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Coração Melódico

O adeus a Gregg Allman, que, ao lado do irmão, Duane, no The Allman Brothers, ajudou a formatar o southern rock

Richard Gehr Publicado em 21/06/2017, às 17h47 - Atualizado às 18h16

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<b>Um Mestre</b><br>
Gregg Allman em carreira solo nos anos 1980 - Gary Gershoff/ Mediapunch/ IPX/ AP
<b>Um Mestre</b><br> Gregg Allman em carreira solo nos anos 1980 - Gary Gershoff/ Mediapunch/ IPX/ AP

Embora alegasse que o termo Southern rock era redundante, o compositor, vocalista, guitarrista e tecladista Gregg Allman ajudou a criar o primeiro grande grupo do gênero, como cofundador da lendária The Allman Brothers Band junto ao irmão mais velho, o famoso guitarrista Duane Allman. Gregg morreu aos 69 anos de complicações de um câncer de fígado, em 27 de maio.

O Allman Brothers fundiu country, blues e improvisação, criando um modelo para inúmeras bandas que vieram mais tarde. Gregg Allman foi abençoado com uma das melhores vozes rosnadas do blues rock, que, aliada a seu órgão Hammond B-3, tinha um poder emocional profundo. Como relembrou em sua autobiografia, My Cross to Bear, de 2012, ele também teve uma trajetória trágica de astro do rock, incluindo fama repentina e uso excessivo de drogas.

Gregory LeNoir Allman nasceu em 8 de dezembro de 1947 em Nashville, Tennessee, pouco mais de um ano depois do irmão Duane. O pai dos garotos, o capitão do Exército Willis Turner Allman, foi morto a tiros por um conhecido de bebedeira logo depois que a família se mudou para Norfolk, Virgínia, em 1949. Na infância, Gregg economizou o dinheiro que ganhava como entregador de jornal e comprou uma guitarra, que logo foi apropriada por Duane. Depois de se mudarem para Daytona Beach, Flórida, Duane convidou o irmão para entrar em uma banda que tinha integrantes negros, a The House Rockers, o que chocou a mãe deles. “Tivemos de fazer a minha mãe gostar dos negros”, Gregg contou ao adolescente Cameron Crowe em uma matéria de capa para a Rolling Stone em 1973, que inspirou o filme Quase Famosos (2000), escrito e dirigido por Crowe.

Depois de tocarem em grupos como The Untils e The Shufflers, os irmãos levaram a banda deles, a Allman Joys, para a estrada em meados de 1965. Frequentemente, faziam seis shows por noite, sete dias por semana. Acabaram se mudando para Los Angeles depois que Gregg deu um tiro no próprio pé para evitar o alistamento militar. Em março de 1969, em Jacksonville, na Flórida, formaram a primeira encarnação da The Allman Brothers Band, ao lado de Dickey Betts (guitarra), Berry Oakley (baixo), Butch Trucks (bateria) e Jai Johanny “Jaimoe” Johanson (bateria e percussão).

Além de ser o principal vocalista do grupo e compositor das clássicas “Whipping Post” e “Don’t’Keep Me Wonderin’”, Gregg e seus longos cabelos loiros também serviram de foco visual. A banda teve um sucesso meteórico com os álbuns Live at the Fillmore East (1971) e Eat a Peach (1972). Entre os lançamentos, Duane Allman morreu tragicamente em um acidente de moto, aos 24 anos, e, um ano depois, Oakley se foi de forma assustadoramente parecida.

Em 1973, Gregg gravou a estreia solo, Laid Back. O sucesso com a crítica, o turbulento casamento com a superestrela do pop Cher em 1975 e o forte apreço dos integrantes por drogas levaram à dissolução do Allman Brothers depois da gravação do decepcionante álbum Win, Lose or Draw (1975). Ele continuou lançando discos solo durante os anos 1970 e 1980, mas só voltou mesmo aos holofotes com I’m No Angel (1986) e, três anos depois, com uma versão reformulada da The Allman Brothers Band.

Em 2007, o artista – um alcoólatra assumido, que consumiu doses altíssimas de álcool nos anos 1980 e 1990 – foi diagnosticado com hepatite C, que atribuiu a uma agulha de tatuagem contaminada, e recebeu um transplante de fígado. Ele continuou fazendo turnês com o Allman Brothers até a banda fazer seu último show oficial em Nova York, em outubro de 2014. Um representante dele confirmou que um novo álbum solo, Southern Blood, produzido por Don Was, será lançado em setembro.

“Quando tudo acabar, irei para minha sepultura e meu irmão me receberá dizendo: ‘Bom trabalho, maninho – você se saiu bem’”, Allman escreveu nas últimas linhas de My Cross to Bear. “Devo ter dito isso 1 milhão de vezes, mas, se morresse hoje, já teria tido minha dose de diversão. Não trocaria [minha vida] pela de ninguém, mas não sei se a viveria de novo. Se alguém me oferecesse uma segunda rodada, acho que teria de recusar.”