Evitando os meios tradicionais de marketing em massa, ele instaurou um veto a videoclipes e restringiu drasticamente o acesso da imprensa.
Vedder ficou furioso, por exemplo, quando uma revista adolescente publicou fotos desatualizadas, para as quais ele havia posado um ano antes. Ele se revoltou quando a MTV colocou “Jeremy” no ar quase ininterruptamente, roubando o poder emocional da música – um fato que contribuiu para seu veto aos clipes. Para uma geração que vê com suspeita a propaganda e o hype, as proibições de Vedder funcionaram como a tática promocional anticomercial perfeita. Em 1993, o álbum Vs. alcançou 950 mil cópias vendidas na primeira semana. Em 1994, o Pearl Jam lançou Vitalogy, que vendeu impressionantes 877 mil cópias na semana de estreia. E então veio a Ticketmaster.
Talvez empolgado com o sucesso do Pearl Jam em sua missão de reescrever as regras da indústria, Vedder pode ter acreditado que mudar a indústria dos ingressos era algo que estava dentro do seu alcance. Hoje, a briga com a Ticketmaster representa a derrota mais pública da banda – e um exemplo de Vedder tentando fazer mais do que é capaz. As sementes da rixa com a empresa foram plantadas no início de 1992, quando o Pearl Jam tocou em um show beneficente em Seattle e exigiu que a gigante dos ingressos doasse para a caridade 1 dólar da taxa de serviço que a empresa acrescenta a cada ingresso vendido. A agência concordou e adicionou 1 dólar extra no preço de cada entrada. De acordo com uma fonte, Vedder ficou furioso pela traição e começou a falar da Ticketmaster “incessantemente”.
Na turnê de Vitalogy, o Pearl Jam tentou se virar sem a empresa, mas não conseguiu encontrar casas para tocar que não tivessem acordo de exclusividade na venda de ingressos com a Ticketmaster. A turnê foi cancelada – e a batalha do Pearl Jam entrou em um ritmo acelerado. Em maio de 1994, a banda entrou com uma investigação no Departamento de Justiça sobre o suposto monopólio da Ticketmaster. Com a inexperiente empresa de ingressos ETM no comando, o Pearl Jam seguiu com sua turnê de verão de 1995, que começou a se esfacelar desde o primeiro dia. A abertura em 16 de junho, em Boise (Idaho), teve de ser cancelada – o local, administrado pelo estado, requeria uma aprovação do governo para usar um meio alternativo de sistema de ingressos – e mudou para Casper (Wyoming). Após uma série de problemas e discussões, o empresário da banda, Kelly Curtis, anunciou que a banda excursionaria, se necessário, com a Ticketmaster. Dias mais tarde, um inflamado Vedder ligou para uma rádio e passou por cima de seu empresário. “Se no fim das contas não houver um jeito de excursionar sem a Ticketmaster, então simplesmente iremos para nossas casas fazer nossos discos”, ele disse.
O golpe final veio quando a investigação federal antitruste da Ticketmaster foi arquivada. Vedder nunca comentou a derrota publicamente. Mas sintomas de uma nova desilusão eram aparentes. Em fevereiro de 1996, o Pearl Jam fez sua primeira aparição na TV em dois anos, no Grammy. Depois de ganhar a primeira estatueta da noite, Vedder aproveitou para resmungar que a honraria “não significa nada”. Para alguns espectadores, pareceu mais um estereotipado capricho típico de um rock star. O gerente do Bacchanal, Billy Buhrkuhl, assistiu à cerimônia e não reconheceu o vocalista que havia conhecido em São Diego dez anos antes: “Nos velhos tempos, Eddie era grato por tudo”.
Os velhos amigos de Vedder não foram os únicos desapontados pelas cruzadas do Pearl Jam contra a própria popularidade. A impaciência dos fãs com a quase invisibilidade da banda tem afetado as vendas. Lançado em setembro, No Code estreou na posição número 1, mas depois de dois meses já havia caído fora do Top 20. É também um destino diabolicamente irônico para um disco que é um dos melhores e mais maduros da banda até hoje. Mas há evidências que sugerem que Vedder está procurando suporte, revisitando seu passado pré-Pearl Jam e reafirmando suas velhas amizades.
Em 1995, ele apareceu inesperadamente no funeral de seu velho professor de teatro, Clayton Liggett. Depois da cerimônia, juntou-se aos velhos colegas na casa do ex-professor. Ultimamente, ele tem aparecido de surpresa para falar com velhos conhecidos de São Diego, que ainda acham que Vedder é o amigo “simples” daquela época. “Ele queria ir ao parque jogar bola e tomar umas cervejas”, disse um deles. “Foi bem estranho, porque foi como se ele nunca tivesse ido embora.” Aparentemente, o sentimento de Vedder é diferente. “[Quando] saio com pessoas de quem senti saudade”, ele disse certa vez, “e de quem já fui amigo, com quem estou ansioso por dividir momentos como costumávamos fazer... sinto como se eu fosse uma criança sendo comida por cães selvagens. Estou em conflito”.
Encurralado por sua fama, alienado de seu passado, o único lugar onde Vedder parece não estar em conflito é frente aos fãs que o adoram. É 16 de setembro de 1996, duas noites depois da letárgica abertura da turnê em Seattle, e o grupo está tocando no Key Arena, uma propriedade da Ticketmaster onde a banda concordou em se apresentar com a condição de que a renda fosse doada para a caridade. Graças ao complicado sistema “alternativo” de ingressos, o público teve de passar uma hora do lado de fora do local, enquanto os 16 mil ingressos eram passados através de um leitor de código de barra. Do lado de dentro, as coisas não foram melhores. De cabeça baixa, a banda espremeu as músicas do set list de modo automático e sem prazer, enquanto Vedder repetidamente estendia seus braços em uma pose que remete à crucificação de Cristo.
Ele parecia determinado a frustrar seus fãs, drenando a energia do show com discursos sérios. Logo, a música começou a parecer uma trilha de fundo para as falas do vocalista. Isso até a parte final, quando o Pearl Jam engatou em “Alive”. Enquanto as guitarras surgiam, um rapaz de camisa de flanela tentou subir no palco. Vedder arrancou o garoto das mãos dos seguranças e o puxou para cima do palco, onde o fã se sentou. E então se jogou para trás, de costas. Vedder se agachou e direcionou a música para o fã deitado de braços abertos, como uma águia. “Você ainda está vivo!”, Vedder cantou. A banda acelerou, enquanto o fã se levantou e correu para a beira do palco, jogando-se sobre a plateia. A multidão rugiu, e, pela primeira vez em mais de um ano, a banda e Vedder tocaram em perfeita sincronia, com vontade, trocando sorrisos.
Viva.